10.11.06

Cerradas (IV)

A "crise no campo" - isto é, o acometimento mais ou menos sazonal de uma febril necessidade de trocar o possante Peugeault pelo charmoso Renot (Liberté é o nome da concessionária Renot em Rondonópolis) - compeliu recentemente centenas de latifundiários a um protesto anti-Governo que interrompeu com tratores e pneus em chamas o tráfego da rodovia federal - quase sob as janelas condicionadas do escritório de Diego.
Enquanto observa a fumaça negra evolar-se rapidamente das barricadas, Diego bebe um cinnamon capuccino (grátis na máquina do corredor). Tirando os sapatos (é horário de almoço, sozinho) suspira cansado.
As intempéries do mercado de alimentação de suínos, ainda bem, não parecem ter afetado a prosperidade profissional do nosso herói. Ao contrário, a gerência regional de carbon credits trade é um cargo prestigiado em tempos de incertezas.
Enquanto os agricultores (sic) protestam e depredam, hostilizando malhando massacrando um boneco fatiotado e vagamente barbudo, Diego pensa em Rejane.
Rejane é sua amante mais ou menos regular, bastante morena e ligeiramente prognata, que conheceu numa noite de bebedeira no forró. Diego só acordou algumas horas depois, no motel, e teve um sobressalto: a moça era, em verdade vos digo, bastante feia.

7.11.06

Confissão

Num filme por mim condignamente pirateado contrabandeado roubado com o auxílio de uma excelente mula (e-mule) de arquivos, aviãozinho infalível, aparece repentinamente uma legenda corporativa anti-pirataria - instantes após as personagens discutirem o sucesso de vendas do livro ("a tiny bestseller") recém-publicado por uma delas. Significância?

5.11.06

Esperança

"Lula vai à praia e estréia sunga verde."

2.11.06

Cerradas (III)

Rebento da classe média-alta paulistana (Vila Mariana), Diego é católico (crismado) e de ascendência misturadamente européia: ao longo das décadas, italianos, espanhóis e alemães acasalaram-se com crioulos, portugueses e caboclos para que o atual esplendor entre grãos de seu dileto descendente pudesse acontecer na borda oesteã do Planalto Central.
Diego tem apenas um irmão. Daniel chegou a se formar em Sociologia pela Usp e, depois de trabalhar poucos mas afluentes anos numa empresa norte-americana de pesquisa de marketing, hoje em dia milita numa organização do terceiro setor que recolhe os fundos obtidos com a reciclagem de embalagens usadas de agrotóxicos no norte do Espírito Santo para a assistência aos desvalidos índios da Ilha do Bananal. Votou, naturalmente, em Alckmin, porque a "crise no campo" reduziu em um terço a quantidade de embalagens descartadas à beira das rodovias capixabas.
Diego, como ele, odeia Lula. É mesmo possível imaginar que os sinais de plástico colante mal-apagados sobre a luzidia lataria negra da traseira de seu Nissan tenham sido produzidos por um adesivo do devoto das gravatas amarelas retirado em dias recentes, mas não há certeza: perguntado, Diego se irrita e, levemente alterado, começa a desfilar um infindável rosário de vitupérios e doestos contra o Governo.
Será melhor falarmos do Palmeiras.