28.4.05

As coisas belas são difíceis

Macacos do zoológico de Tel Aviv comerão pães ázimos [sem fermento ou levedura] durante a semana de Pessach (Páscoa judaica), que começa na noite deste sábado, para que os empregados não manipulem levedura, cujo consumo é proibido para os judeus nestas datas.

Heitor Villa-Lobos

Em 1923, no salon de uma condessa decadente qualquer, em Paris, encontrou-se com o já então muito célebre violonista espanhol Andrés Segovia. Depois de Villa tocar ao violão, para assombro de todos, seus prelúdios e choros, Segovia ressalva: "Bonito, mas você usou o polegar para tocar, e isso em violão clássico é inadmissível". E Villa: "Ah, é? Se você não usa o polegar, porque não corta ele fora?". Tornaram-se grandes amigos.

Franz Schubert

Em 1815, aos 17 anos, enviou a Goethe, em Weimar, a partitura autógrafa de um lied sobre sua (dele) balada "Die Erlkönig". O bardo, que até então sempre reprovara a utilização de poemas seus para a composição de canções, mesmo por Beethoven, foi obrigado a mudar de opinião.

27.4.05

From Hell (II)

- É que eu não sei as concepções artísticas dela.
- Acho que são meio Jardins, mas ela parece que é socialista.

From Hell (I)

- Mas um concerto inteiro só com violoncelo solo? Ainda se fosse uma música só, mas o programa todo? Acho um absurdo.

- (tap, tap, tap, tap) (mão marcando o ritmo da Giga da Suíte no. 4)

- Tá bom, tchau. (Ao celular, durante a Courante da Suíte no. 6)

26.4.05

EUA encerram buscas por armas de destruição em massa no Iraque

(...) O documento, divulgado na noite de segunda-feira, afirma que todos os entrevistados iraquianos "negaram saber alguma coisa sobre restos de armas de destruição em massa que pudessem ter sido enviados em segredo à Síria".

Como se trata de um despacho da agência espanhola EFE, gostaria de saber dos nossos amigos poliglotas se "entrevistados", nesse caso, pode ser falso cognato ou tradução equívoca do termo correspondente, em português, a "torturados".

Murilo Mendes

Em março de 1938, diante das alarmantes notícias da anexação da Áustria pela Alemanha, escreveu um telegrama ao chanceler alemão, Adolf Hitler, vazado mais ou menos nos seguintes termos:

RETIRE-SE IMEDIATAMENTE DA MINHA CIDADE PT

WOLFGANG AMADEUS MOZART

Johann Sebastian Bach

Em 1706, aos 21 anos, pediu licença às autoridades eclesiásticas de Arnstadt para ausentar-se durante quatro semanas de suas funções como organista da Neue Kirche. Pretendia ir até Lübeck assistir aos concertos anuais promovidos pelo famoso Kantor Dietrich Buxtehude, e assim instruir-se apropriadamente para incrementar as composições que deveria, por contrato, fornecer à municipalidade.
Autorizado, percorreu os 350 Km a pé. Sua permanência em Lübeck alongou-se por 4 meses. Só não se estabeleceu como organista na famosa cidade hanseática, sucedendo Buxtehude, porque, de acordo com a tradição, deveria casar-se com a filha do mestre, então encalhada aos 30 anos.
No ano seguinte, casou-se com a prima em segundo grau, Maria Barbara.

Dependência cruzada

Anda circulando pelos sítios noticiosos um suposto estudo científico - realizado por cientistas cuja britanicidade é também presumida - em que se diz que ler emeios e usar comunicadores instantâneos de forma compulsiva, atitudes modernas cujo exercício intensivo será mister confessarmos logo, são atos nefastos que reduzem em até 10 pontos o QI dos pobres e desgraçados dependentes. Compara-se ainda esse prejuizaço ao hipotético sumiço de inteligência na cachola esfumaçada dos maconheiros, e a droga eletrônica bate a erva nesse contencioso lobotômico.
Ora, direis, e os dois efeitos combinados, de que hecatombes neuronais não seriam capazes?

25.4.05

De la galantería

Tienen su bizarría las almas, harto más relevante que la de los cuerpos; gallardía del espíritu, con cuyos galantes actos queda muy airoso un corazón. Llévanse los ojos del alma bellezas interiores, así como los del cuerpo la exterior, y son más aplaudidas aquéllas del juicio que lisonjeada ésta del gusto.

