29.12.12

Pequeno glossário do século XXI

austeridade = pau no pobre
domínio do fato = apodreçam na cadeia, seus malditos petistas!
ensaio sensual = só aparecem, no máximo, os peitos
excesso de veículos = falta de metrô
família = dois ou mais votos
mma = vale-tudo, pra valer
pet = cachorro, gato, papagaio etc., pôrra!
ponto de alagamento = rua cheia de merda
praia imprópria para banho = praia cheia de merda

sustentabilidade = hahahahahaha

1.12.12

Toda vez que ouço falar em "mineiridade", "baianidade" ou "brasilidade", sinto vontade de sacar minha goianidão.

9.11.12

Isso posto, só tenho uma cousa a acrescentar: entra Umbabaraúma, sale Ouktomanauebah.


"Continuei a folhear a parte escrita do livro e logo a coluna Origem fascinou-me e nela comecei a viajar prodigiosamente na toponímia das gerais. Havia cidades de nomes escuros como tocas, noturnos antros, poço – Aiuruoca, Itaúna, Mutum; outras, tinham-nos de desolação partida adeus e descampado – Abre Campo, Além Paraíba, Bonfim, os dois Carmos (de Parnaíba e do Rio Claro), as duas Dores (do Indaiá e da Boa Esperança); de degredo, perigo e desterro – Extrema, Serro, Monte Carmelo, Tremedal, Passa Tempo; de preciosidades secas, estreladas de pedrarias – diamante do Abaeté, Grão Mogol, Estrela do Sul, Lavras, Diamantina, Minas Novas; das riquezas do metal diabólico – Vila Rica, Ouro Preto, Ouro Fino, Cocais; das espirais de conchas cheias de eco no bojo recurvo – Caracol, outra vez Aiuruoca, Guaranésia, Jequitinhonha, Manhuaçu, Paraopeba, Pirapora, Cataguases, Guanhães; das alegrias sonorosas, promissoras de noites mineiras de lua, violões, cachaça e canções – Campista, Frutal, Palma, Prados, Oliveira, Minas Novas, Sete Lagoas; de dura agressividade – de novo Pirapora, Rio Casca, Itapecerica, Carangola, Três Pontas. Lindas de nome, de nomes peito aberto, sugestivos de figuras maternais ou dos vultos das amadas – Palmira, Leopoldina, Mariana, Januária, Patrocínio, Bárbara, Luzia, Quitéria, Rita e Conceição. Os achados que eu ia fazendo me encantavam e vi que meu trabalho marcharia inseparável da poesia geográfica da minha Minas." (Pedro Nava)

7.11.12

Sempre que leio velhos intelectuais relembrando os velhos tempos de universidade, quando conheceram colegas célebres e/ou se deram conta pela primeira vez da injusta distribuição e/ou de sua missão intelectual neste mundo, ouço nas entrelinhas os silêncios estridentes das farras, bebedeiras e putarias omitidas. Menos nos casos do R. Schwarz e do A. Candido: esses parece que só estudaram mesmo (Oswald e Luís Martins zoavam os chatoboys da usp por só frequentarem leiterias).

5.11.12

O que acho mais genial na política de cotas para alunos de escolas públicas é que muito mauricinho patricinha vai começar a pensar em se transferir para uma escola estadual de olho na vaga universitária. Assim, aos poucos deixando de funcionar como uma espécie de presídio semiaberto (os prédios das escolas públicas reproduzem até as grades) exclusivo dos jovens pobres (e são quase todos pretos ou quase pretos etc.), pode ser que um dia melhoremos.

