21.11.15

A vírgula, hoje em dia, só é usada por quem, como eu, é não raro, senão amiúde, tachado de pedante.

19.11.15

Sem luta a vida é besta.

31.10.15

Muito previsível a jogada do PiG: depois que o golpe contra a Dilma flopou, partiram para o plano B, que é na verdade o plano L de sempre - impedir o Lula de ser candidato em 2018. Se for candidato, não pode ser eleito. Se eleito, não pode tomar posse. Se tomar posse, não pode governar etc. etc.

30.10.15

Quem nasceu para Eusebiozinho nunca chegará a João da Ega.

23.10.15

O fagote é uma prova do sem-sentido de tudo.

16.10.15

Um Chico esdrúxulo baixou em mim quando dei este título a um novo capítulo:"O périplo do romance: Caderno de bitácula".

10.8.15

O golpe flopou. O jogral nacional transportou o noticiário da java-lato para o terceiro intervalo. Depois de matérias sobre os perigos do gps e a briga táxi x uber, além dos problemas das operadoras de celular.
E flopou tanto que a apresentadorinha deu um passo atrás diante do telão para não encobrir com seu cabelão a imagem do Palácio da Alvorada, ao fundo da narração da reportinha. O diretor mandou, pelo ponto eletrônico.

21.5.15

Em Guimarães Rosa, tal como os rios as estradas são serpentes.

9.3.15

Sarilho - Às 10 horas da noite de hontem, Antonio Avelino de Araujo e José Teixeira Junior, que têm rixa antiga com Ernesto de tal, passaram pelo morro do Castello, quando ao chegar em frente a um botequim de propriedade de Domingos de tal, tiveram um encontro com o referido Ernesto.
Desse encontro resultou um serio conflicto, onde foram disparados diversos tiros e onde a navalha entrou em exercício, tomando parte saliente os conhecidos desordeiros 'Pernambuco' e 'Gato'.
Comparecendo a policia foram apenas presos Avelino de Araujo e Teixeira Junior, tendo-se os demais evadido.
O delegado abriu inquérito a respeito.
(Correio da Manhã, 15 de setembro de 1901)

27.1.15

Proposta de reforma agrária: expropriação de todas as lavouras de soja do país. Expulsão da monsanto e congêneres, confisco de seus bens. Assentados e antigos proprietários que topassem seriam divididos em lotes para replantar espécies típicas do cerrado. Ao mesmo tempo, as escolas rurais adotariam Corpo de baile como novo livro sagrado da República - eu, claro, mandando em tudo como ministro da Religião. Quem não topar será condenado a passar dez anos em Rio Verde sem bicicleta.

25.1.15

Neste trecho de O triste fim de Policarpo Quaresma, Lima Barreto iguala Machado de Assis, chegando a levar a partida para a prorrogação:

