7.7.07

Pops neocons

(o autor do texto abaixo se assina weden; é capaz de malhar Reynalds Hollywoods e adjacências excrescentes com muito mais elegância que eu; segue, então, a íntegra)

Há um estilo literário novo no Brasil.

Talvez alguns incautos o comparem aos de personagens antigos. Mas este estilo não é o mesmo revelado nas letras tônicas de Lacerda, a ponto de levar Getúlio ao suicídio, dizem as más línguas. Nem tem a graça e a ironia fina de um Nelson Rodrigues.

Não é humorístico (humor negro) como o de Paulo Francis; nem traz o idealismo rascante de um Glauber Rocha. Não é inteligente como o de Merquior, nem tão pouco instigante como o dos editoriais de antigos jornais de referência, como o do Correio da Manhã.

Até mesmo porque esse estilo é importado dos Estados Unidos. A esse novo estilo chamaremos literatura neocon (ou simplesmente pop neocon).

A fórmula é simples. Pega-se um tema qualquer que dê uma boa discussão. Na falta dele, alce um tema à categoria de grande polêmica da sociedade (sim, a literatura neocon consome muita energia e não pode sobreviver na calmaria cotidiana).

Depois faça comparações hiperbólicas (“culpados pela matança de cem milhões de pessoas”, etc), e traga à cena personagens da história, mas de preferência vilões incontornáveis (Stálin, Hitler etc). Isso é para que não haja dúvida sobre de que lado ficar.

Por fim, produza-se alguma alcunha espetacular sobre algum personagem público ou tornado público, exatamente com o intuito de difamá-lo. Às vezes essa alcunha pode ser direcionada ao grupo ideológico rival.

A literatura neocon é um tipo de folhetim, onde se encontram os elementos mais básicos desse gênero: periodicidade, uma eterna luta de mocinhas indefesas contra megeras, degenerados de caráter versus homens de respeito e, principalmente, um final triunfal.

A diferença é que não é o personagem que vence, mas o jornalista-justiceiro, o intelectual desvelador da grande sacanagem da História.

Não aderiram a ela somente cineastas e literatos ruins. Muitos jornalistas e mesmo intelectuais ávidos por uma boa cena de pancadaria também gozam com seus sadismos.

Com certeza, se me permitem a ironia, é uma forma de gozo perverso, pois que se volta a ela incessantemente, mesmo contra a lei do bom debate. E como o aspecto sádico do caráter traz o negativo do masoquismo – vicissitudes das pulsões, segundo Freud – gozam também ao ser odiados e espinafrados.

A organização textual da literatura neocon é basicamente dissertativo-narrativa, onde a narrativa é fundo e não figura.

A dissertação reafirma o desdém pela opinião adversária, uma sensação pouco fundamentada de superioridade e um argumento fragilizado pelo próprio automatismo da expressão raivosa.

Há muitos. Muitos adjetivos depreciadores.

Ocupa hoje vários suportes: colunas de jornais, telejornais noturnos, sites e blogs.

Os EUA são o primo rico do pop neocon: lá esse tipo de literatura vende centenas de milhares de livros.

Da mesma forma, ocupa a justiça com processos de calúnia e difamação (como se não se tivesse mais o que fazer nos fóruns).

Não há literato neocon que não tenha respondido a alguns processos por crimes contra a honra. Essa é a medida do seu sucesso.

A fórmula da agressão é imperativa. Talvez esse seja o maior problema da literatura neocon. E está no fato de fazer incessantemente da vilanização do diálogo.

Esse problema é pior do que o seu alinhamento com uma posição ideológica (afinal há inúmeros folhetins de esquerda tão chatos quanto); ou de ser um típico produto mass cult da Indústria Cultural (dotado de clichês, e público bem detectado).

Partindo de uma percepção equivocada da natureza humana, como encarnação simplória da oposição entre o bem e o mal (desde que o mal esteja do outro lado), este tipo de literatura dramatiza a reflexão e, principalmente, ajuda a disseminar ou consolidar a cultura da intolerância.

Ser paciente e civilizado, ser tolerante à opinião com a qual não se concorda, ser educado, mesmo que o outro não o seja, faz-nos desprender um esforço muitas vezes incomum, sacrifício esse próprio de superação do que um certo político de alcova em recente história brasileira chamou de “institutos mais primitivos”.

A possibilidade do diálogo público é o melhor lado da modernidade, que tantas coisas ruins também nos trouxe. Esse sonho civilizacional definitivamente não faz parte da literatura neocon.

2 comentários:

júlia disse...

de quem especificamente ele tá falando?

Érico disse...

Diego Meinaard, Reynald Hollywood, Armando Labor...