15.10.12

"Todavía estudiantes en Cambridge, Robert Southey y Samuel Taylor Coleridge conciben la idea de la Pantisocracia: una sociedad comunista, libre e igualitaria, que combinaría la «inocencia de la edad patriarcal» con los «refinamientos de la Europa moderna». El tema revolucionario del comunismo libertario se enlaza así al tema religioso del restablecimiento de la inocencia original. Los dos jóvenes poetas deciden embarcarse hacia América para fundar en el nuevo continente la sociedad pantisocrática, pero Coleridge cambia de opinión cuando se entera de que Southey pretendía llevar con ellos a un criado. Años más tarde el joven Shelley, acompañado de su primera mujer, Harriette, ambos casi adolescentes, visita a Southey en su retiro del Lake District. El viejo poeta ex republicano encuentra que su joven admirador era «exactamente como yo había sido en 1794». En cambio, al contar en una carta a su amigo Thomas Hogg las impresiones de su visita, Shelley escribe: «Southey es un hombre corrompido por el mundo y contaminado por los honores y las tradiciones» (7 enero 1812)." (O. P.)

28.9.12

Warum?

"1. Os clássicos são aqueles livros dos quais, em geral, se ouve dizer: "Estou relendo ... " e nunca "Estou lendo ... ".
[...]
2. Dizem-se clássicos aqueles livros que constituem uma riqueza para quem os tenha lido e amado; mas constituem uma riqueza não menor para quem se reserva a sorte de lê-los pela primeira vez nas melhores condições para apreciá-las.
[...]
3. Os clássicos são livros que exercem uma influência particular quando se impõem como inesquecíveis e também quando se ocultam nas dobras da memória, mimetizando-se como inconsciente coletivo ou individual.
[...]
4. Toda releitura de um clássico é uma leitura de descoberta como a primeira.
[...]
5. Toda primeira leitura de um clássico é na realidade uma releitura.
[...]
A definição 4 pode ser considerada corolário desta:
6. Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo
que tinha para dizer.
Ao passo que a definição 5 remete para uma formulação mais explicativa, como:
7. Os clássicos são aqueles livros que chegam até nós trazendo consigo as marcas das leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços que deixaram na cultura ou nas culturas que atravessaram (ou mais simplesmente na linguagem ou nos costumes).
[...]
8. Um clássico é uma obra que provoca incessantemente uma nuvem de discursos críticos sobre si, mas continuamente as repele para longe.
[...]
9. Os clássicos são livros que, quanto mais pensamos conhecer por ouvir dizer, quando são lidos de fato mais se revelam novos, inesperados, inéditos.
[...]
10. Chama-se de clássico um livro que se configura como equivalente do universo, à semelhança dos antigos talismãs.
[...]
11. O "seu" clássico é aquele que não pode ser-lhe indiferente e que serve para definir a você próprio em relação e talvez em contraste com ele.
[...]
12. Um clássico é um livro que vem antes de outros clássicos; mas quem leu antes os outros e depois lê aquele, reconhece logo o seu lugar na genealogia.
13. É clássico aquilo que tende a relegar as atualidades à posição de barulho de fundo, mas ao mesmo tempo não pode prescindir desse barulho de fundo.
[...]
14. É clássico aquilo que persiste como rumor mesmo onde predomina a atualidade mais incompatível."

(Italo Calvino)

7.8.12

Os íntimos de Machado de Assis dizem "Machado". Os de Guimarães Rosa, "Rosa". Machado x Rosa fisicamente é até covardia, mas lembro sempre do adágio de um quadrinho artesanal que mamã já teve na parede do quarto: "Sê como o sândalo, que perfuma o machado que o fere".

26.7.12

Flexuoso e vinífero

Até hoje, em todas as vezes que venho ao cerrado, o reencontro com o buriti é sempre uma pequena comoção.

21.7.12

Afinal, o ensinamento mais útil que restou de meus anos (êpa!) como engenheiro químico foi o de saber que o processamento de álcool no figueirêdo é uma reação de ordem zero. Isto é - ao contrário da maioria de todas as outras reações do universo, não está nem aí para a concentração de reagente. Etanol -> em algum momento glicose, mas a taxa não depende da quantidade bebida, é invariável, é figadal. Daí o acúmulo, o excesso, a enxúndia.

3.7.12

Nunca fui à Flip. Não pretendo ir à Flip.

