Hoje
no meio do mato conversei com dois pássaros desconhecidos - sou
ignorante demais das coisas do cerrado para saber-lhes o nome. Ao longo
de quase dez minutos, imitei com assovios de três notas em sequência
ascendente - cerca de meio semitom cada intervalo - a arenga tristalegre
do primeiro. Bastou para que um número 2 inesperadamente bem-vindo
puxasse conversa comigo e com o pioneiro. Ficamos então papeando mais um
tempo, enquanto eu fotografava o nada, pensava em diversas cousas e
assoviava como quem respira, ora subindo um pouco o diapasão para testar
o efeito, ora ficando em silêncio para provocar os interlocutores. Foi
quando me lembrei do primeiro verso de um poema que escrevi aos 15 anos,
bobinho, assim: "O pio do pássaro irrompe no caos". Logo depois, tive
de correr de um bicho que agitou as folhas do mato qual grande onça ou
cateto, acelerando quando vinha mais perto uma chuva de nuvens repentinas que ameaçava me encharcar e,
talvez, me eletrocutar em pleno êxtase poético.
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