(do jesuíta Gracián, discretíssimo)

24.4.05

Da série Bento (II)

Além do tal do Ratzi, o de Machado. Continuación.
Até hoje, na mesma plaza do Zero Grau, o espaço de grama contravenctoriamente ocupado, durante anos, por um pit-dog (como por lá, não se sabe ao certo porquê, ficaram conhecidas as carrocinhas de junk food by night), não passa de um quadrado de solo estéril e gorduroso. Em Inglês, por justiça fonética, descreveria-o ainda como Awkward (palavra sabidamente, aliás, de origem inoue).
Manga, da mangueira que se pode ver como limite do avanço da urbs sobre o cerrado, nas fotos aéreas antigas, só das muito verdes, que a meninada geral ainda tem os estômagos bem curtidos nessa tradicionalíssima (cf. anedotário variegado) guerra do azedo com o salgado.

E não percam a emocionante continuação desta história de subúrbios: minha primeira bicicleta foi uma caloi cecizinha.

22.4.05

O projeto de Bentinho é, de saída, um fiasco

Depois de quase 15 anos, voltamos (mesmo in absentia estou sempre aqui; é como diz minha avó: quem bebeu água do Córrego do Sapo sempre volta, ou ainda, nunca sai) a morar em Rio Verde.
Quando nada, foi a segunda cidade do Estado a ter energia elétrica (minha mãe, cuja infância coincidiu em parte com esses tempos heróicos, diz que as lâmpadas de então iluminavam tanto quanto tomates maduros). Há também, alhures, uma colônia relativamente antiga de amish, e suas mulheres podem ser vistas às sextas-feiras nos supermercados da cidade a abarrotarar as carrocerias das camionetes (amish aculturados, já se vê) com goodies industrializados. A melhor lanchonete da cidade, algo como RioBurger, pertence, aliás, a um cidadão expulso dessa comunidade, provavelmente por excesso de aggiornamento.
As primeiras impressões ainda são confusas, principalmente porque a casa em que viemos morar fica literalmente ao lado da casa histórica, construída por meu pai nos idos de 1977, quando as ruas ainda eram de terra. As imagens e as lembranças se sobrepõem apenas precariamente. Alguém – as Parcas? o Pantocrator? alguém que simultaneamente detenha o controle das imobiliárias e do Universo? – deve estar a nos pregar peças.
Dali do quintal, por exemplo, posso ver as caixas d’água aonde subia para espiar o movimento das ruas em redor e, mais tarde, com uma lunetinha que comprara para ver o Halley, as árvores, as casas e as pessoas do outro lado do córrego (o Barrinha, marco miliário do centro da cidade, em sua raia sudestã). Mais além, o prédio de 18 andares, segundo a ser construído e que tem apartamentos de 400 metros – a soja tinha que beneficiar alguém, afinal.
A mangueira da praça. Os coqueiros da mesma, cujos troncos ainda exibem as pixações a canivete da juventude dos eighties transviados no Zero Grau, boteco onde, consta, rolava devassidão, consumo de cocaína diretamente das bandejas e roquenrol (continua).

PS: Bretodeau, você já leu "The Purloined Letter", do Poe? Tudo esteve, o tempo todo, no lugar o mais conspícuo possível: no bolso dianteiro da calça. Funcionou maravilhosamente, recomendo.

20.4.05

wild wild west

A conservar-se o momentum ocidentalizante, no sentido estrito do termo, da sucessão dos papas, levará ainda algumas gerações até alguém peninsulo-descendente vir a papa.
Da Polônia à Baviera e depois, quem sabe, à Holanda!, aí sim falaremos das autênticas vlaamse frites.

19.4.05

Alquimia e conclave

A indefectível fumacinha, pasmem, é na verdade o resultado de diversas operações de condensação e sublimação a partir de uma prima materia que só pode estar escondida atrás do afresco do Juízo Final (uma boa dica será apertar o olho esquerdo de Caronte). Fumaça preta denota que a porção de Mercúrio primordial usada estava batizada. Fumaça branca simboliza uma carreira absolutamente pura.

Joseph Ratzinger

O Santo Ofício da Inquisição, repaginado, voltou ao poder.

