30.7.05

No novo Rubem Fonseca, Mandrake volta sem fôlego

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Nas resenhas dos livros recentes de Rubem Fonseca, é comum ler que ele está se repetindo. Dizer isso é uma chatice, pois todo artista tem suas obsessões. Anões, charutos, vinhos, batráquios e mulheres são algumas das de Fonseca. Estão todas em "Mandrake: A Bíblia e a Bengala".Mas não é por isso que o livro não é um "grande Rubem Fonseca". Depois de oito anos sumido da obra do escritor, o advogado criminalista Mandrake (nascido Paulo Mendes) volta sem o mesmo vigor de outrora -o personagem também será tema neste ano de uma série da parceria Conspiração Filmes/HBO.Não há, nas duas novelas que compõem o livro, pistas de que ele esteja mais velho. Mandrake continua conquistador, volúvel (ama várias mulheres simultaneamente, talvez sem amar nenhuma), ágil fisicamente.Mas seu ritmo não é mais o sôfrego de "O Caso de F. A.", "Dia dos Namorados" e "Mandrake", contos do passado que, relidos hoje, não perderam nada da sua capacidade de deixar o leitor sem ar, acuado pela crueza de seus relatos, diálogos, imbróglios.O Mandrake do novo livro está um pouco mais calmo, disserta e contempla mais. É fiel à imagem de seu criador, que completou 80 anos em maio como um homem pleno de vigor físico e intelectual, mas um homem de 80 anos.Da mesma forma que em outras obras recentes, como "Diário de um Fescenino", Fonseca gasta várias páginas falando de seus -ou melhor, de Mandrake- prazeres (vinhos, charutos...), exibindo erudição, citando livros e curiosidades. É claro que há qualidade nas páginas, mas o ritmo das histórias sofre percalços.As tramas já são pretextos para esses passeios eruditos. "Em Mandrake e a Bíblia da Mogúncia", o advogado se envolve em um caso de furtos de livros raros, permeado por alguns assassinatos. O principal livro é a Bíblia do título, impressa por Gutenberg em 1462. Duas dessas raríssimas Bíblias ficam na Biblioteca Nacional, no Rio. Na novela, uma delas é furtada.Naturalmente, Mandrake resolve o caso, mas não sai ileso dele. Sua perna é baleada, o que o leva a ter de usar bengala, objeto-chave da segunda novela.Em "Mandrake e a Bengala Swaine", o anti-herói usa um arsenal de recursos para evitar a incriminação de uma suposta condessa e a sua própria -a bengala de que mais gosta é a arma utilizada para matar o marido de uma de suas amantes. Ele se safa, mas deixa claro, no final, que continua presa fácil de mulheres difíceis e histórias idem.Fonseca cria tramas paralelas que servem mais para aumentar o número de páginas do que para incrementar a narrativa. Na segunda novela, as peripécias da animada Jéssica ainda têm o tempero picante que não pode faltar em um livro do autor. Mas, na primeira, o caso do parvo farmacêutico Remy Gagliardi não ajuda muito. Mesmo sem o vigor do passado, é um prazer reencontrar Mandrake e outros personagens que o cercam, como o policial Raul, a enxadrista Berta e o sócio Weksler. Sobre este, uma curiosidade: nas histórias anteriores, ele se chamava Wexler; Fonseca escreve agora o nome correto de Luiz Weksler, que foi seu colega de faculdade e sócio em um escritório de advocacia que funcionou entre 1949 e 1951.E é sempre um prazer ler uma história escrita por Rubem Fonseca. Se ele se repete, está no seu direito como grande autor, ser humano e saudável octogenário.

Será a sério? Que espécies de rojões vagabundos são esses que a editora encomenda e recomenda nos releases que solta para a imprensa? Não sei se concordam, mas o tal Vianna simplesmente NÃO LEU o livro. O texto todo é muito menos significativo que as estrelinhas no rodapé. Eu também não li o Fonseca, mas vou fazê-lo, comme d'habitude, em muito breve.

2 comentários:

flogisto_calavera disse...

eu gosto de chutar cachorro morto e vou ler também.

Orlando Tosetto Júnior disse...

Eu tinha lido os contos e gostado. Então cometi o erro de ler "Vastas Chateações e Pensamentos Estreitos". Abandonei-o num dos bancos do Instituto, com o alerta escrito na primeira página: "Você não deu sorte: este livro é uma merda".