30.11.05

Rédi-mêidi

Os compartimentos plásticos de carga fixados à traseira das motocicletas da PM goiana medem uns 2000 cm3 e ostentam a marca "TRAFFIC", em letras vermelhas e itálicas.

21.11.05

Fahrenheit Forever

O presidente do tribunal eleitoral entrega aos presidentes da câmara e do senado uma proposta legislativa em que se proíbem as imagens externas em programas eleitorais :

(omite-se a possibilidade de fundo-azul)

18.11.05

As palavras explicam o mundo

O identificador de chamadas do meu celular (sim, é uma longa história), na lista de opções em língua francesa, se chama petit police.

17.11.05

4.11.05

Whoopie pies

A dois reais cada, são a delícia imperdível da lanchonete amish de Rio Verde. A mocinha que as serve e cozinha é nurse formada em Kansas City. Uma camada espessíssima de glacê açucarado branco recheando duas metades reconciliadas do melhor brownie do Sudoeste Goiano.

20.10.05

Realização do desejo / Desejo de realização

"Os advogados [de Maluf] ainda afirmaram que a acusação de formação de quadrilha contra Flávio foi feita de forma incorreta, já que o Código Penal pressupõe pelo menos três pessoas, enquanto somente ele e seu pai estão presos."

18.10.05

Nelson Freire

O documentário do João Moreira Salles fez seus estragos. Teatro lotado.
(lembro-me de, em 99, assistir ao no. 3 de Beethoven com o mesmo Freire no mesmo Mvnicipav, sala semi-vazia)
Não muito a dizer sobre o segundo de Brahms. Confesso que o alemão, cujo nome, segundo McDonald, deriva de uma espécie de florica das planícies do Báltico, me deixa quase sempre careta. O segundo movimento, atrapalhado pelos aplausos extemporâneos da multidão extasiada com o final do primeiro, acorde de tônica com tímpanos e tutti, foi exemplo dessa quadradice intolerável (apud. trechos finais do Steppenwolf, do Hesse, outro quadrado). Mas o terceiro, e o quarto! A OSM correspondeu maravilhosamente a um esforçado Minczuk. As trompas, impecáveis.
Sobre o pianista, nada mais precisa ser dito. Cada nota no seu devido, inarredável lugar (coisa parecida só ouvi com Maria-João Pires e Bruno Gelber), intensidades exatas, satisfação plena. Nos extras, Brahms apaixonado por Clara, e Debussy por Chou-chou: Intermezzo Op. 117 em si bemol menor e Children's Corner, Serenata para a Boneca. Glória nacional, esse vovozinho simpático de Boa Esperança.
Depois disso, como ficar para o Prokófiev?

3.10.05

Até São Paulo

Duzentos e vinte quilômetros até Goiânia. O cerrado já está verde.
Então mais hora e meia até São Paulo.

29.9.05

Doce de manga

Minha mãe fez hoje. As mangas, verdes, pegou-as depois que a ventania sacudiu a mangueira da praça.

24.9.05

Porque me ufano de meu País (II)

Nas folhas: a Câmara de Porto Velho (RO) aprovou, em primeiro turno na quarta, um projeto de lei que declara, "profeticamente, Jesus Cristo como único Senhor e Salvador" da cidade. A idéia, que ainda precisa passar por uma segunda votação para se transformar em lei, é do vereador petista José Wildes. No segundo parágrafo de seu projeto de lei, o vereador garante que a cidade "renuncia toda obra realizada no passado de prostituição, impureza, lascívia, ruínas, homicídios, roubos, corrupção, idolatria, feitiçaria, tráfego [sic] de drogas, prostituição infantil, e toda maldição de primeira, segunda, terceira e quarta geração".

15.9.05

No NYTimes, a propósito do recrudescimento da Santa Inquisição

"Não se sabe quantos padres católicos são gays. As estimativas variam de 10% a 60%. O catecismo da Igreja Católica afirma que pessoas com tendências homossexuais 'profundas' devem viver em estado de castidade porque 'os atos homossexuais são intrinsecamente doentes'".

Até aí tudo bem, do peixe se espera que nade e dos deputados que roubem. Mas terá sido proposital o trocadilho sugerido com "profundas"? Hope so.

14.9.05

A mão libertária que lancetou...

Ao ouvir essa expressão sendo dita por alguém na tribuna do parlamento nacional, desliguei tudo e fui terminar de ler um livro sobre a Revolução Francesa.

9.9.05

Sete de Setembro (II)

Certa vez eu desfilei. Tinha 8 anos. Alguém me lambuzou com borra de café diluída em óleo de soja. Mandaram-me então, enquanto caminhava Avenida Presidente Vargas abaixo, sofrer açoites de mentira de um coleguinha não-pintado e melhor vestido. Representávamos, penso, a mistura de raças no Brasil.

8.9.05

Independence Day

A crônica dos desalmados e antipatrióticos comunistas dá conta de que o príncipe D. Pedro estava a defecar nas plácidas moitas do Ipiranga quando, ato contínuo, deu seguimento ao alívio geral gritando "As cortes portuguesas que se lasquem, ó pá!".
Já os livros de Educação Moral e Cívica, bastante insuspeitos, subscreviam tudo que Pedro Américo teve a cara de pau de, muitos anos depois, patrioticamente encenar: dragões, espadas desembainhadas (êpa!) e um sentimento geral de primeira missa.
Pessoalmente acho que tudo não passou de ceninha. As margens do Ipiranga parecem ok, mas como acreditar no Tarcísio Meira?

5.9.05

Mais de 300 mil pessoas vão a show de Elton John no Coliseu

Na próxima semana, aparecerá nos céus da Europa o cometa que anunciará o início da segunda etapa do Grande Plano: transformar, via bombardeio de cola seca-rápido e vidrilhos espelhados, a lua num imenso globo de boate.
Então todos os habitantes da Terra, dançando alucinadamente, serão presa fácil.

1.9.05

Definição negativa da alma

"É aquilo que se retrai quando ouve falar de séries algébricas"

Robert Musil, Der Mann ohne Eigenschaften

30.8.05

Ulrich militar

"Naquele tempo, não dava o mínimo valor a expressões pacifistas como 'educação armada do povo', mas recordava com paixão os tempos heróicos de feudalismo, violência e orgulho. Participava de corridas de cavalo, duelava, e distinguia apenas três espécies de pessoas: oficiais, mulheres e civis; os últimos eram uma classe fisicamente não desenvolvida e espiritualmente desprezível, cujas mulheres e filhas eram arrebatadas pelos oficiais. Entregou-se a um pessimismo sublime: parecia-lhe que se a profissão de soldado é um instrumento aguçado e ardente, era preciso queimar e cortar o mundo com esse instrumento, para seu próprio bem".

Porque me ufano de meu país

Em Rio Verde, praticamente todos os habitantes usam telefones celulares clonados em São Paulo. Os locais os chamam de "bodinhos", não sei se por anglicismo ou caprinidade. Os aparelhos são facilmente alugados de fornecedores devidamente habilitados - geralmente jovens delinqüentes de 15 ou 16 anos - e, após o uso, que pode durar dias de ligações internacionais ou para o Tocantins mesmo (nova Meca do deslumbramento migrante), são devolvidos para nova clonagem.
Quanto a vocês eu não sei, mas vejo nisso hábitos revolucionários muito salutares:

- práticas lesivas às empresas telefônicas multinacionais, de grão em grão, causarão sua ruína e a conseqüente libertação final dos povos oprimidos.
- são auto-sustentáveis.
- contam com o apoio tácito ou quase explícito das autoridades civis do lugar que, pouco a pouco convertidas à funcionalidade dessas práticas extra-legais, em breve farão vista grossa aos molotov.
- aumentam o PIB informal do município ao expropiarem os capitais de São Paulo, diminuindo assim as disparidades regionais e popularizando a comunicação digital.
- Confirmada a origem caprina do termo, muito de demoníaco e, conseqüentemente, subversivo, cristalizar-se-á pouco a pouco na fala cotidiana da população, conquistando corações, mentes e dedos (sic).

17.8.05

Guimarães Rosa é o maior

"Falo: português, alemão, francês, inglês, espanhol, italiano, esperanto, um pouco de russo; leio: sueco, holandês, latim e grego (mas com o dicionário agarrado); entendo alguns dialetos alemães; estudei a gramática: do húngaro, do árabe, do sânscrito, do lituânio, do polonês, do tupi, do hebraico, do japonês, do tcheco, do finlandês, do dinamarquês; bisbilhotei um pouco a respeito de outras. Mas tudo mal. E acho que estudar o espírito e o mecanismo de outras línguas ajuda muito à compreensão mais profunda do idioma nacional. Principalmente, porém, estudando-se por divertimento, gosto e distração".

15.8.05

Diacríticos (CMLXXXVI)

Leio em uóis algo sobre o incêndio em Fajao, Portugal.
Ora, dir-me-íeis, o gajo não entendeu como um "a" e um "o" são possíveis juntos assim em nome de cidade ou até mesmo de concelho. Fui descobrir (google's voice is de Deus) que é Fajão, claro, coitaditos.
Um revisor qualquer corrigirá tudo, hora mais ora menos.
Mas o lapso é, também claro, das agências de notícias, coitadas, desprovidas de teclados bem fornidos de coisinhas como um til.
O gerundismo e outras barbaridades putas são filhas da mera preguiça de ir ao Google.