23.5.12

Quando dei à minha tese o subtítulo "atlas fotográfico", somando um aspecto conspícuo do trabalho a outro, ainda não sabia que os temas dos atlas fotográficos mais frequentes nas livrarias, bibliotecas e internetes correspondem exatamente às terceiras metades da Ideia toda: anatomia humana (ou histologia, fisiologia, zoologia, botânica etc.) e astronomia (os planetas e a Via Láctea).

20.5.12

Personal Xiros

Neste maio tive uma experiência aero-marítimo-terrestre equivalente à do comissário de bordo protagonista de "A ilha do meio-dia", conto do bom e velho Julio (Todos os fogos o fogo):

"[...] quando no oval azul da janela entrou o litoral da ilha, a franja dourada da praia, as colinas que subiam em direção ao planalto desolado. Marini sorriu para a passageira, corrigindo a posição defeituosa do copo de cerveja. 'As ilhas gregas', disse. 'Oh, yes, Greece', respondeu a americana com um falso interesse. Um som breve de campainha e o comissário de bordo se ergueu, sem que o sorriso profissional se apagasse de sua boca de lábios finos. [...] A ilha era pequena e solitária, e o Egeu a cercava com um azul intenso que ressaltava a orla de um branco deslumbrante e como que petrificado, que lá embaixo seria espuma rompendo nos recifes e nas enseadas. Marini percebeu que as praias desertas corriam em direção ao norte e ao oeste, o resto eram montanhas que entravam abruptamente no mar. Uma ilha rochosa e deserta, se bem que a mancha cor de chumbo perto da praia do norte pudesse ser uma casa, talvez um grupo de casas primitivas. Começou a abrir a lata de suco e ao erguer-se a ilha desapareceu da janela: sobrou apenas o mar, um verde horizonte interminável."

Minha última viagem ao Tocantins. Já bem perto do aeroporto da chegada, aí pelas 17h, vi pela janela estas duas pequenas enseadas, banhadas de sol na margem esquerda do lago. Há tempos as cobiçava como troféus faltantes em minha carreira de ciclista-fotógrafo contemplativo - talvez sejam as únicas reentrâncias não fluviais daquele litoral interior tão fluvialmente regular. Sabia pelo mapa gúglico que lá haveria boas photo-ops.


Pouco antes das 17h daquele mesmo dia da semana na semana seguinte, e após diversas peripécias no trajeto, logrei alcançar minha personal ilha de Xiros. Surpreso - pois ainda não havia me lembrado de Cortázar -, quando tirava a fotografia abaixo ouvi, e vi,  logo acima de mim, um avião da mesma linha aérea baixando pelo rumo do pouso. Até distingui as janelinhas, bem nítidas.


E me vi me vendo. Disso, felizmente, não restou registro.

