27.7.07

Nome aos bois

A elite branca ora em polvorosa indignação:

OAB paulista, Febraban, Fiesp, ADVB-SP (Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil - São Paulo), Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo), CREA-SP (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de São Paulo), Sescon-SP (Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas do Estado de São Paulo), Abraphe (Associação Brasileira de Pilotos de Helicópteros) e Conaj (Confederação Nacional dos Jovens Empresários do Brasil).

26.7.07

No país da piada pronta (III)

Premido pela curiosidade de ouvir o "outro lado" sobre o acidente da MAT, o raro leitor ficará assombrado se fizer uma visita ao sítio da supradita carvoaria aérea e em seguida clicar na seção "Institucional".
Depois de claustrofóbica animação em flash e de ser recepcionado por um morto em acidente aéreo (o amaro fundador da empresa, sorridente contra um reconfortante fundo azul com nuvens brancas), o visitante aprende que figura em primeiro lugar na lista de Mandamentos da MAT a cândida sentença "nada substitui o lucro".

Caraca(s)!

Está em curso um tal "Movimento Cívico".
Seu slogan (do gaélico, sluagh 'exército, hoste' + ghairm 'grito' - Houaiss) é o desde sempre aguardado "Fora Lula".
Discretamente alardeado pelo DEMo, perfilam-se nesse movimêinto: ordem dos adevogados, federação da indústria, federação do comércio, empresários, banqueiros, publicitários, socialaites e respectivos cachorritos, estudantes da FEA, da Faap, da Casa do Saber et caterva.
Seu
maior anseio é fazer com que o País "retome o rumo certo" (?). Deseja-se acabar com o apagão aéreo e também, como sempre, com a corrupção e a imoralidade - com "essa raça", como bem resumiu algures certo Reichsmarschall.
Aparentemente relendo Saint-Éxupery, a
filosofia de trabalho dos direitosos insatisfeitos consiste, segundo os mesmos, em seguir "a regra básica da liberdade e responsabilidade, isto é, é livre quem é responsável e pode ser responsabilizado por aquilo que faz ou deixa de fazer, quem tem plena liberdade na escolha de suas ações e omissões."

Estará a Freedom House também contribuindo para o cívico convescote?

Serão os democráticos comerciais dirigidos pela Paula Lavigne ?

*

Segundo a comunidade orkutiana do pronunciamiento, devem-se convidar (por e-mail & cell phones) para a presuntiva passeata apenas os "conhecidos que não são petralhas" (serei eu, sem o saber, um destes?). Ficam também vedadas, pelo caráter "cristalinamente democrático" do evêinto, manifestações que configurem "subversão", "calúnia" ou "mau gosto". Pede-se providenciar aviões de isopor e narizes de palhaço - do contrário, "o amanhã será pior".

*

Tais instruções, tais integrantes, tais medos - estarei delirante, paranóico? - seguem à risca o platinado paradigma Fedecámaras e CTV. Vede o imperdível documentário "La revolución no será televisada", dirigido por dois cineastas irlandeses que tiraram a sorte grande e estavam em Miraflores no dia 11 de abril de 2002.
Notórios integrantes do IRA (e, portanto, do Foro de São Paulo), os gaélicos diretores nos fazem notar a grande profusão de bispos e loiras circulando pelos corredores do poder, após o efêmero sucesso do golpe midiático - deflagrado, como se sabe, por uma uma passeata promovida pela "sociedade civil".

*

E se foi o coitado do piloto, afinal, que não abaixou mesmo o manete? A indignação cívica aumenta ou diminui? Será também responsabilidade do Lula se a MAT, com o perdão do calão, simplesmente cagou no pau? Se sim, a culpa do Noço Guia é tão grande a ponto de o eneadáctilo merecer defenestración? Aceitam-se chutes em cachorro morto.

25.7.07

Pontaria boa

Invadida em Alagoas fazenda de irmão de Renan.

23.7.07

Apud Günter Lorenz

Quando alguém me narra algum acontecimento trágico, digo-lhe apenas isto: 'Se olhares nos olhos de um cavalo, verás muito da tristeza do mundo'. Eu queria que o mundo fosse habitado apenas por vaqueiros. Então tudo andaria melhor.

22.7.07

Os músicos (sic) mais populares (sic!) do Brasil

1. Banda Calypso
2. Zezé di Camargo & Luciano
3. Bruno & Marrone
4. Roberto Carlos
5. Daniel
6. Leonardo
7. Ivete Sangalo
8. Calcinha Preta

fonte: Datafolha

(Ach, ich fühl's...)

