29.12.14

Ontem alguém me disse que estou "perdendo tempo" ao fazer pós-doutorado, oferecendo gentilmente a alternativa de passar num concurso de fiscal da receita estadual como equivalente de "ganhar tempo", isto é, dinheiro. Confessei-lhe então (hélas, somente em pensamento) que sempre prefiro ser a ter, sobretudo se para ter for necessário o estômago de um búfalo.

11.12.14

Goiás e Minas Gerais são os dois únicos estados que não têm litoral ou fronteira internacional (Tocantins para mim sempre será Goiás) - e, portanto, têm direito geodésico a reivindicar uma brasilidade mais radical, se é que cousas como o Brasil e as raízes existem.

2.9.14

Já estou conformado com a perspectiva de ser governado pelo Tea Party de soja. Em São Paulo, sobretudo, o Opus Dei e a Assembleia de Deus lideram as pesquisas entre o coxinhismo. Ultraliberalismo (na versão sustentável), Bíblia (na tradução crente) e sustentabilidade (em vulgar: juros não poluem) nos redimirão dos excessos distributivos do comunismo ateu e nos libertarão para sempre da sanha vermelha, revelando novamente a verdade eterna da livre iniciativa de concentrar renda.

15.5.14

Excelente miniconto policial com fortes (voluntárias?) ressonâncias bandeirianas no Correio da Manhã de 15 de setembro de 1953, p. 3:

"Valentias" do "João Grande"

Durval Agostinho de Sá, de 24 anos, solteiro, operário, residente na rua São Henrique, n. 267, foi agredido a pau, na tarde de ontem, na feira de Cordovil, por um indivíduo da alcunha de João Grande, com o qual tinha uma rixa antiga. O agredido conseguiu fugir, após sofrer ferimentos superficiais. Encontrara-se, porém, o agressor com o pai da vítima, Antônio Agostinho de Sá, de 87 anos, operário, residente na rua Álvaro Macedo, n. 425, e com o mesmo travou forte discussão, durante a qual João Grande sacou de uma faca, ferindo a sua nova vítima na face esquerda. Em socorro do agredido acorreu o filho Jorge César de Sá, de 28 anos, casado, operário, residente na Parada Angélica, sem número, o qual também recebeu ferimento, a faca, na mão esquerda. Foram socorridos no Hospital Getúlio Vargas, e aí receberam os necessários curativos. O agressor fugiu. A polícia do 21o. Distrito Policial encetou as necessárias diligências.

20.4.14

Hoje faz 14 anos que escapei quase ileso de um terrível acidente de ônibus, no qual muita gente morreu ou se feriu gravemente. Digo, acho que escapei - às vezes penso que morri e este mundo é o outro. Um dos outros.

19.4.14

"Lembro, enfim, que tempos atrás ele estava em Zurique e que foi apanhado por uma tormenta de neve.
Para escapar dela, entrou num bar de fim de tarde. E contou para um de seus irmãos: 'Tudo estava em penumbra. Um homem tocava piano para casais de namorados. E entendi que eu queria ter sido aquele homem que tocava sem que ninguém visse o seu rosto. Tocava só para que os namorados se amassem mais.'"
(Eric Nepomuceno sobre García Márquez)

25.3.14

O cara que estava na minha frente na fila para sacar o FGTS na Caixa era a cara do Bolsonaro. Já no atendimento, na mesa ao lado um casal de funcionários do Bradesco se rendia ao petralhismo habitacional - e recebia sinceros parabéns das pessoas que os escorcharão de juros pelos próximos trinta anos. Enquanto isso, os seguranças cochichavam pelos fones e davam risadinhas às custas de todos.

1.3.14

Desde 2006 que venho ajuntando mp3 (já vinha antes, mas naquele annus horribilis aconteceu o Grande Colapso do Meu HD e perdi tudo), e agora passei de 50 mil músicas na coleção. Não que me orgulhe disso (além de tudo incorro em pesado crime de direitos autorais), mas fiquei pensando na trabalheira danada que deu reunir esse montão de música. Porque: 1. É preciso baixar; 2. É preciso converter o que foi baixado no item 1 (porque só baixo, claro "loseless audio"); 3. É preciso dividir em faixas o convertido no item 2; 4. É preciso adicionar informações de compositor e álbum ao que foi dividido no item 4; e 5. Transferir para o iPod, se é o caso.
Realmente, muitas horas de voo com a belonave pirata nestes últimos oito anos. Mas o lado bom é que tenho música para ouvir sem repetição por mais de 150 dias, sei lá, se for obrigado a me exilar nalgum rincão dominado por facções armadas do funk ou do sertanejo.