14.4.12

Glossary of Brazilian Terms

aguardente [ah.gwar.dehn'tih], literally "fire water"- same as cachaça
(q.v.)
buriti [boo.ree.tee], a mauritia or burity palm (Mauritia spp.).
caatinga [kah.teen'gah], any region of stunted vegetation, especially that found in the drought areas of northeastern Brazil.
cabra [kah'brah], bandit, ruffian; backwoods assassin; half-breed Negro.
cachaça [kah.sha'ssah], raw, white cane alcohol; called also pinga and aguardente.
capanga [kah.pahn'gah], thug, ruffian; hoodlum; hired assassin; henchman; bodyguard.
caruru [kah.roo.roo'], gumbo.
chapadão [shah.pah.dahoong], tableland, extensive plateau.
comblém [koom.blem], a type of gun of foreign make.
compadre [koom.pah'dreh], bosom friend, crony.
conto [kohn'too], one thousand milreis-about $250.00 at that time.
delegado [deh.leh.gah'doo], chief of police.
dona [doh'nah], lady, madam; also, a title equivalent to Miss or Mrs. prefixed to the Christian name: as, Dona Maria.
fazenda [fah.zehn'dah], large plantation or cattle ranch; a landed estate. (The Portuguese equivalent of Spanish hacienda.)
fazendeiro [fah.zehn.day'roo], owner of a fazenda; cattle rancher; planter.
farofa [fah.raw'fah], a dish made of manioc meal browned in grease or butter; sometimes mixed with bits of meat, crisp fat, chopped eggs, etc.
faveira [fah.vay'rah], a large leguminous tree.
gerais [zheh.rise'], high open country, vast upland plains in the backlands.
gravatá [grah.vah.tah'], any of numerous plants of the pineapple family.
jacuba [zhah.koo'bah], a drink composed of manioc meal, water, sugar or honey, and cachaça.
jagunço [zhah.goon'soo], in this book, a member of a lawless band of armed ruffians in the hire of rival politicos, who warred against each other and against the military, at the turn of the century, in northeastern Brazil. Cf. cabra and capanga.
januária [zhah.noo.ah'reeyah], a brand of cachaça (q.v.).
joão-conqo [zhoo.ah'oong kohn'goo], a large bird of the oriole family.
liso [lee'zoo], large, flat desert. Cf. raso.
milreis [meel.rays'], an old Brazilian monetary unit, equal at that time to about 25 cents.
mutuca [moo.too'kah], a kind of horse fly.
noruega [noh.roo.eh'gah], a cold, sharp wind; also, cool, damp ground sloping away from the sun.
pinga [peeng'ah], same as cachaça (q.v.).
piranha [pee.rahn'yuh], a voracious fresh-water fish: the caribe.
rapadura [rah.pah.doo'rah], raw brown sugar in hard squares, eaten as food or candy.
raso [rah'zoo], extensive tract of flat, desert land. Cf. liso.
saci [sah.see'], in Brazilian folklore, a small, one-legged, mischievous Negro, who pesters wayfarers at night or sets traps for them.
Seo, Seo, Seu, Sio = abbreviations of senhor (q.v.).
senhor [seh.nhor'], mister, sir; any gentleman. [Used in formal conversation as the equivalent of "you."]
serra [seh'rrah], sierra, mountain range.
sertão [sehr.tahoong'], hinterland, sparsely settled interior of the country; in particular, the backlands of the Brazilian Northeast. In this book, the term refers mainly to the northen half of the State of Minas Gerais.
sertanejo [sehr.tahn.ay.zhoo'], backlander; an inhabitant of the sertão.
traíra [trah.ee'rah], a voracious, fresh-water tropical fish.
vereda [veh.reh'dah], in this story, any headwaters stream smaller than a river.
zebu [zeh.boo'], humped cattle.

(Da edição gringo-ianque de GS:V, 1963, como oferenda ao sétimo ano de B.-do-U.; hurrah!)

20.3.12

Continua mui proveitosa a leitura do tratado de história literária da Picchio. Estou naquela parte em que todo mundo puxa o saco do imperador, morre de tuberculose, vira poeta escolar e enredo de escola de samba.

14.2.12

Consta que certo periódico semanal corrente entre a massa de burguesotes semiletrados baniu o emprego de caixa alta para referir-se a Estado, o conceito opressor consagrado pela ciência política comunista, deixando tudo igual a estado, mesma forma para os atuais entes da federação, o estado gasoso da matéria etc. Como é patético o fervor mercadista desses foliculários, que preferem incitar a confusão conceitual a abdicar de sua ridícula e repetitiva apologia ao liberalismo de free shop!

10.2.12

Duas providências urgentes e já tomadas sobre o restabelecimento de meu conforto "matérico-espiritual" (como já vi escrito a sério numa crítica de arte contiporânea) imediato: nova cadeira de rodinhas ("diretor") e nova afinação para o piano. O dó central, tão nosso amigo, estava de doer; assim como minhas costas na antiga cadeira dura, que agora serve para esticar as pernas. Eu envelheço, eu envelheço.

8.2.12

Como estou à espera de um concurso qualquer na área, para minimamente me preparar comecei a ler a história da literatura brasileira da Luciana Stegagno Picchio. É sem dúvida o melhor e mais informado manual da praça, além de vir numa ótima encadernação vermelha.