21.7.07

Despacho obsceno


Que se condecorem o comissário Marcou Relho e seu fogoso e bruno assessor com a Medalha do Pacificador - com Palma.

Lac Nord

20.7.07

Top, top, top!

Bola fora do comissário Garcia. Mas os que com isso se indignam esperneando e exigindo cabeças meio que exumam moralismos ultrapassados no Brasil desde, pelo menos, fins da década de 1960. Vede o que o clero in poison cometia nas páginas do Pasquim em julho de 1970:



(Fradinhos, Henfil)

19.7.07

Cerradas (final)

Diego está em Minneapolis, Minnesota.
Faz cinco dias que a classe executiva da american airlines o introduziu in America, com muitos mimos e brindes.
No aeroporto, os agentes de imigração até que pegaram leve com o nosso herói: era domingo; sua carta de apresentação era poderosa; seu visto, confiável. A multinacional em que Diego trabalha, diga-se, é bastante admirada back home. Assim, depois da terceira conferência de mala, os meganhas simplesmente lhe disseram welcome, Mr. Rassi, thanks for your cooperation, sem piscar os olhos nem sequer ordenar que Mr. Rassi tirasse os sapatos.
Altaneira no panorama banal de Minneapolis - uma espécie de Uberlândia quase perto da fronteira com o Canadá -, Diego logo admirou a envidraçada sede planetária da "sua" empresa.
É para lá, desde a segunda-feira desta semana, que nosso herói tem se deslocado cedinho, de táxi (dirigido por um iraquiano), deixando o hotel sempre às 07:50 am.
A prudente multinacional, cheia de outras culpas no cartório, sempre foi muito zelosa com seus gerentes terceiro-mundistas. Torra generosas verdinhas para que lhes sejam felpudos os cobertores e eficazes as instruções passadas em intermináveis sessões de powerpoint: diárias no caesar business, classe executiva e até 50 dólares por jantar (com bebida). O moral dos aguerridos regional teams tem, desse modo, se mantido bastante alevantado.
Diego fala bem o inglês, o que, junto com os olhos esverdeados, contribui para que seus colegas e chefes norte-americanos lhe dispensem o mesmo nível de falsa simpatia geralmente reservado aos gerentes da Europa meridional - quase nada superior àquele dirigido aos morenos miguelitos de nariz adunco e acento pronunciado.
Faz quatro dias que Diego, sentado entre outros nove colaboradores latino-americanos, acompanha um curso de R&D Awareness conduzido por geneticistas, cientistas sociais e marketeers sortidos e viajados para tal. Diego anotou hoje, entre outras coisas importantes, os deadlines de um projeto que, desenvolvido secretamente na sucursal do Vietnam, "explora as potencialidades do mapeamento do genoma humano para a segmentação dos mercados consumidores de arroz".
Diego vai hoje à noite jantar com o grupo de course colleagues & coaches num elegante (sic) restaurante grego.

*
Na madrugada de sábado, dia 21, Diego morrerá num acidente aéreo sobre o mar do Caribe. O avião se partirá em mil fragmentos por graça de um obscuro problema mecânico. O último pensamento do nosso já pranteado herói, antes da bola de fogo o consumir - confessemo-lo -, será mesmo dedicado a Rejane.

Jequice macabra

As coberturas televisionadas e escritas da carnificina de Congonhas, até onde vi, foram todas equivalentes no quesito jequice (FFHH, sem o saber, estava mesmo certo).
Todas - sem exceção e sempre com mal-disfarçado espírito de vira-lata - mostraram o que (e com que destaque) certos sítios e jornais do ultramar (rico) tiveram a dizer sobre a tragédia.
Alles in ordnung
, tudo como de costume; tudo como se noticiar com garrafais um acidente aéreo em que morrem 200 pessoas não fosse obrigação jornalística básica em todos os lados do mar oceano (até, digamos, no Irã); tudo como se sair no Times, no Post ou na CNN, mesmo nestas circunstâncias horrorosas, fosse ainda assim mais um tento nosso.

Em tempo: minutos após a colisão, enquanto a globo mostrava ginástica artística e novela, a band e a redetv!, certamente sem muitos prejuízos publicitários, davam tudo ao vivo (entrementes, Lula é sempre o culpado de tudo - é claro).

18.7.07

Today is Mushroom's Day!


(choveu à noite no Cerrado; os pastos de engorda estão populosos; etc.)

