28.8.07

Our brand is crisis

Pode-se até - com muita razão - detestar Evo Morales e sua trupe de dublês de cocaleros e estadistas.
Assistindo ao documentário supra - cujo título foi extraído da fala de um dos marketeers de Bill Pinton -, termina-se por querer militar ao lado da violenta revolta de 2003 e da conseqüente unção eleitoral do polvoroso MAS, em 2005.

O filme é elegante, agudo. Ressalta a homologia alegórica da Bolívia com o restante do continente por sinédoque e hipérbole, o que é sempre muito tentador. A diretora, norte-americana, acompanha os entreatos da campanha presidencial de Gonzalo Sánchez de Lozada - o ex-presidente neoliberal, epígono de FHC, Salinas e Menem, hoje procurado por diversos crimes - entre os quais a centena de mortes políticas perpetrada em apenas 1 (hum) ano de mandato.
Sempre que precisa exprimir-se em castellano, Gonnie - como é chamado pelos yankees - ostenta um blatant acento Ivy League. Fumando charutos, esse wonderboy da Universidade de Chicago é acometido por um esgar de sobrancelhas e ventas muito bem sacado pelo Angeli, sempre que a injusta distribuição precisa ser resumida numa só fisionomia.
Um ato de seu governo, típico, bastará para sumariar o que interessa: quando se privatizou o serviço estatal de distribuição de água, os indígenas foram proibidos de reservar a água da chuva, pois se precisava garantir a segurança jurídica dos contratos firmados com a empresa francesa.
Acrescento, com Rubem Fonseca, que Gonnie tem aquela feição balofa e sanforizada que certa vez levou o Cobrador a querer, com uma faca bem afiada, extirpar as bochechas de um bebedor de uísque da televisão, deixando a alegre figura com sorriso de caveira. E que a mesma vontade me deu em relação a vários dos estadunidenses, todos eles gerenciadores de focus groups.

Como se sabe, o medo em 2002 venceu por menos de dois pontos percentuais, e só restou à esperança mudar-se para o Bom Retiro, onde trabalha costurando 19 horas por dia.

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