Brasília e Gaza

Há tempos, durante minhas sessões vespertinas de ócio criativo, venho desenvolvendo uma teoria de analogias geopolíticas cujo corolário mais vistoso e cheio de sex appeal será o que envolve nossa capital federal e os ermos desérticos da Cisjordânia e de Gaza. Acompanhem-me, se não for estorvo.
O Distrito Federal, todos sabem, é um retângulo de terra tomado a Goiás desde há muito para que fossem abrigadas as castas de funcionários públicos que, forçadas a deixar o Rio de Janeiro pela realpolitik do Sr. Kubitschek, viram-se sem mais nem menos arrojadas ao cerradão hostil e longe de seus times do coração. Com o tempo e os superfaturamentos, construíram-se superquadras, vias expressas e o PIB per capita de Brasília tornou-se o maior do país, às expensas do resto da população, que lhe sustenta os salários e jetons. O chamado Entorno, ao contrário, é pobre de dar (muito) medo, e abriga no mais das vezes migrantes goianos, mineiros e nordestinos desesperados por um emprego qualquer de faxina, chapa ou até mesmo cafezinho no Plano Piloto. São discriminados, como no resto do Brasil bacana, pela cor da pele e pelo sotaque e, errando no tráfego, ainda sofrem os piores impropérios, atirados pela elite branca e bacana: "goiano!" daqui, "goiano!" dali.
Ora, não saltam aos olhos as similaridades com Israel? No caso desse interessante e belo país, certo dia um bando de burocratas da ONU decidiu instalar no estreito naco de terra erma entre o Mediterrâneo e o Mar Morto um novo Estado. Do dia para a noite multidões de judeus deslocados pela guerra lá se instalaram, dando início à expulsão dos nativos para as bordas e quebradas do território, de quando em quando expandidas em guerras fáceis. (Estimam-se em 4 milhões os refugiados). Hoje os mesmos palestinos são a principal força de trabalho subalterno, e com sangue e suor cuidam da manutenção das fábricas e latrinas israelenses. A leitura dos jornais dispensa-nos de aludir a seu sofrimento nas mãos dos maiorais e novos donos do pedaço, verdadeiro escândalo ainda coroado com um muro à la Berliner.
Ainda comigo? Bem, é que lendo sobre a retirada israelense de Gaza, fiquei matutando sobre a possibilidade de retirar à força e sem indenização alguns moradores legislativos do Plano Piloto. Seus apartamentos funcionais (cerca de 500, fora os dos assessores) abrigariam com folga algumas famílias de miseráveis do Entorno, que teriam ainda o direito de inverter os xingamentos recebidos no trânsito: "goiano, sim, e de Rio Verde!" e...
Mas sei lá.

12.8.05

Vixe

Pelo andar da land rover, teremos muito em breve que nos defrontar com as opções Alencar e/ou Severino, para em seguida cairmos no inominável, se é possível tal gradação entre absolutos grotescos.
A quem tem antepassados europeus detectáveis recomendo o início dos trâmites para a obtenção de dupla cidadania. Passaporte na mão, o negócio será vazar rapidinho: o projeto de 20 anos dos tucanos, após breve e malfadado interregno, periga seriamente vingar.
Quanto a mim, bisneto de mineiros e baianos, começarei a confeccionar os molotov, que remédio, e também me alistarei nas forças bolivarianas da Venezuela que nos ajudarão a combater a praga imperialista tucana e sanguinária. Tudo isso apenas metaforicamente, helas.
Mas Guimarães Rosa opera milagres, Schubert e Mozart existem e é necessário não perder a esperança jamás. Hamas?

11.8.05

Infalível certeza

Os maçons chineses de Liverpool estão claramente por trás dos Beatles, e, por conseqüência, de toda a música pop desde o advento, na década de 1960, do sinistro plano de dominação mundial cuja primeira etapa consiste no envenenamento das mentes dos jovens.
Não será outra a explicação para os olhos levemente puxados de John, cujo sobrenome mal consegue ocultar o temido Li No, apodo pelo qual é conhecida a famosa casta de mercenários ativos desde pelo menos a época Tang. Seu casamento com Yoko, essa notória integrante das fileiras da Rosa-Cruz japonesa, foi um movimento de alianças entre os braços maçônico e rosacruciano da conspiração. Outro dentre tantos indícios está em Imagine, toda ela um hino em louvor ao Governo Mundial que abolirá, consumado o Plano, as fronteiras e os governos.
Quanto a Paul, foi realmente assassinado pelos jesuítas irlandeses responsáveis pela manutenção do temível segredo iniciático, e embora fosse um mero e pífio regular mate de Merseyside, acidentalmente conseguiu descobrir tudo durante uma de suas bad trips com ginger beer. Foi em seguida substituído por um membro da Opus Dei treinado desde criança, na Schola Cantorum de Salamanca, a cantar sempre uma terça abaixo.
Quanto a John, morto em 1981 por um facínora a serviço dos batistas norte-americanos, pode-se especular que tenha sido eliminado numa queima de arquivo, por não ser mais útil aos desígnios do Plano - e mesmo porque, àquela altura, já estava em plena atividade o Elton John, ulteriormente condecorado por Elisabeth II (todos os Windsor descendem de israelitas húngaros enriquecidos com o comércio de betume, e financiadores do Plano).
Desde os 80s, cujo impacto sobre a saúde mental dos fãs de música pop é bem conhecido, esse Grande Plano tem funcionado sem que ninguém suspeite. Seus últimos desdobramentos - boys bands, Latino e Live 8 - mostram que a primeira etapa chega inexoravelmente a uma conclusão exitosa.

8.8.05

O Papel Mata-Moscas

O papel mata-moscas Tangle-foot tem, aproximadamente, trinta e seis centímetros de comprimento por vinte e um de largura; vem revestido de uma cola amarela, tóxica, e sua origem é canadense. Quando uma mosca pousa nele - não necessariamente por voracidade e sim por convenção, já que muitas outras ali se encontram -, grudam-se, em primeiro lugar, suas pequenas patas através dos apêndices externos que se dobram. Uma sensação de todo agradável e estranha, semelhante à de caminharmos no escuro e com os pés descalços pisarmos, subitamente, em algo que não é senão uma suave, quente e incompreensível resistência; algo para o qual pouco a pouco vai afluindo o pavoroso humano, reconhecido como uma mão, que sem se saber por que, ali se encontra e nos crava os cinco dedos, cada vez mais penetrantes.
Ali estão todas elas, retesadas, tal qual vítimas de dores lombares, sem intenção de deixar transparecer qualquer coisa, ou como velhos e alquebrados militares (com as pernas levemente arqueadas, como se estivessem no alto de um monte inclinado). Mantêm-se em posição de sentido, reunindo força e concentração. Depois de alguns segundos, tomam uma decisão e, zumbindo, procuram erguer-se tanto quanto possível. Executam essa ação furiosa por longo período, até que a exaustão as obrigue a parar. Seguem-se uma pausa para descanso e uma nova tentativa. Mas os intervalos vão-se tornando mais e mais espaçados. Ali estão elas, e percebo seu desnorteio. Erguem-se uns vapores túrbidos. Suas línguas, tal qual pequenos martelos, passam a tocar o exterior. Sua cabeça é marrom e peluda, lembrando um coco, como ídolos negros antropomórficos. Inclinam-se para frente e para trás sobre as pequenas patas firmemente presas; ajoelham-se e se levantam, como fazem os homens ao tentar de todas as maneiras mover uma carga pesada demais; mais trágicas que os operários, mais verdadeiras na expressão esportiva que o extremo esforço de Laocoonte. E eis que chega o momento sempre igual e estranho em que a necessidade do segundo que passa triunfa sobre todos os sentimentos poderosos e permanentes do ser. É o momento em que um alpinista, ao sentir os dedos doendo, abre voluntariamente as mãos; o momento em que alguém, perdido, deita-se na neve como uma criança; o momento em que um perseguido pára, com os flancos a lhe arder. Elas já não têm mais forças para manter-se ali em baixo, vão afundando pouco a pouco e, nesse momento, são inteiramente humanas. Vêem-se de súbito presas numa nova posição, pela parte superior de suas patas, ou pela parte de trás do tronco, ou ainda pela ponta de uma das asas.
Vencido o esgotamento anímico, e retomada, depois de um breve momento, a batalha pela vida, estão agora em condições desfavoráveis, e seus movimentos se tornam antinaturais. Ficam pois deitadas, com as patas traseiras apoiadas nos cotovelos, na tentativa de se levantar. Ou sentadas no chão, enroladas, com os braços estendidos, como mulheres que buscam em vão desvencilhar as mãos dos punhos de um homem. Ou deitadas de bruços, com a cabeça e os braços para frente, como se tivessem sofrido uma queda em meio a uma corrida, com a cara para o alto. Mas o inimigo continua passivo, fazendo progressos graças aos instantes desesperados e confusos delas. Um nada, um isto, as vai puxando para dentro. Tão lentamente que mal se pode acompanhar e, na maior parte das vezes, com uma rapidez brusca ao final, quando lhes sobrevém o último esmorecimento interior. Elas deixam-se cair subitamente, com a cara para a frente e as patas separadas; ou de flanco, com todas as patas esticadas; não raro também, de lado, impelido para trás as patas como remos. E assim continuam ali. Como aeroplanos derrubados, com uma das asas apontadas para o ar. Ou como cavalos arrebentados. Ou com gestos infinitos de desespero. Ou como pessoas adormecidas. No dia seguinte, uma delas ainda volta a despertar; põe-se a tatear por instantes com a pata ou a vibrar as asas. Às vezes, tal movimento se dá em todo o grupo, para só então afundarem todas um pouco mais em sua morte. E nos flancos, na região da qual lhes saem as patas, resta-lhes um órgão qualquer, vibrante e pequeno, que pulsa ainda por um certo tempo. Para cima e para baixo - impossível caracterizá-lo sem uma lente de aumento -, assemelha-se a um minúsculo olho humano que se abre e fecha sem cessar.