Joannes Chrisostomos Wolfgang Gotlieb Mozart

Em maio de 1770, aos 14 anos, foi condecorado pelo papa Clemente XIV por ter conseguido transcrever o Miserere a 8 vozes de Allegri, de memória e tendo-o ouvindo apenas uma vez na Capela Sistina.
Em dezembro de 1791, a 1 mês e 22 dias de completar 36 anos, morreu de falência renal em Viena.

18.4.05

Glenn Gould

Quando morreu, encontraram-lhe no quarto diversas caixas cheias de cadernos. Nos cadernos, anotações diárias das temperaturas de diversas cidades canadenses e do exterior, acumuladas ao longo de pelo menos duas décadas.

György Ligeti

Kubrick gostava.

Igor Stravinsky

Russo, foi malhado sem dó por Adorno. "Pulcinella" é uma abominação neoclássica, Diaghilev a pomba gorda que rejeitou um ballet de Ravel.

Stan Getz

Stanley. Conta Ruy Castro que o "Getz-Gilberto" só saiu depois que foram às groceries vizinhas comprar whisky pro cara. A pedido de Mr. Gilberto: "o gringo precisa beber mais".

Dames en Herren

Niet te roken!

Still Shall We?

A vontade nada mais é do que a própria mente.

Ainda o Millôr

"Como tudo é relativo, se você se mantiver apenas curvado diante dos poderosos quando todos os outros estão agachados, será considerado um homem de grande altivez".

Pensei em colocar esse Millôr no mural aqui da Acme Brothers, mas provavelmente teria de fazê-lo às escondidas, o que é sempre muito trabalhoso num ambiente supervisionado por câmeras e outras escutas corporativas. Tant pis pour elles.

17.4.05

From seventies

"A superstição é uma paixão negativa nascida da imaginação que, impotente para compreender as leis necessárias do universo, oscila entre o medo dos males e a esperança dos bens. Dessa oscilação, a imaginação forja a idéia de uma Natureza caprichosa, dentro da qual o homem é um joguete. Em seguida, essa concepção é projetada num ser supremo e todo-poderoso, que existiria fora do mundo e o controlaria segundo seu capricho: Deus. Nascida do medo e da esperança, a superstição faz surgir uma religião onde Deus é um ser colérico ao qual se deve prestar culto para que seja sempre benéfico. A superstição cria uma casta de homens que se dizem intérpretes da vontade de Deus, capazes de oficiar os cultos, profetizar eventos e invocar milagres. A superstição engendra, portanto, o poder que domina a massa popular ignorante. O poder religioso, por sua vez, forma um aparato militar e político para sua sustentação, de forma tal que a superstição está na raiz de todo Estado autoritário e despótico, onde os chefes se mantêm fortes alimentando o terror das massas, com o medo dos castigos e com suas esperanças de recompensa. Toda filosofia que tentar explicar a Natureza apoiada na idéia de um Deus transcendente, voluntarioso e onipotente, não será filosofia, será apenas uma forma refinada de superstição".

Texto com "consultoria" de Marilena Chauí, volume Espinosa da coleção os pensadores, 1973.

16.4.05

Clarice e seus demônios

"O piano martelava notas cintilantes numa parede de ar. Embora esse procedimento fosse em sua origem totalmente real, as paredes da sala desapareciam, e em seu lugar surgiam as paredes douradas da música, aquele aposento misterioso no qual eu e mundo, sensação e percepção, interior e exterior se precipitam um no outro, se fundem de maneira muito indefinida".

Com isso está provada a utilização de maconha pelo autor, Herr Musil.

15.4.05

No apartamento

Lendo o "Crátilo". Nomes, tudo nomes. Assim, se a contigüidade dos apartamentos, num dado recôncavo da cidade (claustrofóbico, para os adoradores de telescópios) compõe uma rede de correspondências sutis entre as ações e influências dos moradores, unidades de ligação entre unidades de existência - nomes de estrelas - que papel teriam os jatos, os pardais, os regos d'água na sarjeta e seus padrões de velocidade na rua, nesse desenho?

13.4.05

Comentários agora sim, na ativa

A Que-Me-Xingou resolveu o problema, me avisando da impossibilidade democrática de meus dezessete (uh, arrasa!) leitores deixarem comentários.

Rule, Britannia!

A bit of a mnemonic poem for knowing by heart the most glorious line of Kings of England since William the Norman, Regular, Hurrah! Conqueror.