7.2.12

Dois sinais inequívocos de que estou mesmo restabelecido em São Paulo: mudei a cidade-padrão da consulta do Climatempo para esta capital sudestina; e trouxe comigo meu travesseiro insubstituível.
Os 24 bilhões por três aeroportos mequetrefes - um deles, o de Campinas, parece a antiga e execrável rodoviária daquela alegre cidade.
Outrora, os 4 bilhões - se tantos - pela Vale do Rio Doce inteira, jazidas eternas, milhares de quilômetros de ferrovias, portos, usinas siderúrgicas e tudo o mais, e cada vez menos, que há de metálico e não metálico por debaixo do chão. Quando morava em Minas havia até mesmo, e acho que ainda há, um glorioso time da terceira divisão que, fundado em 1942 num clube de funcionários - itabirano! -, costumava ser pronunciado "Valériodoce" pelos fans e locutores, ou, segundo os mais íntimos, "Valério"; deve ter entrado no pacote também.

3.2.12


Adopt a tree and kill a child, o my brothers.

1.2.12

Deprimido com o triunfo da extrema-direta em todos os media. O fantasma do bolchevismo internacional, a despeito do financismo triunfante, logrou funcionar como espantalho permanente para o consumo de burguesotes semiletrados. Tudo que tem face de certo modo humana e social passou a ser automaticamente considerado suspeito de crimes capitais. No entanto, campeiam os fascistas de sempre, travestidos de honestos representantes do juste-milieu. A realidade deixou de ter qualquer mínima importância, tendo sido substituída pelas seduções escandalosas da reality controlada. Quem dera ser um peixe.

26.1.12

O que houve em Rondônia?

 
E a Kátia "Pega no Meu" Abreu quer mais, muito mais.

O que houve em Pinheirinho?

Ficam ali caracterizadas as responsabilidades de quem faltou com seus deveres e recorreu à arbitrariedade
 

A ação realizada pelo governo paulista por intermédio de sua Polícia Militar em Pinheirinho, São José dos Campos, usou o nome técnico de "reintegração de posse". Algum juiz chamaria, com base no direito que aprendeu, de reintegração de posse o que houve em Pinheirinho? Ou haveria como fazê-lo com base nos artigos e princípios reunidos pela Constituição?
Se o nome técnico de reintegração de posse é insuficiente para designar a ação realizada em Pinheirinho, o que houve lá, com a utilização abusiva de um mandado judicial, ato tecnicamente legítimo de um magistrado?
O ataque foi às seis da manhã. Para surpreender, como se deu, os ocupantes da ex-propriedade de Naji Nahas ainda dormindo ou nos seus primeiros afazeres pessoais.
O governo Alckmin e o prefeito de São José dos Campos, ainda que há muito sabedores de que a reclamada reintegração exigiria a instalação das 2.000 famílias desalojadas, não incomodaram nesse sentido o seu humanitarismo de peessedebistas.
Sair para onde? -Eis o impulso da resistência dos mais inconformados ou menos subjugados pelos séculos de história social que lhes cabe representar.
Não posso dizer o que acho que devessem fazer já à primeira brutalidade covarde da polícia. Seja, porém, o que for que tenham feito, o direito de defesa está na Constituição como integrante legítimo da cidadania. E se foi utilizado, duas razões o explicam.
Uma, a ação policial de maneiras e formas não autorizadas pelo mandado de reintegração de posse, por inconciliáveis com os limites legais da ação policial.
Segunda razão, a absoluta inexistência das alternativas de moradia que o governo Alckmin e o prefeito Eduardo Cury tinham a obrigação funcional e legal de entregar aos removidos, para não expulsar, dos seus forjados tetos para o danem-se, crianças, idosos, doentes, as famílias inteiras que viviam em Pinheirinho há oito anos.
Atendidas essas duas condições, só os que perdessem o juízo prefeririam ficar na área ocupada, e alguns até resistirem à saída. Logo, ficam ali caracterizadas as responsabilidades de quem faltou com seus deveres e, por ter faltado, recorreu à arbitrariedade plena: tiros e vítimas de ferimentos, surras com cassetetes e partes de armamentos (mesmo em pessoas de mãos elevadas, indefesas e passivas, como documentado); destruição não só das moradas, mas dos bens -perdão, bem nenhum- das posses mínimas que podem ter as pessoas ainda carentes de invasões para pensar que moram em algum lugar.
O que houve em Pinheirinho, São José dos Campos, SP, não foi reintegração de posse.
Essa expressão do direito não se destina a acobertar nem disfarçar crimes. Entre eles, o de abuso de poder contra governados.
(Janio de Freitas)