(Robert Musil)

3.8.05

O disfarce perfeito

Morar numa casa centenária nos fundos de um quarteirão bem comprido. Cuidar da avó de 106 anos. Ser alto, negro e gay. Usar sempre muito incenso.

1.8.05

Comunicado ao Público

Adiantando-me à aprovação da lei do Aldo Rebelo, eliminei todas as expressões inglesas deste blogue, substituindo-as pelo calão inzoneiro. Penso, assim, ter prestado um serviço à Gloriosa Última Flor do Lácio e sobretudo aos leitores indignados com a existência de línguas estrangeiras.

31.7.05

Entrelido numa camiseta

Pain is temporary. Losing is forever.

30.7.05

No novo Rubem Fonseca, Mandrake volta sem fôlego

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Nas resenhas dos livros recentes de Rubem Fonseca, é comum ler que ele está se repetindo. Dizer isso é uma chatice, pois todo artista tem suas obsessões. Anões, charutos, vinhos, batráquios e mulheres são algumas das de Fonseca. Estão todas em "Mandrake: A Bíblia e a Bengala".Mas não é por isso que o livro não é um "grande Rubem Fonseca". Depois de oito anos sumido da obra do escritor, o advogado criminalista Mandrake (nascido Paulo Mendes) volta sem o mesmo vigor de outrora -o personagem também será tema neste ano de uma série da parceria Conspiração Filmes/HBO.Não há, nas duas novelas que compõem o livro, pistas de que ele esteja mais velho. Mandrake continua conquistador, volúvel (ama várias mulheres simultaneamente, talvez sem amar nenhuma), ágil fisicamente.Mas seu ritmo não é mais o sôfrego de "O Caso de F. A.", "Dia dos Namorados" e "Mandrake", contos do passado que, relidos hoje, não perderam nada da sua capacidade de deixar o leitor sem ar, acuado pela crueza de seus relatos, diálogos, imbróglios.O Mandrake do novo livro está um pouco mais calmo, disserta e contempla mais. É fiel à imagem de seu criador, que completou 80 anos em maio como um homem pleno de vigor físico e intelectual, mas um homem de 80 anos.Da mesma forma que em outras obras recentes, como "Diário de um Fescenino", Fonseca gasta várias páginas falando de seus -ou melhor, de Mandrake- prazeres (vinhos, charutos...), exibindo erudição, citando livros e curiosidades. É claro que há qualidade nas páginas, mas o ritmo das histórias sofre percalços.As tramas já são pretextos para esses passeios eruditos. "Em Mandrake e a Bíblia da Mogúncia", o advogado se envolve em um caso de furtos de livros raros, permeado por alguns assassinatos. O principal livro é a Bíblia do título, impressa por Gutenberg em 1462. Duas dessas raríssimas Bíblias ficam na Biblioteca Nacional, no Rio. Na novela, uma delas é furtada.Naturalmente, Mandrake resolve o caso, mas não sai ileso dele. Sua perna é baleada, o que o leva a ter de usar bengala, objeto-chave da segunda novela.Em "Mandrake e a Bengala Swaine", o anti-herói usa um arsenal de recursos para evitar a incriminação de uma suposta condessa e a sua própria -a bengala de que mais gosta é a arma utilizada para matar o marido de uma de suas amantes. Ele se safa, mas deixa claro, no final, que continua presa fácil de mulheres difíceis e histórias idem.Fonseca cria tramas paralelas que servem mais para aumentar o número de páginas do que para incrementar a narrativa. Na segunda novela, as peripécias da animada Jéssica ainda têm o tempero picante que não pode faltar em um livro do autor. Mas, na primeira, o caso do parvo farmacêutico Remy Gagliardi não ajuda muito. Mesmo sem o vigor do passado, é um prazer reencontrar Mandrake e outros personagens que o cercam, como o policial Raul, a enxadrista Berta e o sócio Weksler. Sobre este, uma curiosidade: nas histórias anteriores, ele se chamava Wexler; Fonseca escreve agora o nome correto de Luiz Weksler, que foi seu colega de faculdade e sócio em um escritório de advocacia que funcionou entre 1949 e 1951.E é sempre um prazer ler uma história escrita por Rubem Fonseca. Se ele se repete, está no seu direito como grande autor, ser humano e saudável octogenário.

Será a sério? Que espécies de rojões vagabundos são esses que a editora encomenda e recomenda nos releases que solta para a imprensa? Não sei se concordam, mas o tal Vianna simplesmente NÃO LEU o livro. O texto todo é muito menos significativo que as estrelinhas no rodapé. Eu também não li o Fonseca, mas vou fazê-lo, comme d'habitude, em muito breve.

25.7.05

Soluções mágicas

Em certo lugar de cujo nome quero esquecer-me, um grande amigo se submeteu por uma semana a um "tratamento" pago, hotel-fazenda, que lhe "restituiu" a autoconfiança, a coragem e a felicidade através da "reapropriação da capacidade de amar, o exercício da autonomia e a habilidade em manter um desenvolvimento pessoal e espiritual saudável através da experiência regeneradora do 'Eu' - a 'Essência', manifestação de nossa característica divina".
Por Júpiter. Não sei quanto custou, mas se são capazes disso tudo, foi barato. E rápido. Melhor que isso, talvez apenas o Êxtase de Santa Teresa de Ávila. A redenção ao alcance de qualquer um que pague e se apegue a esquemas mentais simplórios. Várias empresas, como é natural, já utilizaram os serviços dos bravos regeneradores de almas.
Isto é, trata-se de delírio messiânico não muito diverso de outras arapucas que falam de discos voadores.
Donde concluo tristemente que estou ficando sozinho no mundo.

21.7.05

London calling

Isso tudo em Londres faz-me lembrar daquele filme, Fim de Caso, em que uma historia de amor muito interessante eh arruinada pela carolice. Bombas explodindo na blitz enquanto rolava a velha introductio penis intra vas, ou como diz my dear droogie Alex, the old in-out-in-out: acho que no fim do filme a culpa pela metelanca acaba sendo expiada - pois os anglicanos, emulos envergonhados dos catolicos, tambem curtem uma culpazinha caliente, e depois o paroco cuida de tudo.
Eh realmente uma pena que eu nao seja religioso nem tenha uma Julianne Moore a minha espera em South Kensington, mas fazemos o que podemos. Espero escapar de pelo menos uns dois bons atentados.

19.7.05

Sexo com cavalo mata homem nos EUA

da France Presse

Um homem morreu nos Estados Unidos depois de ter relações sexuais com um cavalo em um sítio que funcionava como um "prostíbulo de animais", em Enumclaw, 60 km a sudeste de Seattle (Estado de Washington), de acordo com informações divulgadas pela polícia nesta segunda-feira.A vítima, um homem de 40 anos, sofreu graves lesões internas e seu corpo foi deixado por desconhecidos em um hospital de Seattle, no dia 2 de julho, pouco depois do ato."Do médico legista ao comissário, passando pelos investigadores, ninguém jamais viu algo remotamente parecido com isto", disse à France Presse Eric Sortland, chefe da polícia de Enumclaw. "Seu cólon rompeu, como os órgãos inferiores da mesma região, e a hemorragia o matou", completou.

Enquete: serah Brasilia, de factum, um prostibulo de animais? Se sim, quem sao os animais e quem sao os currados? Alem de nos mesmos, eh claro.

14.7.05

Verao em Devia

Faz calor no noroeste da Inglaterra. Algo como 22 graus, mas bastou. A limpeza das ruas e a alvura da pele de muitos ingleses transformaram-se rapidamente, desde o fim-de-semana, em vermelhidao camaronica e gramados palmilhados de pontas e embalagens plasticas.
Donde concluo que o que confere a dignidade ocidental, ordeira e positiva a estas terras do norte - pelo menos no olhar deslumbrado de quem preza urbanidades que tais - eh o frio.
Donde concluo que o maior e talvez unico de nossos males eh o calor, nosso intermitente e dissoluto calor. O sangue engrossa em nossos vasos suarentos, os navegantes portugueses o sentiram desde logo e deu no que deu.
Como jah disse Rubem Fonseca: os mendigos de Sao Paulo vestem-se com maior dignidade e aparentam mais donaire que os do Rio justamente por causa das periodicas inclemencias do clima paulistano. Frio e civilizacao, barbarie e calor.
Agora, esses paquistaneses...

