19.3.08

Cabelos brancos e humidade nas paredes

A maneira mais precisa de encontrar o centro ou núcleo primitivo de uma cidade brasileira, desde a omnividência dos urubus artificiais do gúgol ertf, passa pela identificação dos telhados mais escuros, cheios de limo, que costumam acompanhar as calçadas e praças em que as árvores têm maiores copas. Mas isso é geralmente desnecessário. O traçado irregular das quadras, característico das vielas e outros puxadinhos portugueses, denuncia e explica os nossos centros velhos, desembocando sempre numa praça, a igreja matriz, sempre o sempre.
Adjazendo, nos conjuntos regulares de bairros mais hodiernos, os retângulos grandes e claros de materiais metálicos denotam oficinas, hospitais, rodoviárias.
As ruas de terra dos bairros proletas, do outro lado das estradas, são freqüentemente vermelhas em Minas e Goiás, pardacentas no Piauí, escondidas escadarias nos grotões do Rio. Predominam em todas as periferias as reiteradas telhas eternite, como se o nome da marca zombasse da efemeridade das construções improvisadas, na melhor das hipóteses grudadas umas às outras como numa incubadora ou prateleira.
Para o rastreio dos bairros ricos, nada melhor que perseguir o límpido brilho dos espelhos azul-piscina.

Um comentário:

Sérgio disse...

É verdade. O traçado do centro de São Paulo é um caos. É engraçado ver como os prédios agudos tal qual lanças acotovelaram-se em busca de espaço e deixaram ruas como a Boa Vista (do Pátio do Colégio até o largo São Bento) absolutamente escuras pela manhã e depois das quatro da tarde.