16.7.07

Chávez neles

A fofa Folha publica chocante manchete:

"Milionários brasileiros têm meio PIB"

Li a matéria. Fui CDF. Refiz os cálculos
com os números alardeados (mas com calculadora).

E concluí: a principal conta (mostrada apenas na capa) da matéria - primáriu mau-feito ou "correção" editorial? - está zoada.

Provemo-lo.

As 130 mil alegadas e invejadas pessoas, entre 189.283.378 (IBGE, agora), perfazem não mais que...

(130000/1
89283378) x 100 = 0,068%!

do
total brazuca.

Não os reconfortantes 0,7% ora impingidos (com 1000% de superfaturamento) na capa do jornal.

Espantoso!
Enquanto

0,068%

dos
patrícios se locupletam gostoso (a conta dá média de 4,5 milhões de doletas/vice-rei), os

99,932% (sic
;-)

pobres
restantes, a dividir a xepa da outra metade das riquezas, ainda precisamos aturar superfaturamentos (de 1000%) e atentados à aritmética primária cometidos em nome da segurança moral de um estado de coisas que doravante só poderá ser descrito como pornocracia.

12.7.07

Peréio 2010

FOLHA - O que o senhor achou da vitória do Cristo Redentor?
PAULO CÉSAR PERÉIO -
Minha opinião é a mesma do Flávio de Carvalho. Ele fez um projeto muito bem estruturado, com cálculos minuciosos, para demolir o Cristo Redentor. Se o Flávio falou, "tá" falado. Para mim , ele é um gênio. Essa é a minha proposta. Quero demolir o Cristo.

10.7.07

Hoje, sempre

Praça da Sé, março de 1964.

Herbert Marcuse

Under these circumstances, our mass media have little difficulty in selling particular interests as those of all sensible men.

(One-Dimensional Man)

Alguém lá em cima (realmente) gosta de mim

A emocionante parte final da saga/ sanha anti-April, Inc. foi quase toda publicada pelo gentil Observatório da Imprensa:

Aqui!

Pelo andar do carro-de-boi, logo logo estarei em posição de cobrar royalties da Fundação Fodd.
Mas antes será preciso extorquir um mensalinho da Van der Brecht.

7.7.07

Pops neocons

(o autor do texto abaixo se assina weden; é capaz de malhar Reynalds Hollywoods e adjacências excrescentes com muito mais elegância que eu; segue, então, a íntegra)

Há um estilo literário novo no Brasil.

Talvez alguns incautos o comparem aos de personagens antigos. Mas este estilo não é o mesmo revelado nas letras tônicas de Lacerda, a ponto de levar Getúlio ao suicídio, dizem as más línguas. Nem tem a graça e a ironia fina de um Nelson Rodrigues.

Não é humorístico (humor negro) como o de Paulo Francis; nem traz o idealismo rascante de um Glauber Rocha. Não é inteligente como o de Merquior, nem tão pouco instigante como o dos editoriais de antigos jornais de referência, como o do Correio da Manhã.

Até mesmo porque esse estilo é importado dos Estados Unidos. A esse novo estilo chamaremos literatura neocon (ou simplesmente pop neocon).

A fórmula é simples. Pega-se um tema qualquer que dê uma boa discussão. Na falta dele, alce um tema à categoria de grande polêmica da sociedade (sim, a literatura neocon consome muita energia e não pode sobreviver na calmaria cotidiana).

Depois faça comparações hiperbólicas (“culpados pela matança de cem milhões de pessoas”, etc), e traga à cena personagens da história, mas de preferência vilões incontornáveis (Stálin, Hitler etc). Isso é para que não haja dúvida sobre de que lado ficar.

Por fim, produza-se alguma alcunha espetacular sobre algum personagem público ou tornado público, exatamente com o intuito de difamá-lo. Às vezes essa alcunha pode ser direcionada ao grupo ideológico rival.

A literatura neocon é um tipo de folhetim, onde se encontram os elementos mais básicos desse gênero: periodicidade, uma eterna luta de mocinhas indefesas contra megeras, degenerados de caráter versus homens de respeito e, principalmente, um final triunfal.

A diferença é que não é o personagem que vence, mas o jornalista-justiceiro, o intelectual desvelador da grande sacanagem da História.

Não aderiram a ela somente cineastas e literatos ruins. Muitos jornalistas e mesmo intelectuais ávidos por uma boa cena de pancadaria também gozam com seus sadismos.