Agora tambem na versao mais-que-mil-palavras

http://www.flickr.com/photos/igethigh

7.7.05

Liverpool

Ontem, em Chinatown (a mais antiga da Europa, dizem as placas; pena que tambem ha muito fecharam as casas de efluvios papoulicos), bebi cerveja chinesa. E, pasmem, encontrei uma loja maconica chinesa.
E, sim, fui ao Cavern Club e tirei fotos que venderei a 40 libras aos interessados.

6.7.05

O diabo tenta

Acabaram de propor-me ficar aqui por 3 meses. Oh hell. Que fazer? Devo impor que condicoes? Passagens semanais para Faro? Imunidade policial? Batatas fritas gratis?

Chester

Em 1645, o Rei assistiu da torre nordeste, nas muralhas, a seu exercito ser trucidado pelas tropas do Parlamento. Eita cidade mais realista!

5.7.05

Real Alfandega Venarda ou Como me Tornei Contrabandista

Esta eh, evidentemente, uma narrativa alegorica.

Conta-se, mas Bob Jeff sabe mais, que eu estava na boca do caixa do free-shop em Guarulhos, ansioso para fazer reconhecido meu direito de usufruir um super-binoculo do caralho (as libras na mao estimulavam o espirito levemente voyeur do consumismo desenfreado). E num eh que, metendo a mao no bolso, percebi que havia perdido o cartao de embarque? Incrivel. Comecaram as ilegalidades: o moco do caixa me vendeu o traste mesmo sem ele ("olha, eu vou quebrar essa pra voce, mas o certo &c."). Fui entao ate o federal do controle de passaportes e ele me disse para voltar ao balcao da companhia aerea. Como? "Ah, voce desce aquela escada ali e tal". Chegou uma especie de supervisora balofa pra fazer onda: "Eh, mas veja lah com a Receita sobre esse negocio que voce comprou, pode ser que eles encrenquem". Pois, descendo as tais escadas, descobri-me na fila do desembarque internacional! Um outro solicito federal, ao ouvir as minhas razoes: "vai lah, passa aih". Andando mais alguns passos, cheguei ao balcao da Receita, onde repeti a lenga-lenga a um sonado oficial alfandegario: "ah, nao tem problema, vai lah". Abriu-se uma portinhola eletronica e eis que estava no saguao principal do aeroporto, livre e aberto para o mundao.
Isto eh, tecnicamente tornei-me um contrabandista. Nesse caso especifico, meu cao (oxitona fechada, please) era verdadeiro, estupidamente verdadeiro, mas nao eh uma excelente burla das instituicoes mais arcanas da Republica?

4.7.05

From London

Civilizacao dos tijolos e da ausencia de diacriticos.

30.6.05

Entrementes, na Lusitânia...

Dançava-se o samba em Frankfurt e nem a inesperada queda de água no Waldstadion, após a cedência da cobertura do recinto, que não resistiu à chuva, esmoreceu os festejos canarinhos. Se um jogo entre estes dois países nunca é amistoso, ganhar é importante, golear é quase a glória suprema e o Brasil tinha caminho aberto para continuar a marcar. Adriano fez o 4-0 e os rostos humilhados dos jogadores argentinos já eram impossíveis de se esconder.

28.6.05

Agenciamento de palavras de ordem

Trechos seletos da revista corporativa da Acme Brothers, ecoando supostos e ovinos consumidores. Respostas à pergunta retórica "E para você, o que significa vitalidade?"

- "Eu quero fazer mais e estou sofrendo mais pressão em tudo o que faço - no trabalho e em casa. Eu preciso aumentar meus níveis de energia física e mental e recarregar minhas baterias (sic)."
- "Se eu tiver uma aparência melhor, vou me sentir melhor. Estou procurando coisas que me ajudem a controlar meu peso, a me manter em forma e ativo - e se puder aparentar menos idade, melhor ainda!"
- "Se for viver mais, quero me manter em forma. Meu coração, meu corpo e todos os meus sentidos precisam permanecer fortes. Se eu cuidar do meu corpo, a longo prazo minha saúde se cuidará sozinha (sic)."

27.6.05

Federais (II)

Hoje cedo, encontrei no setor de passaportes:
- a seleção brasileira e feminina de futebol;
- o maestro John Neschling;
- dois integrantes de uma seita católica cujo hábito cáqui se completa com botas SS e correntes de metal à guisa de cinta;
- um hidrocéfalo.

Follow the money

A segurança terceirizada do prédio da Polícia Federal, no Piqueri, compete a uma empresa chamada Fort Knox.

24.6.05

Back to sixties... 1460's

A Liga do Norte, partido de extrema-direita na Itália, apresentou um projeto de lei nesta semana que permite a castração de condenados por estupro. A proposta surgiu em meio ao aumento de registros no número de estupros no norte da Itália e a um debate que aponta a ampliação da imigração como a causa.

22.6.05

Delírio messiânico

Enforcar o último manager com as tripas do último papa.

20.6.05

25 de março

A data refere algum acontecimento já perdido na noite tenebrosa das sessões legislativas que batizam ruas. Certamente uma batalha ignominiosa, uma rendição incondicional negociada por 30 dinheiros ou ainda o glorioso nascimento da filha d'algum tribuno redundantemente cara-de-pau.
Mas que concretude colorida a dos tênis falsos! Perfumes de Paris, aris, chineses, coreanos, camelôs, electrônicos, bugigangas sem finalidade determinável, pirataria, contrabando, galerias infindáveis, mais chineses.
A 25 é daqueles lugares a que só se chega mal-intencionado.

16.6.05

Buenos Aires, 16 de junho de 1955

Os aviões da Marinha argentina que bombardearam a Plaza de Mayo, tentando matar Perón, tinham a seguinte expressão escrita na fuselagem: "Cristo Vence".

Bomba: the coupling couple

Diogo Vilela monta Cauby

15.6.05

Peixe na água.

Durante sua audiência geral desta quarta-feira, o papa Bento 16 pediu aos católicos que "orem pelos países humilhados por Estados arrogantes [sem citar nenhum país]". Ao final, colocou um capacete de bombeiro, usou o telefone celular de um fiel e vestiu um colar africano.

14.6.05

Splat-gore

"Meu Professor de Piano é Bacharel em Engenharia Cartográfica!"

Theodor W. Adorno e Max Horkheimer - Dialéctica do esclarecimento

Há uma coisa, porém, a propósito da qual a ideologia oca não admite brincadeiras: a previdência social. "Ninguém deve sentir fome e frio; quem sentir vai para o campo de concentração: " essa pilhéria da Alemanha hitlerista poderia estar a brilhar como uma máxima sobre todos os portais da indústria cultural. Ela pressupõe com astuta ingenuidade o estado que caracteriza a sociedade mais recente: o facto de que ela sabe muito bem reconhecer os seus. A liberdade formal de cada um está garantida. Ninguém tem que se responsabilizar oficialmente pelo que pensa. Em compensação, cada um se vê desde cedo num sistema de igrejas, clubes, associações profissionais e outros relacionamentos, que representam o mais sensível instrumento de controle social. Quem não quiser se arruinar deve tomar cuidado para que, pesado segundo a escala desse aparelho, não seja julgado leve demais. De outro modo, dará para trás na vida e acabará por ir a pique. O facto de que em toda carreira, mas sobretudo nas profissões liberais, os conhecimentos especializados estão, via de regra, ligados a uma mentalidade de conformismo às normas enseja facilmente a ilusão de que os conhecimentos especializados são os únicos que contam. Na verdade, faz parte do planejamento irracional dessa sociedade reproduzir sofrivelmente tão-somente as vidas de seus fiéis. A escala do padrão de vida corresponde com bastante exactidão à ligação interna das classes e dos indivíduos com o sistema. Pode-se confiar no manager, e confiável também é o pequeno empregado, Dagwood, tal como este vive na página humorística e na realidade. Quem tem frio e fome, sobretudo quando já teve boas perspectivas, está marcado. Ele é um outsider e, abstracção feita de certos crimes capitais, a culpa mais grave é a de ser um outsider. Nos filmes, ele será no melhor dos casos um indivíduo original, objecto de um humorismo maldosamente indulgente. Na maioria dos casos, será o vilão, identificado como tal desde sua primeira aparição, muito antes que a acção tenha se desenvolvido o suficiente para não dar margem ao erro de acreditar, ainda que por um instante apenas, que a sociedade se volta contra as pessoas de boa vontade. De facto, o que se desenvolve actualmente é uma espécie de Estado de bem-estar social em grande escala. Para afirmar sua própria posição, as pessoas conservam em movimento a economia na qual, graças à técnica extremamente desenvolvida, as massas do próprio país já são, em princípio, supérfluas enquanto produtoras. Os trabalhadores, que são na verdade aqueles que provêem a alimentação dos demais, são alimentados, como quer a ilusão ideológica, pelos chefes económicos, que são na verdade os alimentados. A posição do indivíduo torna-se assim precária. No liberalismo, o pobre era tido como preguiçoso, hoje ele é automaticamente suspeito. O lugar de quem não é objecto da assistência externa de ninguém é o campo de concentração, ou pelo menos o inferno do trabalho mais humilde e dos slums. A indústria cultural, porém, reflecte a assistência positiva e negativa dispensada aos administrados como a solidariedade imediata dos homens no mundo dos competentes. Ninguém é esquecido, todos estão cercados de vizinhos, assistentes sociais, Dr. Gillespies e filósofos domésticos de bom coração, que intervêm bondosamente junto a cada pessoa para transformar a miséria perpetuada socialmente em casos individuais curáveis, na medida em que a depravação da pessoa em questão não constitua um obstáculo. A manutenção de uma atmosfera de camaradagem segundo os princípios da ciência empresarial - atmosfera essa que toda fábrica se esforça por introduzir a fim de aumentar a produção - coloca sob controle social o último impulso privado, justamente na medida em que ela aparentemente torna imediatas, reprivatiza, as relações dos homens na produção. Esta espécie de "assistência aos flagelados" espiritual lança uma sombra conciliatória sobre os produtos audiovisuais da indústria cultural muito antes que esse auxílio saia da fábrica e se estenda sobre toda a sociedade. Mas os grandes ajudantes e benfeitores da humanidade, cujos feitos científicos têm de ser apresentados pelos escritores como actos de compaixão, a fim de extrair deles um fictício interesse humano, funcionam como lugar-tenentes dos chefes das nações, e estes acabam por decretar a eliminação da compaixão e sabem prevenir todo contágio depois de exterminado o último paralítico.