22.1.12



De um excelente sítio evangélico.
Outro dia baixei um filme "pornô feminista" de uma famosa e premiada diretora sueca. Na essência, é igualzinho ao tradicional "pornô machista", mas há muito mais blablablá entre uma cena de sexo e outra - e, durante a coisa, se não é entre duas amigas, as mulheres quase sempre ficam por cima. Ademais, no final há uma cena de qualiragem entre baitolas depilados e de brinco - acho que para ressaltar o efeito de desvirilização planejado. Em suma, não vale nem meia bronha.

21.1.12

Lendo em série vários textos do Roberto Schwarz sobre Machado de Assis, entendi porque ele quase não fala de Guimarães Rosa: o materialismo dialético que serve tão bem à "viravolta" de Brás Cubas fica literalmente sem chão ao pé de um buriti fluente em Plotino.

19.1.12

Eu, hein

Esta besta página de bobices corre sério perigo. O google agora pede no login que se forneça um número de telefone celular "por razões de segurança" - de quem, não fica bem claro. Deve ser para rastrear a localização de blogueiros que dão receitas de bombas caseiras e soltar um personal missile na cabeça deles. Dei um número inventado, mas não sei por quanto tempo vão acreditar (e espero que minha vítima aleatória entenda a situação). Assim, se eu subitamente desaparecer é porque fui sequestrado por um comando SEAL e levado para alguma escola de reeducação moral e cívica no Bible Belt.

15.1.12

Eu já sabia

"Li muitos livros de cavalaria quando era menino, e, por volta dos 14 anos, entusiasmei-me com Ber­nardim (Bernardim Ri­beiro), e depois até com Camilo. Ainda continuo a gostar de Ca­milo, mas quem releio permanentemente é Eça de Queiroz (quando tenho uma gripe, faz mesmo parte da convalescença ler Os Maias); este ano já reli quase todo O crime do padre Amaro e parte da Ilustre casa de Ramires. Camilo, leio-o como quem vai visitar o avô; Eça, leio-o como quem vai visitar a amante."

JGR em entrevista a Arnaldo Saraiva, 1966

13.1.12

True grit (perdão, mas Bravura indômita soa tolo, conquanto não seja muito distante do sentido original) é o melhor faroeste a que já assisti. É verdade que não sou propriamente um veterano no gênero, mas os irmãos Coen conseguiram fazer um filme ao mesmo tempo sujo, violento, macho, sensível, comovente e sublime: grande.

11.1.12

Comecei a ler O amante de Lady Chatterley e não consegui passar da quinquagésima página: a prosa, o enredo e os personagens me pareceram tão bestas e tão perfeitamente adequados a uma paródia em filme pornô que achei melhor reler Esaú e Jacó. Certos livros só entram para o cânone porque são escritos em inglês.
Enquanto seo Melancolia não vem, descubro que a gravação de Le nozze di Figaro realizada em 1968 por Karl Böhm (com Hermann Prey, Edith Mathis, Gundula Janowitz e grande elenco) é ainda melhor que a de Carlo Maria Giulini (1961), que até agora ocupava meu topo das tops. O time feminino é fenomenal, a orquestra canta junto, transfigurada em instrumento único, e o Figaro de Prey é o mais bem-humorado que já ouvi.

Planeta Melancolia, por que tanto tardas?