Com certeza, se me permitem a ironia, é uma forma de gozo perverso, pois que se volta a ela incessantemente, mesmo contra a lei do bom debate. E como o aspecto sádico do caráter traz o negativo do masoquismo – vicissitudes das pulsões, segundo Freud – gozam também ao ser odiados e espinafrados.

A organização textual da literatura neocon é basicamente dissertativo-narrativa, onde a narrativa é fundo e não figura.

A dissertação reafirma o desdém pela opinião adversária, uma sensação pouco fundamentada de superioridade e um argumento fragilizado pelo próprio automatismo da expressão raivosa.

Há muitos. Muitos adjetivos depreciadores.

Ocupa hoje vários suportes: colunas de jornais, telejornais noturnos, sites e blogs.

Os EUA são o primo rico do pop neocon: lá esse tipo de literatura vende centenas de milhares de livros.

Da mesma forma, ocupa a justiça com processos de calúnia e difamação (como se não se tivesse mais o que fazer nos fóruns).

Não há literato neocon que não tenha respondido a alguns processos por crimes contra a honra. Essa é a medida do seu sucesso.

A fórmula da agressão é imperativa. Talvez esse seja o maior problema da literatura neocon. E está no fato de fazer incessantemente da vilanização do diálogo.

Esse problema é pior do que o seu alinhamento com uma posição ideológica (afinal há inúmeros folhetins de esquerda tão chatos quanto); ou de ser um típico produto mass cult da Indústria Cultural (dotado de clichês, e público bem detectado).

Partindo de uma percepção equivocada da natureza humana, como encarnação simplória da oposição entre o bem e o mal (desde que o mal esteja do outro lado), este tipo de literatura dramatiza a reflexão e, principalmente, ajuda a disseminar ou consolidar a cultura da intolerância.

Ser paciente e civilizado, ser tolerante à opinião com a qual não se concorda, ser educado, mesmo que o outro não o seja, faz-nos desprender um esforço muitas vezes incomum, sacrifício esse próprio de superação do que um certo político de alcova em recente história brasileira chamou de “institutos mais primitivos”.

A possibilidade do diálogo público é o melhor lado da modernidade, que tantas coisas ruins também nos trouxe. Esse sonho civilizacional definitivamente não faz parte da literatura neocon.

6.7.07

No país da piada pronta (II)

Carapicuíba

Do tupi:
*akarapu'ku = coró
iwa = fruta
(Houaiss)

No país da piada pronta

O provável primeiro dono da minha segunda edição (sórry, periferia!) de Corpo de Baile foi o quase certamente já ido mesmo Dr. Washington Belleza (a caneta tinteiro, 1962).
Comprei-o - o livro - no sebo Nova Floresta, a oeste da Sé, em 2005, por algumas (saudosas) centenas de reais.
E ainda resiste no frontispício um selo mal-colado da Livraria Triângulo.

5.7.07

Google Awards

Foi-nos dada a inexcedível honra de figurar em primeiro lugar na lista de sítios exibida contra as palavras-chave "ensinamentos imbecis".

4.7.07

Die Nationale Presse

A empresa sul-africana que comprou o máximo que podia da April, Inc. utilizou para tanto laranjas e paraísos fiscais. Em 1915 ajudou a fundar o apartheid. O afável Piet Botha pertenceu ao Conselho de Administração, dele se demitindo para mais altas glórias de ministro e presidente. No verbete Naspers da wikipedia, evidentemente semi-oficial, há na cronologia do conglomerado um perturbador hiato entre os anos de 1918 e 1985 (!)
O que mais me divertiu, contudo, foi saber que o nome da cuja sul-africana empresa abrevia a cândida denominação africâner De Nasionale Pers. Ou ainda, em alto-alemão, por que não?, Die Nationale Presse.
A Naspers era, por assim dizer, o braço impresso e irradiado do Nasionale Party. Aquele...
Tem galardão...

El Oro de Caracas

Antecipando-se às patrulhas regulamentares, este blog faz questão de colocar a descoberto sua absoluta e bem remunerada parcialidade:

1.7.07

Escroques, trapaças e jornalistas meliantes (final)

"Plec! Plec! Bum!"

A fotografia acima, que o livro do Elio Gaspari credita à Agência JB, retrata o capitão Lamarca em fins de 1968, dando posadas aulas de tiro às funcionárias do bradesco no estande do 4o. Regimento de Infantaria, em Quitaúna (SP). Antes, portanto, da "deserção", em janeiro de 1969 - sempre segundo o autorizado Gaspari.

