2.11.06

Cerradas (III)

Rebento da classe média-alta paulistana (Vila Mariana), Diego é católico (crismado) e de ascendência misturadamente européia: ao longo das décadas, italianos, espanhóis e alemães acasalaram-se com crioulos, portugueses e caboclos para que o atual esplendor entre grãos de seu dileto descendente pudesse acontecer na borda oesteã do Planalto Central.
Diego tem apenas um irmão. Daniel chegou a se formar em Sociologia pela Usp e, depois de trabalhar poucos mas afluentes anos numa empresa norte-americana de pesquisa de marketing, hoje em dia milita numa organização do terceiro setor que recolhe os fundos obtidos com a reciclagem de embalagens usadas de agrotóxicos no norte do Espírito Santo para a assistência aos desvalidos índios da Ilha do Bananal. Votou, naturalmente, em Alckmin, porque a "crise no campo" reduziu em um terço a quantidade de embalagens descartadas à beira das rodovias capixabas.
Diego, como ele, odeia Lula. É mesmo possível imaginar que os sinais de plástico colante mal-apagados sobre a luzidia lataria negra da traseira de seu Nissan tenham sido produzidos por um adesivo do devoto das gravatas amarelas retirado em dias recentes, mas não há certeza: perguntado, Diego se irrita e, levemente alterado, começa a desfilar um infindável rosário de vitupérios e doestos contra o Governo.
Será melhor falarmos do Palmeiras.

2 comentários:

Anônimo disse...

Fiquei aqui imaginando uma conversa em que Diego e Daniel falassem sobre mulheres. Há opiniões que só se divulgam para entre a família, não?

Érico disse...

hahaha, boa. As mina e os mano no cerrado.