Theodor W. Adorno e Max Horkheimer - Dialéctica do esclarecimento: A Indústria Cultural.

Michael Jackson

Eu me lembro que, aos 8 anos, dançava Thriller imitando toscamente aqueles passos do break. Mas tinha medo de assistir ao clip.

13.6.05

Exasperação

No Rouge, os juízes, na véspera da prova de admissão à magistratura (motivo aliás presente desde o Dekalog 7, "Não Matarás"), deixam cair um livro da bibliografia que estudam. Um cai no fosso da orquestra de um teatro, o outro na faixa de pedestres. Ambos, especularmente, caem abertos no ponto que por coincidência (sic) cai na prova do dia seguinte.
Que fazer? Esperar que os livros caiam sozinhos da estante?

O Concerto Triplo

Confesso: derramei variegadas e furtivas lágrimas ao ouvir o movimento central do concerto supra. Martha Argerich, Renaud Capuçon e Mischa Maisky são os inflamados solistas nesta gravação com Rabinovitch e a Orchestra della Svizzera Italiana, ao vivo, no Festival de Lugano em 12 de setembro de 2002.
Como já o disse algures nossa mais tosca e inimitável amiga, sentimentos são para os fracos, certo?

Francisco Mignone

Conta-se, mas Allah sabe mais, que já idoso, o ilustre maestro, tocando uma de suas Valsas de Esquina, pôs-se a chorar e lamentar-se: "O que eu queria ter escrito mesmo era a Tosca".

10.6.05

Enquete

Algum de vocês já recebeu propostas de mensalão?

8.6.05

Utilidade pública das linhas de fuga

http://www.webdeleuze.com/php/sommaire.html

Terminei Bouvard e Pécuchet

A seqüência de assuntos dos quais os dois palermas tiram uma infinitude de ensinamentos imbecis e desencontrados é:

I. Agricultura
II. Ciências naturais
III. Arqueologia
IV. Literatura
V. Economia política
VI. Sentimento, Amor
VII. Misticismo, Filosofia
VIII. Religião
IX. Socialismo

A transição direta entre história e literatura, que reproduzimos algures, é hilária. No capítulo amoroso, a sífilis contraída de Mélie é simultânea aos eventos de 1848. Na "Educação", Frédéric obtém os favores da Marechala em meio às barricadas. No capítulo Religião, o vendedor de quinquilharias católicas, Gouttman, é naturalmente um usurário judeu.

Corolário Maupassant

Quem quer que tenha escrito sobre um assunto qualquer terá dito às vezes uma tolice.

São Tomé: Jesus morreu vítima de um coágulo, diz estudo

Segundo resultados de sua pesquisa, divulgada hoje pela publicação médica The Journal of Thrombosis and Haemostasis, o coágulo teria chegado a um pulmão. Brenner chegou a essa conclusão com o argumento de que Jesus, descendente de uma família judia de Nazaret, em Galiléia, no norte de Israel, sofreria - como outras pessoas dessa origem nessa região - de "trombofilia", isto é, seria propenso a tromboses.
O médico israelense afirma que, embora tenha sofrido antes da crucificação, a perda de sangue pelas feridas que sofreu não teria sido suficiente para provocar sua morte.

7.6.05

Varsóvia, 1981

Martha toca Schumann, Kinderszenen 1, e na platéia cuja parcela é visível detrás do piano apenas chineses. De óculos.

Brahms e Flaubert

Irmãos na Idéia. 11 anos os separam, e pelo menos uma revolução.
Um piadista norte-americano (e também maestro) dizia que nas salas de concerto se deveriam colocar placas na direção das saídas de emergência com a inscrição "EXIT IN CASE OF BRAHMS".
No Steppenwolf Brahms é mencionado pelo MozartMarley-Virgílio que acompanha o raríssimo herói ao Alquém do Além: "Brahms. Esse (Brahms, ao longe, carrega um enorme carro cheio de pedras) jamais conseguirá" - malgrados os poucos ipsis-líteris.
Quando Brahms morreu em Viena, em 1897 (certamente de incontinência urinária), via telégrafo os navios abrigados no porto de Hamburgo tocaram sinais e badalaram buzinas, arriando bandeiras.
Flaubert, que foi condecorado (em vida) por Napoleão III, o Único, teve como Brahms sua Madame Sch-., 14 anos mais velha Clara, a Arnoux uns 10 ou 11.

Idéias feitas (II)

Seguindo o enorme sucesso de público da primeira parte, vamos a mais algum tio Gustavo.

Alemães - Povo de sonhadores (velhos).
Ave - Desejar ser uma ave e dizer, suspirando, "Asas! Asas!" demonstra alma poética.
Apartamento de rapaz - Sempre em desordem. - Com bugigangas de mulheres espalhadas por toda parte. - Cheiro de cigarro. - Encontram-se aí coisas extraordinárias.
Clássicos - Deve-se fingir conhecê-los.
Constipação - Todos os homens de letras são constipados. - Influi sobre as convicções políticas.
Conversação - A política e a religião dever ser excluídas.
Estoicismo - É impossível.
Febre - Prova de sangue forte. - É causada pelas ameixas.
Ímpio - Combatê-lo.
Ingleses - Todos ricos.
Inglesas - Espantar-se que tenham filhos lindos.
Poeta - Sinônimo nobre de parvo (sonhador).
Sainte-Beuve - Na sexta-feira santa só jantava salsichas.
Tempo - Eterno tema de conversação. - Queixar-se sempre dele.
Wagner - Escarnecer quando se ouvir o seu nome, e pilherar sobre a música do futuro.

Idéias feitas

Alguns verbetes do utilíssimo dicionário, para continuar com o Cisne de Rouen:

Época (atual) - Revoltar-se contra ela. - Deplorar que não seja poética. - Chamá-la de época de transição, de decadência.
Erudição - Desprezá-la como prova de espírito limitado.
Funcionário - Inspira respeito, qualquer que seja função que exerça.
Gentil-homem - Não há mais gentis-homens.
Italianos - Todos músicos e traidores.
Latim - Língua natural do homem. - Estraga a caligrafia. - Serve unicamente para ler as inscrições das fontes públicas. - Desconfiar das citações latinas, pois ocultam sempre algo de licencioso.
Ortografia - Acreditar nela como se acredita nas matemáticas (e na geometria).
Valsa - Deve-se combatê-la.

Ramires em ultra-resumo

À noite, quando se acalmaram, Bouvard e Pécuchet retomaram o fio dos acontecimentos, reconsiderando quem teria bebido o Calvados, como é que a arca se espatifara, o que reclamara a Sra. Castillon ao chamar por Gorju, e se este havia desonrado Mélie.
- Nós ignoramos - disse Bouvard - o que se passa em nossa casa, mas queremos saber como eram os cabelos e os amores do Duque de Augoulême!
Pécuchet acrescentou:
- Quantas questões mais importantes e de mais difícil solução!
Daí concluíram que os fatos exteriores não são tudo; é preciso completá-los com a psicologia. Sem imaginação, a história é falha.
- Mandemos vir alguns romances históricos!

6.6.05

Martha, para variar

A maior surpresa, assistindo a esse vídeo que acabei de load down de Anete: descobrir que ela já foi gordinha. Minha namorada, Martha Argerich, já foi cheinha a ojos vistos. E eu que nunca suspeitei.