"Os subúrbios do Rio de Janeiro são a mais curiosa coisa em matéria de edificação da cidade. A topografia do local, caprichosamente montuosa, influiu decerto para tal aspecto, mais influíram, porém, os azares das construções.
Nada mais irregular, mais caprichoso, mais sem plano qualquer, pode ser imaginado. As casas surgiram como se fossem semeadas ao vento e, conforme as casas, as ruas se fizeram. Há algumas delas que começam largas como boulevards e acabam estreitas que nem vielas; dão voltas, circuitos inúteis e parecem fugir ao alinhamento reto com um ódio tenaz e sagrado.
Às vezes se sucedem na mesma direção com uma freqüência irritante, outras se afastam, e deixam de permeio um longo intervalo coeso e fechado de casas. Num trecho, há casas amontoadas umas sobre outras numa angústia de espaço desoladora, logo adiante um vasto campo abre ao nosso olhar uma ampla perspectiva.
Marcham assim ao acaso as edificações e conseguintemente o arruamento. Há casas de todos os gostos e construídas de todas as formas.
Vai-se por uma rua a ver um correr de chalets, de porta e janela, parede de frontal, humildes e acanhados, de repente se nos depara uma casa burguesa, dessas de compoteiras na cimalha rendilhada, a se erguer sobre um porão alto com mezaninos gradeados. Passada essa surpresa, olha-se acolá e dá-se com uma choupana de pau-a-pique, coberta de zinco ou mesmo palha, em torno da qual formiga uma população; adiante, é uma velha casa de roça, com varanda e colunas de estilo pouco classificável, que parece vexada e querer ocultar-se diante daquela onda de edifícios disparatados e novos.
Não há nos nossos subúrbios coisa alguma que nos lembre os famosos das grandes cidades européias, com as suas vilas de ar repousado e satisfeito, as suas estradas e ruas macadamizadas e cuidadas, nem mesmo se encontram aqueles jardins, cuidadinhos, aparadinhos, penteados, porque os nossos, se os há, são em geral pobres, feios e desleixados.
Os cuidados municipais também são variáveis e caprichosos. Às vezes, nas ruas, há passeios, em certas partes e outras não; algumas vias de comunicação são calçadas e outras da mesma importância estão ainda em estado de natureza. Encontra-se aqui um pontilhão bem cuidado sobre o rio seco e passos além temos que atravessar um ribeirão sobre uma pinguela de trilhos mal juntos.
Há pelas ruas damas elegantes, com sedas e brocados, evitando a custo que a lama ou o pó lhes empanem o brilho do vestido; há operários de tamancos; há peralvilhos à última moda; há mulheres de chita; e assim pela tarde, quando essa gente volta do trabalho ou do passeio, a mescla se faz numa mesma rua, num quarteirão, e quase sempre o mais bem posto não é que entra na melhor casa.
Além disto, os subúrbios têm mais aspectos interessantes, sem falar no namoro epidêmico e no espiritismo endêmico; as casas de cômodos (quem as suporia lá!) constituem um deles bem inédito. Casas que mal dariam para uma pequena família, são divididas, subdivididas, e os minúsculos aposentos assim obtidos, alugados à população miserável da cidade. Aí, nesses caixotins humanos, é que se encontra a fauna menos observada da nossa vida, sobre a qual a miséria paira com um rigor londrino.
Não se podem imaginar profissões mais tristes e mais inopinadas da gente que habita tais caixinhas. Além dos serventes de repartições, contínuos de escritórios, podemos deparar velhas fabricantes de rendas de bilros, compradores de garrafas vazias, castradores de gatos, cães e galos, mandingueiros, catadores de ervas medicinais, enfim, uma variedade de profissões miseráveis que as nossas pequena e grande burguesias não podem adivinhar. Às vezes num cubículo desses se amontoa uma família, e há ocasiões em que os seus chefes vão a pé para a cidade por falta do níquel do trem.
Ricardo Coração dos Outros morava em uma pobre casa de cômodos de um dos subúrbios. Não era das sórdidas, mas era uma casa de cômodos dos subúrbios.
Desde anos que ele a habitava e gostava da casa que ficava trepada sobre uma colina, olhando a janela do seu quarto para uma ampla extensão edificada que ia da Piedade a Todos os Santos. Vistos assim do alto, os subúrbios têm a sua graça. As casas pequeninas, pintadas de azul, de branco, de oca, engastadas nas comas verde-negras das mangueiras, tendo de permeio, aqui e ali, um coqueiro ou uma palmeira, alta e soberba, fazem a vista boa e a falta de percepção do desenho das ruas põe no panorama um sabor de confusão democrática, de solidariedade perfeita entre as gentes que as habitam; e o trem minúsculo, rápido, atravessa tudo aquilo, dobrando à esquerda, inclinando-se para a direita, muito flexível nas suas grandes vértebras de carros, como uma cobra entre pedrouços.
Era daquela janela que Ricardo espraiava as suas alegrias, as suas satisfações, os seus triunfos e também os seus sofrimentos e mágoas.
Ainda agora estava ele lá, debruçado no peitoril, com a mão em concha no queixo, colhendo com a vista uma grande parte daquela bela, grande e original cidade, capital de um grande país, de que ele a modos que era e se sentia ser, a alma, consubstanciando os seus tênues sonhos e desejos em versos discutíveis, mas que a plangência do violão, se não lhes dava sentido, dava um quê de balbucio, de queixume dorido da pátria criança ainda, ainda na sua formação."