25.7.05

Soluções mágicas

Em certo lugar de cujo nome quero esquecer-me, um grande amigo se submeteu por uma semana a um "tratamento" pago, hotel-fazenda, que lhe "restituiu" a autoconfiança, a coragem e a felicidade através da "reapropriação da capacidade de amar, o exercício da autonomia e a habilidade em manter um desenvolvimento pessoal e espiritual saudável através da experiência regeneradora do 'Eu' - a 'Essência', manifestação de nossa característica divina".
Por Júpiter. Não sei quanto custou, mas se são capazes disso tudo, foi barato. E rápido. Melhor que isso, talvez apenas o Êxtase de Santa Teresa de Ávila. A redenção ao alcance de qualquer um que pague e se apegue a esquemas mentais simplórios. Várias empresas, como é natural, já utilizaram os serviços dos bravos regeneradores de almas.
Isto é, trata-se de delírio messiânico não muito diverso de outras arapucas que falam de discos voadores.
Donde concluo tristemente que estou ficando sozinho no mundo.

7 comentários:

Anônimo disse...

Pai Ferrin' faiz muito mais, fio, e inda lasca teus inimigo pra tu, além do que voismicê ganha umas foia de guiné pra continuá o trabaio em casa.

Anônimo disse...

Pois é, veja só no que deu a Ilustração, todos aqueles ímpetos «revolucionários» que fizeram rolar tantas cabeças - e enrolaram muitas mais. O individualismo converteu-se em ostentação despudorada da vacuidade; pode o senhor notar que aqueles que falam muito do «eu» nada têm a perscrutar, ainda menos a dizer. O exemplo máximo e mais claro é a massa insípida de fotologues. A experiência mística, por sua vez, que poderia alçar os indíviduos pelos céus da histeria e do delírio, tornou-se um conjunto de discursos (tão vagos quanto vagabundos) e ademanes bem-comportadinhos, feitos para pais de família sorridentes, saídos dos comerciais de Bonzo. Estes, quando enfrentam a temida e muito mistificada brochada inicial, são os primeiros que se deixam lograr pela simonia de bens abstratos - pois nada pode ser mais abstrato que o bem-estar.
Paradoxalmente, estão todos sempre muito inclinados a vitimar-se, a dizer que enfrentam o maior trânsito, que levaram o chifre mais desonroso, que trabalham como bestas de carga e recebem um salário de merda. Pode-se pensar que este comportamento se dá porque tais indivíduos têm consciência de sua própria nulidade e, preferem, diante de si e dos seus, manter certa imagem de coitadinhos, de injustiçados, de bodes expiatórios. Todos querem ser vítimas, mas não mártires. Não é uma civilização de bodes, mas de ovelhinhas que se crêem elefantes. E não adianta mostrar-lhes as chagas ou o corpinho lanoso; não, trata-se de uma futilidade constitutiva, de uma autocomplacência que é quase que uma estrtura mental; eles simplesmente não entendem.
Sabemos, hoje, que o verbo «democratizar» é vizinho semântico (para não dizer que estamos diante de um caso de sinonímia) do verbo «esculhambar».
A palavra «liberdade» serve para justificar a mutilação mental que é ficar jogado cinco horas num sofá, diante de um aparelho de TV, até que venha o sono. Sabemos, ainda, que revolução nada é senão uma palavra para vender telefones celulares.
Em outros séculos, sonhou-se com uma sociedade regida por valores absolutos. Tudo o que conseguimos foi uma sociedade de pretextos.

Anônimo disse...

Cruzes! Se eu soubesse que era tão fácil...

Anônimo disse...

sozinho no mundo? I have my attorney with me and he says: "remember the happy few, man..."

Sérgio disse...

E o Papá-lelê seculorum? Lembra?

Érico disse...

Papa-lelê?

Orlando Tosetto Júnior disse...

Toda boa terapia tem dois estágios: 1) culpe os outros por tudo; 2) perdoe-os. Você já era bom, ficou melhor. No entrementes entre os estágios: confesse-se; grite e chore; seja compassivo & compreensivo com manifestações alheias; role um pouco pelo carpete.