Bíblia do Executivo

A Bíblia do Executivo despertará o prazer de inspirar e conduzir pessoas segundo o estilo de liderança baseado na palavra dinâmica e eterna de Deus. De R$ 79,00 por R$ 69,90.

3.6.05

apud Pilatos

Que é a verdade, hein, hein?

apud Richard Rorty

Dizer que falamos a verdade sobre algo é apenas nos cumprimentar pela utilidade de um jargão inovador.

2.6.05

apud Goebbels

A mentira é uma espécie de verdade ainda muito jovem para que se lhe dê o suficiente crédito.

1.6.05

Para a Anistia Internacional, a prisão de Guantánamo é um gulag

"Algumas vezes há alegações de maus-tratos, mas, se você for investigar, em quase todos os casos elas vieram de alguém que estava preso, foi solto e agora fica contando mentiras sobre como foi tratado", disse Cheney. De acordo com o vice, os prisioneiros de Guantánamo "têm sido bem tratados, de maneira humana e decente".

28.5.05

Flaubert e a rua da Cadeia

Ler "A Educação Sentimental" nesta Vila de Nossa Sa. das Dores do Rio Verde é ver passarem a cada quarteirão 15 Nogents e todas as suas imutáveis personagens. Especial atenção para as jovens burguesas, que desde o advento da soja andam até meio bovarianas ao contrário.

25.5.05

Lido algures no orkut

Livros: Harry Potter... outros mas não sei o nome...

Salve salve a Grande Chuva

Alckmin terá de retirar suas placas comemorativas de 2 anos sem enchentes no Tietê;

24.5.05

Sócrates: "A Musa me ama"

Eu também, meu bom Crátilo, há muito me admiro de minha própria sabedoria, e mal posso nela acreditar.

Augusta, mon amour

A Augusta, às 19 horas de um dia de semana em sua esquina antoniocárlica e como de resto em todo o seu resto, é uma zoeira ininterrupta de gente voltando do trabalho, gente indo trabalhar, gente indo para a escola, gente enchendo a cara, gente indo ao banheiro dar um retoque no nariz, gente jogando celulares ao chão, gente pedido ovo extra, gente dizendo que já beijou menina e é delicado, gente pedindo esmola, gente vendendo bala, gente pegando táxi, a banca fechando, o esgoto malcheirando, o rum batendo e a lua saindo.
Nós amamos a Rua Augusta, pelo muito de tudo que ela escoa e deglute.

22.5.05


Fortuna, PIF-PAF, 22 de junho de 1964. Posted by Hello
Clica!

18.5.05

Indústria aposta nos gamers de Cristo

A notoriedade conquistada por companhias como Digital Praise, Micro Forte e N'Lightning Software é explicada pela proposta de criar games de valores cristãos, muitas vezes até inspirados em passagem bíblicas. Alguns profissionais da área argumentam que esse é um mercado em potencial de 10 bilhões de dólares.


Proponho também:

- sabonetes kosher, fabricado apenas com gordura de animais devidamente massacrados em rituais rabínicos;
- cigarros gospel, em que a advertência do ministério (com trocadilho) seja acompanhada, ou de preferência substituída, por outra, "Deus é Fiel" - "God is Faithful" na versão exportação para Trinidad e Tobago.
- filmes pornográficos budistas, em que os atores sejam monges tibetanos e a ação se constitua apenas de conjunções nirvânicas e perversões alopécicas.

13.5.05

Todos os direitos da imagem são de Millôr Fernandes, mas espero que ele não apareça para reinvidicá-los.

Revista PIF-PAF, 22 de junho de 1964. Clica no cachorrinho.Posted by Hello

12.5.05

Feel good about fat - Enjoy Nutrition Episode 2

Dear human resource,

This is the second episode of Acme Brothers Enjoy Nutrition series.
Learn in a few brief moments why your body needs fat, what types of fat are particularly good and how much you should eat per day.
Use our fun online tools to see if you can

- build a healthy sandwich - with the right balance of fats
- spot the good fats in different pairs of foods
- hit the jackpot in selecting foods that are low in fat

10.5.05

Ignore this terrible drug

Em janeiro de 1942, um grupo de 500 soldados alemães, estacionado no front do leste e cercado pelo Exército Vermelho, estava tentando escapar. A temperatura era de -30Cº. Um médico do exército loteado nesta unidade escreveu no seu relatório que, por volta da meia-noite, quando eles vinham fugindo havia seis horas, avançando na neve que, em certos lugares, chegava à altura da cintura, "em número cada vez maior, os soldados estavam tão esgotados que eles começaram a se deitar simplesmente na neve". Os oficiais que comandavam o grupo decidiram então dar Pervitin aos seus homens. "Meia-hora mais tarde", prosseguiu o médico no seu relatório, "os homens começaram a se animar espontaneamente; eles diziam se sentir melhor. Eles retomaram a sua marcha de maneira ordenada, os seus espíritos haviam melhorado de repente, e eles se tornaram mais alertas".
Pitágoras, se é que o gajo existiu no duro, acreditava que tudo na Natureza são números. Platão (esse existiu mesmo, e como existiu), séculos depois, disse que temos pescoço apenas para impedir que a cabeça, cuja forma esférica foi espelhada na própria circularidade imaculada do mundo, saísse rolando por este planeta tão cheio de vales e protuberâncias.
Qualquer semelhança com Antonio Palocci é mera interpretação anagógica.

6.5.05

Acknowledgments

As informações sobre demonismo e táticas transsssexuais do post anterior me foram gentilmente comunicadas, em aula, pelo prof. Kretzschmar, aliás excelente jogador de biriba.

Stairway to heaven

Para o Santo Ofício da Inquisição, os pecados sexuais, também eles, estavam dispostos numa certa hierarquia. Quanto maior a proximidade do demo, mais certa era a fogueira. Assim:

1. Sexo fora do casamento: pecadilhozinho social, ainda assim de acordo com as santas leis de deus.
2. Punheta: every sperm is sacred. Além disso, as bruxas colhem as secreções para preparar maleficia para as crianças da vila.
3. Perobagem: a famosa maniera italiana. Diz-se que os florentinos eram pródigos nessa modalidade.
4. Bestialismo: galinhas, gatas, cabritas, ovelhas, vaquinhas jeitosas...
5. Com o Demo-ele-mesmo: fogueira automática, danação eterna e orgasmos certamente diabólicos.

Filantropia, essa vaca

Recentemente, a Acme Brothers demitiu uns tantos terceirizados que desempenhavam funções humilhantes e subalternas (contar consumer mesmerizing particles, à pinça, no meio de centenas de carreiras de pó; manejar os lençóis mijados que vêm de um asilo para que caridosamente representem a sujeira do porcalhão médio-alto e muitos outros etc. quiçá inda mais nauseantes).
Para seus lugares, convocaram surdos, pernetas, down e demais estropiados. Recebem, presume-se, salários consideravelmente mais miseráveis que o de seus antecessores, sob o pretexto - oficial - de que já recebem, de todo modo, uma puta ajuda, e que de outro modo estariam à míngua, e que são todos desqualificados porque rico deficiente vira escritor memorialístico. Mas ocorre que agora são realmente funcionários, isto é, contam por cabeça na hora HHHH do imposto de renda e demais incentivos teletônicos.

MORAL: Os Acme são protestantes.

5.5.05

A quem interessar possa

DIA MUNDIAL PELA LEGALIZAÇÃO DA CANNABIS
Sábado 07 de Maio de 2005
São Paulo
10h Ato Público e Debate – Câmara Municipal de São Paulo
12h30 Caminhada até a Praça da República
15h30 Show de Rock no É de Lei
Debate com:
Paulo Teixeira – Vereador de SP
Edward Macrae - Antropólogo
Luiz Paulo Guanabara – Militante Antiproibicionista
Andréa Domânico – Psicóloga
Marcelo Niel - Psiquiatra
Maria Lucia Karam – Juíza
Tiago Reis – THC Ministery
É de Lei - Rua 24 de Maio, 116 4o andar – República – fone 3337-6049
informações: redeverdesp@yahoo.com.br


NB: Que raios será esse THC Ministery? Uma igreja?

Uakti

Feita a ressalva de que é um disco produzido por uma companhia-genuinamente-brasileira-que-fabrica-cosméticos-genuinamente-naturais interessada em promover-se descaradamente em cima da miséria da música instrumental brasileira (as mocinhas com amostra de perfume da praxe estavam realmente à entrada do teatro), esse novo Oiapok Xuí, dos mineiros malucos e seus instrumentos ibidem, é do caralho. Destaque ultra para as variações sobre "Águas de Março", que começam com a quinta justa da melodia como fundamento da harmonia: xilofones, vibrafones, vidrofones, e até berimbau de três cordas, provavelmente inspirado nalgum instrumento do Cazaquistão, vão se sobrepondo, enchendo o acompanhamento, até a entrada da flauta abençoada do Artur Andrés. O teclado nem atrapalha!