Willie Willie Harry Stee
Harry Dick John Harry three;
One two three Neds, Richard two
Harrys four five six....then who?
Edwards four five, Dick the bad,
Harrys (twain), Ned six (the lad);
Mary, Bessie, James you ken,
Then Charlie, Charlie, James again...
Will and Mary, Anna Gloria,
Georges four, Will four Victoria;
Edward seven next, and then
Came George the fifth in nineteen ten;
Ned the eighth soon abdicated
Then George six was coronated;
After which Elizabeth
And that's all folks until her death.

(de um site profeticamente baseado em Delaware, USA)

The Tempest (Folio, 1623)

No século XVII, segundo a razão de Estado de His Maiesty, The King James, a Mulher está entre os marinheiros e os espíritos e abaixo dos bobos, usurpadores, bêbados e escravos deformados. A ver a lista de protagonistas da famosa peça de Shakespeare, disposta hierárquica e prudentemente do mais alto até o mais baixo, até o Espiritual (!?):

Names of the Actors

Alonso, K. of Naples.
Sebastian, his Brother.
Prospero, the right Duke of Millaine.
Anthonio, his brother, the usurping Duke of Millaine.
Ferdinand, Son to King of Naples.
Gonzalo, an honest old Councellor.
Adrian & Francisco, Lords.
Caliban, a salvage and deformed slave.
Trinculo, a jester.
Stephano, a drunken Butler.
Master of a Ship.
Boat-Swaine.
Marriners.
Miranda, daughter to Prospero.
Ariel, an ayrie spirit.
Iris
Ceres
Iuno ------ Spirits
Nymphes
Reapers

De um crítico literário, nas folhas de hoje

Sainte-Beuve defendeu a criação de um código de ética que tenha o mínimo consenso entre os jornalistas. Afastou qualquer possibilidade de esse código sofrer influência do Estado: "A liberdade de imprensa tem um limite, mas esse limite é interno. A pessoa sempre sabe quando está exagerando ou mentindo".

"O Trabalho liberta" é a divisa dos Acme.

Ninguém ignora que tiro meu suntuoso sustento das atividades alucinatórias que desempenho diariamente na Acme Brothers: consumer mesmerizing optimization, very subtle procrastination operations e tantas outras expressões tão multinacionais quanto o ato de enrolar escrevendo blogs, digo, blobs.
Pois, espelhando-me no exemplo de um Kertész, de um Levi, ofereço abaixo um pequeno testemunho do que se passa aqui, na vizinhança do toilet das Górgonas.
De um comunicado interno, inocentemente muralístico:

Dez Mandamentos para dormir melhor

I. Procure deitar e se levantar em horários regulares todas as noites.
II. Vá para a cama somente quando estiver com sono.
III. Não use a cama para leitura, ver televisão ou alimentar-se. A cama deve estar relacionada com o ato de dormir.
IV. Evite ficar na cama sem dormir. Isto gera stress e piora a insônia.
V. Relaxe antes de se deitar, um banho quente ou a diminuição da luminosidade do quarto podem ajudar.
VI. Evite o uso de álcool e cafeína pelo menos 6 horas antes do seu horário de dormir.
VII. Não se alimente próximo ao horário de dormir.
VIII. Evite cochilar durante o dia, eles atrapalham seu sono à noite.
IX. Procure se ocupar durante o dia, evitando o ócio.
X. Faça atividades físicas regulares, porém evite exercícios fortes no final do dia.

12.4.05


Àqueles que não me conhecem pessoalmente, os happy few, vai um retratinho recente. Posted by Hello

Ouvistes pois as trombetas de Clio?

Porque o momento é, reconheceremos todos, histórico. Como repetição, já que é a terceira ou quinta vez que começo um blob, digo, blog.
Este blog começa assim, começando mesmo.

Disserratevi, o porte d'Averno

Salve Orlando.
Salve Júlia e salve a Céci.
Salve Dante. Salve Caetano e Gil! Chefe Zequiel e meus queridos amigos Sérgio, Donato, Dani, Breno, Augustus, Nilton. Salve Sérgio Reis. Salve Edson. Salve salve Agameton e Maria Ivonete, Adriano e PC, salve o Ricardo.
Salve Daniel, o que morreu e o que virou professor de grego.
Salve Salve.