22.4.05

O projeto de Bentinho é, de saída, um fiasco

Depois de quase 15 anos, voltamos (mesmo in absentia estou sempre aqui; é como diz minha avó: quem bebeu água do Córrego do Sapo sempre volta, ou ainda, nunca sai) a morar em Rio Verde.
Quando nada, foi a segunda cidade do Estado a ter energia elétrica (minha mãe, cuja infância coincidiu em parte com esses tempos heróicos, diz que as lâmpadas de então iluminavam tanto quanto tomates maduros). Há também, alhures, uma colônia relativamente antiga de amish, e suas mulheres podem ser vistas às sextas-feiras nos supermercados da cidade a abarrotarar as carrocerias das camionetes (amish aculturados, já se vê) com goodies industrializados. A melhor lanchonete da cidade, algo como RioBurger, pertence, aliás, a um cidadão expulso dessa comunidade, provavelmente por excesso de aggiornamento.
As primeiras impressões ainda são confusas, principalmente porque a casa em que viemos morar fica literalmente ao lado da casa histórica, construída por meu pai nos idos de 1977, quando as ruas ainda eram de terra. As imagens e as lembranças se sobrepõem apenas precariamente. Alguém – as Parcas? o Pantocrator? alguém que simultaneamente detenha o controle das imobiliárias e do Universo? – deve estar a nos pregar peças.
Dali do quintal, por exemplo, posso ver as caixas d’água aonde subia para espiar o movimento das ruas em redor e, mais tarde, com uma lunetinha que comprara para ver o Halley, as árvores, as casas e as pessoas do outro lado do córrego (o Barrinha, marco miliário do centro da cidade, em sua raia sudestã). Mais além, o prédio de 18 andares, segundo a ser construído e que tem apartamentos de 400 metros – a soja tinha que beneficiar alguém, afinal.
A mangueira da praça. Os coqueiros da mesma, cujos troncos ainda exibem as pixações a canivete da juventude dos eighties transviados no Zero Grau, boteco onde, consta, rolava devassidão, consumo de cocaína diretamente das bandejas e roquenrol (continua).

PS: Bretodeau, você já leu "The Purloined Letter", do Poe? Tudo esteve, o tempo todo, no lugar o mais conspícuo possível: no bolso dianteiro da calça. Funcionou maravilhosamente, recomendo.

4 comentários:

Anônimo disse...

"E não vê também que tais esconderijos tão recherchés só são empregados em ocasiões ordinárias e por inteligências comuns?" -- Dupin

e pensar que a dani sugeriu, justamente, o bolso da calça.

Eva disse...

é, junto com o isqueiro (procura! procura!)

Érico disse...

Não confundir isqueiro com cinzeiro, confusão comum quando se trata de atividades poéticas - imagino que por causa da rima.

flogisto_calavera disse...

eu confundo calendário com dicionário. mas isso sou eu.