(Como sempre) por acaso, ocorreu-me notar que a VEDE, numa edição recente de cujo número no quiero acordarme, ilustra com foto muito similar um textículo não assinado que, na cara dura, intitula-se "Bolsa-Terrorismo" para começar a meter o pau na promoção da viúva do ex-capitão Lamarca até a patente (leia-se pensão) de viúva de ex-coronel (não entremos, por ora, no mérito dessa candente questão previdenciária).

Falta-me a reprodução da fotografia da revista (sic) por não ter conseguido crackear uma senha de acesso ao sítio da April, Inc., mas garanto-vos (os são-tomés podem correr à ante-sala do consultório do dentista para comprovar) que, naquele número nada exemplar, VEDE elege a seguinte moçoila para aparecer fazendo mira com uma ameaçadora arma longa, sempre sob as atentas vistas do espigo Lamarca:

Em VEDE, esta simpática educanda, durante sua inesquecível primeira instrução de tiro, aparece vestindo a mesma saia listradinha nova! (trabalhará também no bradesco? Sou um romântico incurável)

O raro leitor concordará, confiante, de que se está falando de fotos produzidas nos mesmos press sessions days, no mesmo aloucado 1968, num mesmo quartel do Exército no interior (ou quase) de São Paulo?

Pues. Sucede que a legenda da ilustração da VEDE, posso fiar a barba, refere-se a algo como "Lamarca depois do Exército" ou "Lamarca depois de se tornar um terrorista frio e sanguinário" - depois, concluo, de janeiro de 1969.

Blind chance? Cochilo da revisão? Ou estamos apenas patinando no campo barthesiano da significância? Pouco provável: no mesmo exemplar da revista (sic!), apenas algumas páginas depois da anônima matéria, o proverbial Reynald Hollywood (© M. de Verdepascoli), assustadiço com a maré vermelha que vingativamente lhe entupira os bofes da caixa-postal, perpetra um artigo (sic!!!) em que se igualam os (então) ocupantes da reitoria - convenhamos, no máximo larápios ou toxicômanos - ora aos traficantes do Complexo do Alemão, ora à Al-Qaida.

Batata: após a recepção escalonada dessas palavras de ordem, se tiver prestado mínima atenção à semiologia exotérica da trapaça (operada até mesmo em nível subliminar, não duvidemos de nada), o leitor médio da VEDE - que, como se sabe, só lê VEDE e era (é, e sempre será) favorável à incursão do Batalhão de Choque - estará preparado para navegar no brilhante insight: "Estudantes de saias listradinhas têm sido instruídas por subversivos covardes e impiedosos a fazer fogo contra a sociedade judaico-cristã-ocidental desde a longínqua época da Revolução (sic!!!!!!!!!!) - e agora com o dinheiro dos meus impostos, meu Deus!"
Esforçando-se durante o breve intervalo entre a Novela e o Jornal Nacional, o mesmo leitor médio concluirá que os burgueses revoltados e mimados da USP não passam todos, como sempre, de testas-de-ferro de terroristas/ bolsistas provenientes de Potências Estrangeiras (Moscou, Havana, Caracas, Pyongyang, Pindamonhangaba etc.) interessadas em instalar no torrão inzoneiro uma ditadura comunista.

*
Segundo esse bricolage ideológico chulé (mais uma), a mefítica subversão da Universidade é obra de mafaldinhas e barbudinhos vagabundos que, armados até os dentes com laptops roubados e gasolina e fuzis contrabandeados da Chavezuela, merecem sofrer uma (re)ação "fulminante" por parte do meu, do seu, do nosso Estado; não como irrisória instrução militar para funcionárias da reitoria ou do bradesco - aliás e de quebra convenientemente poupado na estória toda -, mas, talvez, why not?, à moda da Operação Pajussara, naquela saudosa primavera de 1971...

*
Diz Ernesto Sabato, pela boca do sempre lúcido Fernando Vidal Olmos, que quando se combate um inimigo por longo tempo acaba-se ficando parecido com ele. Assim, e só por via das dúvidas, cessam doravante as referências malsãs ao horrível hebdomadário.

Mas, como na ópera, ainda dá tempo de cantar a conclusão moral da farsa toda: num mundo em que o mesmo bradesco patrocina a Dança dos Famosos (ora reciclada, literalmente, como Circo), as laboriosas fotomontagens stalinistas - precursoras do photoshop e, portanto, do pioneiro ensaio da Hortência na Playboy - há muito já não são mais necessárias;
basta a mais fácil e descarada mentira inepta.