Minha primeira bicicleta foi uma caloi cecizinha

Eu devia ter uns 6 ou 7 anos. Meu pai, que fazias as vezes do Noel, comprou para minha irmã uma cecizinha dourada, e para mim uma azul. Enquanto isso, meu primo ganhava do noel dele uma BMX. Essa assimetria na justiça distributiva do natal marcaria profundamente minhas convicções políticas no futuro.

2.5.05

Cinema digital já!

Koolhaas começou no cinema, como roteirista, e sua abordagem eclética e cinematográfica se evidencia em espaços que dão a impressão de ter sido editados, roteirizados e acompanhados de evidências, embora evitem ao máximo fazer qualquer narrativa.

Go on, Malatesta!

"De certa maneira, a economia do desenvolvimento de hoje se parece com a medicina do século 18, quando os doutores usavam sanguessugas para chupar o sangue de seus pacientes".

Bico do papagaio

Folha - Que outras torturas havia?
Vieira Bezerra - Muitos tipos de tortura, muitos, muitos, muitos.

Bandeira 2

Agora também temos catraca.

1.5.05

O Pêndulo

Entre as pessoas que foram detidas e depois colocadas sob libertade condicional estavam 76 simpatizantes da extrema-esquerda, além de participantes da contra-manifestação, e nove militantes do movimento de extrema-direita, segundo a mesma fonte. A situação voltou à normalidade na noite deste domingo.

28.4.05

As coisas belas são difíceis

Macacos do zoológico de Tel Aviv comerão pães ázimos [sem fermento ou levedura] durante a semana de Pessach (Páscoa judaica), que começa na noite deste sábado, para que os empregados não manipulem levedura, cujo consumo é proibido para os judeus nestas datas.

Heitor Villa-Lobos

Em 1923, no salon de uma condessa decadente qualquer, em Paris, encontrou-se com o já então muito célebre violonista espanhol Andrés Segovia. Depois de Villa tocar ao violão, para assombro de todos, seus prelúdios e choros, Segovia ressalva: "Bonito, mas você usou o polegar para tocar, e isso em violão clássico é inadmissível". E Villa: "Ah, é? Se você não usa o polegar, porque não corta ele fora?". Tornaram-se grandes amigos.

Franz Schubert

Em 1815, aos 17 anos, enviou a Goethe, em Weimar, a partitura autógrafa de um lied sobre sua (dele) balada "Die Erlkönig". O bardo, que até então sempre reprovara a utilização de poemas seus para a composição de canções, mesmo por Beethoven, foi obrigado a mudar de opinião.

27.4.05

From Hell (II)

- É que eu não sei as concepções artísticas dela.
- Acho que são meio Jardins, mas ela parece que é socialista.

From Hell (I)

- Mas um concerto inteiro só com violoncelo solo? Ainda se fosse uma música só, mas o programa todo? Acho um absurdo.

- (tap, tap, tap, tap) (mão marcando o ritmo da Giga da Suíte no. 4)

- Tá bom, tchau. (Ao celular, durante a Courante da Suíte no. 6)

26.4.05

EUA encerram buscas por armas de destruição em massa no Iraque

(...) O documento, divulgado na noite de segunda-feira, afirma que todos os entrevistados iraquianos "negaram saber alguma coisa sobre restos de armas de destruição em massa que pudessem ter sido enviados em segredo à Síria".

Como se trata de um despacho da agência espanhola EFE, gostaria de saber dos nossos amigos poliglotas se "entrevistados", nesse caso, pode ser falso cognato ou tradução equívoca do termo correspondente, em português, a "torturados".

Murilo Mendes

Em março de 1938, diante das alarmantes notícias da anexação da Áustria pela Alemanha, escreveu um telegrama ao chanceler alemão, Adolf Hitler, vazado mais ou menos nos seguintes termos:

RETIRE-SE IMEDIATAMENTE DA MINHA CIDADE PT

WOLFGANG AMADEUS MOZART

Johann Sebastian Bach

Em 1706, aos 21 anos, pediu licença às autoridades eclesiásticas de Arnstadt para ausentar-se durante quatro semanas de suas funções como organista da Neue Kirche. Pretendia ir até Lübeck assistir aos concertos anuais promovidos pelo famoso Kantor Dietrich Buxtehude, e assim instruir-se apropriadamente para incrementar as composições que deveria, por contrato, fornecer à municipalidade.
Autorizado, percorreu os 350 Km a pé. Sua permanência em Lübeck alongou-se por 4 meses. Só não se estabeleceu como organista na famosa cidade hanseática, sucedendo Buxtehude, porque, de acordo com a tradição, deveria casar-se com a filha do mestre, então encalhada aos 30 anos.
No ano seguinte, casou-se com a prima em segundo grau, Maria Barbara.

Dependência cruzada

Anda circulando pelos sítios noticiosos um suposto estudo científico - realizado por cientistas cuja britanicidade é também presumida - em que se diz que ler emeios e usar comunicadores instantâneos de forma compulsiva, atitudes modernas cujo exercício intensivo será mister confessarmos logo, são atos nefastos que reduzem em até 10 pontos o QI dos pobres e desgraçados dependentes. Compara-se ainda esse prejuizaço ao hipotético sumiço de inteligência na cachola esfumaçada dos maconheiros, e a droga eletrônica bate a erva nesse contencioso lobotômico.
Ora, direis, e os dois efeitos combinados, de que hecatombes neuronais não seriam capazes?

25.4.05

De la galantería

Tienen su bizarría las almas, harto más relevante que la de los cuerpos; gallardía del espíritu, con cuyos galantes actos queda muy airoso un corazón. Llévanse los ojos del alma bellezas interiores, así como los del cuerpo la exterior, y son más aplaudidas aquéllas del juicio que lisonjeada ésta del gusto.

(do jesuíta Gracián, discretíssimo)

24.4.05

Da série Bento (II)

Além do tal do Ratzi, o de Machado. Continuación.
Até hoje, na mesma plaza do Zero Grau, o espaço de grama contravenctoriamente ocupado, durante anos, por um pit-dog (como por lá, não se sabe ao certo porquê, ficaram conhecidas as carrocinhas de junk food by night), não passa de um quadrado de solo estéril e gorduroso. Em Inglês, por justiça fonética, descreveria-o ainda como Awkward (palavra sabidamente, aliás, de origem inoue).
Manga, da mangueira que se pode ver como limite do avanço da urbs sobre o cerrado, nas fotos aéreas antigas, só das muito verdes, que a meninada geral ainda tem os estômagos bem curtidos nessa tradicionalíssima (cf. anedotário variegado) guerra do azedo com o salgado.

E não percam a emocionante continuação desta história de subúrbios: minha primeira bicicleta foi uma caloi cecizinha.

22.4.05

O projeto de Bentinho é, de saída, um fiasco

Depois de quase 15 anos, voltamos (mesmo in absentia estou sempre aqui; é como diz minha avó: quem bebeu água do Córrego do Sapo sempre volta, ou ainda, nunca sai) a morar em Rio Verde.
Quando nada, foi a segunda cidade do Estado a ter energia elétrica (minha mãe, cuja infância coincidiu em parte com esses tempos heróicos, diz que as lâmpadas de então iluminavam tanto quanto tomates maduros). Há também, alhures, uma colônia relativamente antiga de amish, e suas mulheres podem ser vistas às sextas-feiras nos supermercados da cidade a abarrotarar as carrocerias das camionetes (amish aculturados, já se vê) com goodies industrializados. A melhor lanchonete da cidade, algo como RioBurger, pertence, aliás, a um cidadão expulso dessa comunidade, provavelmente por excesso de aggiornamento.
As primeiras impressões ainda são confusas, principalmente porque a casa em que viemos morar fica literalmente ao lado da casa histórica, construída por meu pai nos idos de 1977, quando as ruas ainda eram de terra. As imagens e as lembranças se sobrepõem apenas precariamente. Alguém – as Parcas? o Pantocrator? alguém que simultaneamente detenha o controle das imobiliárias e do Universo? – deve estar a nos pregar peças.
Dali do quintal, por exemplo, posso ver as caixas d’água aonde subia para espiar o movimento das ruas em redor e, mais tarde, com uma lunetinha que comprara para ver o Halley, as árvores, as casas e as pessoas do outro lado do córrego (o Barrinha, marco miliário do centro da cidade, em sua raia sudestã). Mais além, o prédio de 18 andares, segundo a ser construído e que tem apartamentos de 400 metros – a soja tinha que beneficiar alguém, afinal.
A mangueira da praça. Os coqueiros da mesma, cujos troncos ainda exibem as pixações a canivete da juventude dos eighties transviados no Zero Grau, boteco onde, consta, rolava devassidão, consumo de cocaína diretamente das bandejas e roquenrol (continua).

PS: Bretodeau, você já leu "The Purloined Letter", do Poe? Tudo esteve, o tempo todo, no lugar o mais conspícuo possível: no bolso dianteiro da calça. Funcionou maravilhosamente, recomendo.

20.4.05

wild wild west

A conservar-se o momentum ocidentalizante, no sentido estrito do termo, da sucessão dos papas, levará ainda algumas gerações até alguém peninsulo-descendente vir a papa.
Da Polônia à Baviera e depois, quem sabe, à Holanda!, aí sim falaremos das autênticas vlaamse frites.

