31.7.05

Entrelido numa camiseta

Pain is temporary. Losing is forever.

30.7.05

No novo Rubem Fonseca, Mandrake volta sem fôlego

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Nas resenhas dos livros recentes de Rubem Fonseca, é comum ler que ele está se repetindo. Dizer isso é uma chatice, pois todo artista tem suas obsessões. Anões, charutos, vinhos, batráquios e mulheres são algumas das de Fonseca. Estão todas em "Mandrake: A Bíblia e a Bengala".Mas não é por isso que o livro não é um "grande Rubem Fonseca". Depois de oito anos sumido da obra do escritor, o advogado criminalista Mandrake (nascido Paulo Mendes) volta sem o mesmo vigor de outrora -o personagem também será tema neste ano de uma série da parceria Conspiração Filmes/HBO.Não há, nas duas novelas que compõem o livro, pistas de que ele esteja mais velho. Mandrake continua conquistador, volúvel (ama várias mulheres simultaneamente, talvez sem amar nenhuma), ágil fisicamente.Mas seu ritmo não é mais o sôfrego de "O Caso de F. A.", "Dia dos Namorados" e "Mandrake", contos do passado que, relidos hoje, não perderam nada da sua capacidade de deixar o leitor sem ar, acuado pela crueza de seus relatos, diálogos, imbróglios.O Mandrake do novo livro está um pouco mais calmo, disserta e contempla mais. É fiel à imagem de seu criador, que completou 80 anos em maio como um homem pleno de vigor físico e intelectual, mas um homem de 80 anos.Da mesma forma que em outras obras recentes, como "Diário de um Fescenino", Fonseca gasta várias páginas falando de seus -ou melhor, de Mandrake- prazeres (vinhos, charutos...), exibindo erudição, citando livros e curiosidades. É claro que há qualidade nas páginas, mas o ritmo das histórias sofre percalços.As tramas já são pretextos para esses passeios eruditos. "Em Mandrake e a Bíblia da Mogúncia", o advogado se envolve em um caso de furtos de livros raros, permeado por alguns assassinatos. O principal livro é a Bíblia do título, impressa por Gutenberg em 1462. Duas dessas raríssimas Bíblias ficam na Biblioteca Nacional, no Rio. Na novela, uma delas é furtada.Naturalmente, Mandrake resolve o caso, mas não sai ileso dele. Sua perna é baleada, o que o leva a ter de usar bengala, objeto-chave da segunda novela.Em "Mandrake e a Bengala Swaine", o anti-herói usa um arsenal de recursos para evitar a incriminação de uma suposta condessa e a sua própria -a bengala de que mais gosta é a arma utilizada para matar o marido de uma de suas amantes. Ele se safa, mas deixa claro, no final, que continua presa fácil de mulheres difíceis e histórias idem.Fonseca cria tramas paralelas que servem mais para aumentar o número de páginas do que para incrementar a narrativa. Na segunda novela, as peripécias da animada Jéssica ainda têm o tempero picante que não pode faltar em um livro do autor. Mas, na primeira, o caso do parvo farmacêutico Remy Gagliardi não ajuda muito. Mesmo sem o vigor do passado, é um prazer reencontrar Mandrake e outros personagens que o cercam, como o policial Raul, a enxadrista Berta e o sócio Weksler. Sobre este, uma curiosidade: nas histórias anteriores, ele se chamava Wexler; Fonseca escreve agora o nome correto de Luiz Weksler, que foi seu colega de faculdade e sócio em um escritório de advocacia que funcionou entre 1949 e 1951.E é sempre um prazer ler uma história escrita por Rubem Fonseca. Se ele se repete, está no seu direito como grande autor, ser humano e saudável octogenário.

Será a sério? Que espécies de rojões vagabundos são esses que a editora encomenda e recomenda nos releases que solta para a imprensa? Não sei se concordam, mas o tal Vianna simplesmente NÃO LEU o livro. O texto todo é muito menos significativo que as estrelinhas no rodapé. Eu também não li o Fonseca, mas vou fazê-lo, comme d'habitude, em muito breve.

25.7.05

Soluções mágicas

Em certo lugar de cujo nome quero esquecer-me, um grande amigo se submeteu por uma semana a um "tratamento" pago, hotel-fazenda, que lhe "restituiu" a autoconfiança, a coragem e a felicidade através da "reapropriação da capacidade de amar, o exercício da autonomia e a habilidade em manter um desenvolvimento pessoal e espiritual saudável através da experiência regeneradora do 'Eu' - a 'Essência', manifestação de nossa característica divina".
Por Júpiter. Não sei quanto custou, mas se são capazes disso tudo, foi barato. E rápido. Melhor que isso, talvez apenas o Êxtase de Santa Teresa de Ávila. A redenção ao alcance de qualquer um que pague e se apegue a esquemas mentais simplórios. Várias empresas, como é natural, já utilizaram os serviços dos bravos regeneradores de almas.
Isto é, trata-se de delírio messiânico não muito diverso de outras arapucas que falam de discos voadores.
Donde concluo tristemente que estou ficando sozinho no mundo.

