19.7.07

Cerradas (final)

Diego está em Minneapolis, Minnesota.
Faz cinco dias que a classe executiva da american airlines o introduziu in America, com muitos mimos e brindes.
No aeroporto, os agentes de imigração até que pegaram leve com o nosso herói: era domingo; sua carta de apresentação era poderosa; seu visto, confiável. A multinacional em que Diego trabalha, diga-se, é bastante admirada back home. Assim, depois da terceira conferência de mala, os meganhas simplesmente lhe disseram welcome, Mr. Rassi, thanks for your cooperation, sem piscar os olhos nem sequer ordenar que Mr. Rassi tirasse os sapatos.
Altaneira no panorama banal de Minneapolis - uma espécie de Uberlândia quase perto da fronteira com o Canadá -, Diego logo admirou a envidraçada sede planetária da "sua" empresa.
É para lá, desde a segunda-feira desta semana, que nosso herói tem se deslocado cedinho, de táxi (dirigido por um iraquiano), deixando o hotel sempre às 07:50 am.
A prudente multinacional, cheia de outras culpas no cartório, sempre foi muito zelosa com seus gerentes terceiro-mundistas. Torra generosas verdinhas para que lhes sejam felpudos os cobertores e eficazes as instruções passadas em intermináveis sessões de powerpoint: diárias no caesar business, classe executiva e até 50 dólares por jantar (com bebida). O moral dos aguerridos regional teams tem, desse modo, se mantido bastante alevantado.
Diego fala bem o inglês, o que, junto com os olhos esverdeados, contribui para que seus colegas e chefes norte-americanos lhe dispensem o mesmo nível de falsa simpatia geralmente reservado aos gerentes da Europa meridional - quase nada superior àquele dirigido aos morenos miguelitos de nariz adunco e acento pronunciado.
Faz quatro dias que Diego, sentado entre outros nove colaboradores latino-americanos, acompanha um curso de R&D Awareness conduzido por geneticistas, cientistas sociais e marketeers sortidos e viajados para tal. Diego anotou hoje, entre outras coisas importantes, os deadlines de um projeto que, desenvolvido secretamente na sucursal do Vietnam, "explora as potencialidades do mapeamento do genoma humano para a segmentação dos mercados consumidores de arroz".
Diego vai hoje à noite jantar com o grupo de course colleagues & coaches num elegante (sic) restaurante grego.

*
Na madrugada de sábado, dia 21, Diego morrerá num acidente aéreo sobre o mar do Caribe. O avião se partirá em mil fragmentos por graça de um obscuro problema mecânico. O último pensamento do nosso já pranteado herói, antes da bola de fogo o consumir - confessemo-lo -, será mesmo dedicado a Rejane.

Um comentário:

Anônimo disse...

essa vidinha triste, miserável e desinfetada do nosso herói não merecia acabar assim, de modo tão belo, em chamas e estrondos.