19.4.05

Alquimia e conclave

A indefectível fumacinha, pasmem, é na verdade o resultado de diversas operações de condensação e sublimação a partir de uma prima materia que só pode estar escondida atrás do afresco do Juízo Final (uma boa dica será apertar o olho esquerdo de Caronte). Fumaça preta denota que a porção de Mercúrio primordial usada estava batizada. Fumaça branca simboliza uma carreira absolutamente pura.

Joseph Ratzinger

O Santo Ofício da Inquisição, repaginado, voltou ao poder.

Joannes Chrisostomos Wolfgang Gotlieb Mozart

Em maio de 1770, aos 14 anos, foi condecorado pelo papa Clemente XIV por ter conseguido transcrever o Miserere a 8 vozes de Allegri, de memória e tendo-o ouvindo apenas uma vez na Capela Sistina.
Em dezembro de 1791, a 1 mês e 22 dias de completar 36 anos, morreu de falência renal em Viena.

18.4.05

Glenn Gould

Quando morreu, encontraram-lhe no quarto diversas caixas cheias de cadernos. Nos cadernos, anotações diárias das temperaturas de diversas cidades canadenses e do exterior, acumuladas ao longo de pelo menos duas décadas.

György Ligeti

Kubrick gostava.

Igor Stravinsky

Russo, foi malhado sem dó por Adorno. "Pulcinella" é uma abominação neoclássica, Diaghilev a pomba gorda que rejeitou um ballet de Ravel.

Stan Getz

Stanley. Conta Ruy Castro que o "Getz-Gilberto" só saiu depois que foram às groceries vizinhas comprar whisky pro cara. A pedido de Mr. Gilberto: "o gringo precisa beber mais".

Dames en Herren

Niet te roken!

Still Shall We?

A vontade nada mais é do que a própria mente.

Ainda o Millôr

"Como tudo é relativo, se você se mantiver apenas curvado diante dos poderosos quando todos os outros estão agachados, será considerado um homem de grande altivez".

Pensei em colocar esse Millôr no mural aqui da Acme Brothers, mas provavelmente teria de fazê-lo às escondidas, o que é sempre muito trabalhoso num ambiente supervisionado por câmeras e outras escutas corporativas. Tant pis pour elles.

17.4.05

From seventies

"A superstição é uma paixão negativa nascida da imaginação que, impotente para compreender as leis necessárias do universo, oscila entre o medo dos males e a esperança dos bens. Dessa oscilação, a imaginação forja a idéia de uma Natureza caprichosa, dentro da qual o homem é um joguete. Em seguida, essa concepção é projetada num ser supremo e todo-poderoso, que existiria fora do mundo e o controlaria segundo seu capricho: Deus. Nascida do medo e da esperança, a superstição faz surgir uma religião onde Deus é um ser colérico ao qual se deve prestar culto para que seja sempre benéfico. A superstição cria uma casta de homens que se dizem intérpretes da vontade de Deus, capazes de oficiar os cultos, profetizar eventos e invocar milagres. A superstição engendra, portanto, o poder que domina a massa popular ignorante. O poder religioso, por sua vez, forma um aparato militar e político para sua sustentação, de forma tal que a superstição está na raiz de todo Estado autoritário e despótico, onde os chefes se mantêm fortes alimentando o terror das massas, com o medo dos castigos e com suas esperanças de recompensa. Toda filosofia que tentar explicar a Natureza apoiada na idéia de um Deus transcendente, voluntarioso e onipotente, não será filosofia, será apenas uma forma refinada de superstição".

Texto com "consultoria" de Marilena Chauí, volume Espinosa da coleção os pensadores, 1973.

16.4.05

Clarice e seus demônios

"O piano martelava notas cintilantes numa parede de ar. Embora esse procedimento fosse em sua origem totalmente real, as paredes da sala desapareciam, e em seu lugar surgiam as paredes douradas da música, aquele aposento misterioso no qual eu e mundo, sensação e percepção, interior e exterior se precipitam um no outro, se fundem de maneira muito indefinida".

Com isso está provada a utilização de maconha pelo autor, Herr Musil.

15.4.05

No apartamento

Lendo o "Crátilo". Nomes, tudo nomes. Assim, se a contigüidade dos apartamentos, num dado recôncavo da cidade (claustrofóbico, para os adoradores de telescópios) compõe uma rede de correspondências sutis entre as ações e influências dos moradores, unidades de ligação entre unidades de existência - nomes de estrelas - que papel teriam os jatos, os pardais, os regos d'água na sarjeta e seus padrões de velocidade na rua, nesse desenho?

13.4.05

Comentários agora sim, na ativa

A Que-Me-Xingou resolveu o problema, me avisando da impossibilidade democrática de meus dezessete (uh, arrasa!) leitores deixarem comentários.

Rule, Britannia!

A bit of a mnemonic poem for knowing by heart the most glorious line of Kings of England since William the Norman, Regular, Hurrah! Conqueror.

Willie Willie Harry Stee
Harry Dick John Harry three;
One two three Neds, Richard two
Harrys four five six....then who?
Edwards four five, Dick the bad,
Harrys (twain), Ned six (the lad);
Mary, Bessie, James you ken,
Then Charlie, Charlie, James again...
Will and Mary, Anna Gloria,
Georges four, Will four Victoria;
Edward seven next, and then
Came George the fifth in nineteen ten;
Ned the eighth soon abdicated
Then George six was coronated;
After which Elizabeth
And that's all folks until her death.

(de um site profeticamente baseado em Delaware, USA)

The Tempest (Folio, 1623)

No século XVII, segundo a razão de Estado de His Maiesty, The King James, a Mulher está entre os marinheiros e os espíritos e abaixo dos bobos, usurpadores, bêbados e escravos deformados. A ver a lista de protagonistas da famosa peça de Shakespeare, disposta hierárquica e prudentemente do mais alto até o mais baixo, até o Espiritual (!?):

Names of the Actors

Alonso, K. of Naples.
Sebastian, his Brother.
Prospero, the right Duke of Millaine.
Anthonio, his brother, the usurping Duke of Millaine.
Ferdinand, Son to King of Naples.
Gonzalo, an honest old Councellor.
Adrian & Francisco, Lords.
Caliban, a salvage and deformed slave.
Trinculo, a jester.
Stephano, a drunken Butler.
Master of a Ship.
Boat-Swaine.
Marriners.
Miranda, daughter to Prospero.
Ariel, an ayrie spirit.
Iris
Ceres
Iuno ------ Spirits
Nymphes
Reapers

De um crítico literário, nas folhas de hoje

Sainte-Beuve defendeu a criação de um código de ética que tenha o mínimo consenso entre os jornalistas. Afastou qualquer possibilidade de esse código sofrer influência do Estado: "A liberdade de imprensa tem um limite, mas esse limite é interno. A pessoa sempre sabe quando está exagerando ou mentindo".

"O Trabalho liberta" é a divisa dos Acme.

Ninguém ignora que tiro meu suntuoso sustento das atividades alucinatórias que desempenho diariamente na Acme Brothers: consumer mesmerizing optimization, very subtle procrastination operations e tantas outras expressões tão multinacionais quanto o ato de enrolar escrevendo blogs, digo, blobs.
Pois, espelhando-me no exemplo de um Kertész, de um Levi, ofereço abaixo um pequeno testemunho do que se passa aqui, na vizinhança do toilet das Górgonas.
De um comunicado interno, inocentemente muralístico:

Dez Mandamentos para dormir melhor

I. Procure deitar e se levantar em horários regulares todas as noites.
II. Vá para a cama somente quando estiver com sono.
III. Não use a cama para leitura, ver televisão ou alimentar-se. A cama deve estar relacionada com o ato de dormir.
IV. Evite ficar na cama sem dormir. Isto gera stress e piora a insônia.
V. Relaxe antes de se deitar, um banho quente ou a diminuição da luminosidade do quarto podem ajudar.
VI. Evite o uso de álcool e cafeína pelo menos 6 horas antes do seu horário de dormir.
VII. Não se alimente próximo ao horário de dormir.
VIII. Evite cochilar durante o dia, eles atrapalham seu sono à noite.
IX. Procure se ocupar durante o dia, evitando o ócio.
X. Faça atividades físicas regulares, porém evite exercícios fortes no final do dia.

12.4.05


Àqueles que não me conhecem pessoalmente, os happy few, vai um retratinho recente. Posted by Hello

Ouvistes pois as trombetas de Clio?

Porque o momento é, reconheceremos todos, histórico. Como repetição, já que é a terceira ou quinta vez que começo um blob, digo, blog.
Este blog começa assim, começando mesmo.

Disserratevi, o porte d'Averno

Salve Orlando.
Salve Júlia e salve a Céci.
Salve Dante. Salve Caetano e Gil! Chefe Zequiel e meus queridos amigos Sérgio, Donato, Dani, Breno, Augustus, Nilton. Salve Sérgio Reis. Salve Edson. Salve salve Agameton e Maria Ivonete, Adriano e PC, salve o Ricardo.
Salve Daniel, o que morreu e o que virou professor de grego.
Salve Salve.