21.7.05

London calling

Isso tudo em Londres faz-me lembrar daquele filme, Fim de Caso, em que uma historia de amor muito interessante eh arruinada pela carolice. Bombas explodindo na blitz enquanto rolava a velha introductio penis intra vas, ou como diz my dear droogie Alex, the old in-out-in-out: acho que no fim do filme a culpa pela metelanca acaba sendo expiada - pois os anglicanos, emulos envergonhados dos catolicos, tambem curtem uma culpazinha caliente, e depois o paroco cuida de tudo.
Eh realmente uma pena que eu nao seja religioso nem tenha uma Julianne Moore a minha espera em South Kensington, mas fazemos o que podemos. Espero escapar de pelo menos uns dois bons atentados.

19.7.05

Sexo com cavalo mata homem nos EUA

da France Presse

Um homem morreu nos Estados Unidos depois de ter relações sexuais com um cavalo em um sítio que funcionava como um "prostíbulo de animais", em Enumclaw, 60 km a sudeste de Seattle (Estado de Washington), de acordo com informações divulgadas pela polícia nesta segunda-feira.A vítima, um homem de 40 anos, sofreu graves lesões internas e seu corpo foi deixado por desconhecidos em um hospital de Seattle, no dia 2 de julho, pouco depois do ato."Do médico legista ao comissário, passando pelos investigadores, ninguém jamais viu algo remotamente parecido com isto", disse à France Presse Eric Sortland, chefe da polícia de Enumclaw. "Seu cólon rompeu, como os órgãos inferiores da mesma região, e a hemorragia o matou", completou.

Enquete: serah Brasilia, de factum, um prostibulo de animais? Se sim, quem sao os animais e quem sao os currados? Alem de nos mesmos, eh claro.

14.7.05

Verao em Devia

Faz calor no noroeste da Inglaterra. Algo como 22 graus, mas bastou. A limpeza das ruas e a alvura da pele de muitos ingleses transformaram-se rapidamente, desde o fim-de-semana, em vermelhidao camaronica e gramados palmilhados de pontas e embalagens plasticas.
Donde concluo que o que confere a dignidade ocidental, ordeira e positiva a estas terras do norte - pelo menos no olhar deslumbrado de quem preza urbanidades que tais - eh o frio.
Donde concluo que o maior e talvez unico de nossos males eh o calor, nosso intermitente e dissoluto calor. O sangue engrossa em nossos vasos suarentos, os navegantes portugueses o sentiram desde logo e deu no que deu.
Como jah disse Rubem Fonseca: os mendigos de Sao Paulo vestem-se com maior dignidade e aparentam mais donaire que os do Rio justamente por causa das periodicas inclemencias do clima paulistano. Frio e civilizacao, barbarie e calor.
Agora, esses paquistaneses...

Agora tambem na versao mais-que-mil-palavras

http://www.flickr.com/photos/igethigh

7.7.05

Liverpool

Ontem, em Chinatown (a mais antiga da Europa, dizem as placas; pena que tambem ha muito fecharam as casas de efluvios papoulicos), bebi cerveja chinesa. E, pasmem, encontrei uma loja maconica chinesa.
E, sim, fui ao Cavern Club e tirei fotos que venderei a 40 libras aos interessados.

6.7.05

O diabo tenta

Acabaram de propor-me ficar aqui por 3 meses. Oh hell. Que fazer? Devo impor que condicoes? Passagens semanais para Faro? Imunidade policial? Batatas fritas gratis?

Chester

Em 1645, o Rei assistiu da torre nordeste, nas muralhas, a seu exercito ser trucidado pelas tropas do Parlamento. Eita cidade mais realista!

5.7.05

Real Alfandega Venarda ou Como me Tornei Contrabandista

Esta eh, evidentemente, uma narrativa alegorica.

Conta-se, mas Bob Jeff sabe mais, que eu estava na boca do caixa do free-shop em Guarulhos, ansioso para fazer reconhecido meu direito de usufruir um super-binoculo do caralho (as libras na mao estimulavam o espirito levemente voyeur do consumismo desenfreado). E num eh que, metendo a mao no bolso, percebi que havia perdido o cartao de embarque? Incrivel. Comecaram as ilegalidades: o moco do caixa me vendeu o traste mesmo sem ele ("olha, eu vou quebrar essa pra voce, mas o certo &c."). Fui entao ate o federal do controle de passaportes e ele me disse para voltar ao balcao da companhia aerea. Como? "Ah, voce desce aquela escada ali e tal". Chegou uma especie de supervisora balofa pra fazer onda: "Eh, mas veja lah com a Receita sobre esse negocio que voce comprou, pode ser que eles encrenquem". Pois, descendo as tais escadas, descobri-me na fila do desembarque internacional! Um outro solicito federal, ao ouvir as minhas razoes: "vai lah, passa aih". Andando mais alguns passos, cheguei ao balcao da Receita, onde repeti a lenga-lenga a um sonado oficial alfandegario: "ah, nao tem problema, vai lah". Abriu-se uma portinhola eletronica e eis que estava no saguao principal do aeroporto, livre e aberto para o mundao.
Isto eh, tecnicamente tornei-me um contrabandista. Nesse caso especifico, meu cao (oxitona fechada, please) era verdadeiro, estupidamente verdadeiro, mas nao eh uma excelente burla das instituicoes mais arcanas da Republica?

4.7.05

From London

Civilizacao dos tijolos e da ausencia de diacriticos.