"Enquanto o atendimento de saúde do complexo não fica pronto, a prefeitura vai oferecer no local a possibilidade de os dependentes químicos tomarem banho, dirigirem-se ao albergue para alimentação e descanso e, nas palavras da vice-prefeita, 'se distraírem'. 'São várias armas [para tirar os viciados das ruas]. A bola [de futebol] é uma mágica. A bola funciona com quase todos. Temos todos os joguinhos que têm nos bares de São Paulo. Pebolim é muito querido. Tênis de mesa, menos, mas também [é querido]. E temos jogos de tabuleiro', descreve a vice-prefeita."

9.1.12

O que mais me envergonha, revolta, consterna e enoja nem é tanto a truculência racista do pm que agrediu o coitado do menino no dce da usp - algo previsível quando a opus dei está no poder -, mas o uol dar a notícia com um "suposto" na frente de "estudante da usp" quando se vê no vídeo o próprio aluno se identificando, e que no texto está escrito que foram apresentadas duas carteirinhas como prova - como se fosse necessário ser estudante para estar naquele local público, como se fosse necessário ser considerado branco para não ser suspeito de qualquer coisa, para não apanhar e ser xingado. Que país de merda este nosso, que polícia de merda, que imprensa de merda. Planeta Melancolia, venha logo.

8.1.12

Em algumas semanas vão reeditar um capítulo do Verdade tropical numa espécie de livrinho semididático. Porque vou escrever a quarta capa, estou sendo obrigado a ler o caetânico bagulho. Que digo? "Bagulho" é bondade excessiva. É um troço escabrosamente narcisístico, pedante, balofo, pretensioso, abominável, mal escrito - ruim de doer. Não é à toa que o cara está ficando a cara do fhc enquanto envelhece. Para me desintoxicar, ouço "Nega" com Gil e Ben. Na raiz, limpa o corpo humano.

5.1.12

Os preclaros governos paulista e paulistano ora apostam em "dor e sofrimento" para expulsar os craqueiros de seu histórico habitat nos Campos Elíseos. Que vontade de me juntar aos separatistas bandeirantes.

4.1.12


Talvez não seja a melhor versão da Flauta, mas foi a primeira a que assisti em vídeo, gravado em vhs a partir de uma precária transmissão da TVE do Rio em 91 (caramba, há mais de 20 anos?), e que me fez gostar de ópera (de Mozart e Monteverdi, todas as outras são chatas). O certo é que esta Pamina (Edith Mathis) é perfeita, insuperável - e uma das minhas primeiras namoradas.

3.1.12

Hora de voltar

Noite passada sonhei que chegava a São Paulo, pegava um táxi em Congonhas e... não sabia mais meu próprio endereço.

2.1.12

Acabei de ler Deus, um delírio, do Richard Dawkins - que ganhei, vede só, de presente de natal.
Pareceu-me que o livro, conquanto divertido aqui e ali, não passa de uma catilinária meio delirante contra o sobrenatural e a religião. Não que essas cousas sejam respeitáveis - odeio e quase sempre escarneço tudo que se aproxime de padres, templos, êxtases, dogmas e dízimos (embora leia horóscopos para me precaver de las brujas) -, mas o cara claramente despiroca. Afinal, escrever 500 páginas para tentar provar que os deuses não existem não seria respeitá-los em excesso? Tudo bem, é certo que as cousas andam mal no mundo anglo-saxônico - embora britânico, o autor prega mesmo para o público ianque, que nas próximas eleições votará en masse nos crentes entusiastas do extermínio de gays, ateus, bolivarianos e demais endemoniados -, e um pouco de descrença e laicidade seria muito bem-vindo por lá. Mas, a despeito de não manjar nada de biologia evolucionista, achei que os argumentos fornecidos com base em Darwin carecem de fundamentação científica, são simples suposições meio common sense, meio wishful thinking: afirmações sem provas - tal como os dogmas combatidos, e com retórica menos atraente.
Talvez bastasse sair pichando "Cachorros foderam o Papa" por aí.