Faz
dois meses que leio os jornais de 1964 praticamente todos os dias para
um trabalho de pesquisa, e fico a cada edição mais chocado com a
semelhança entre a
atual retórica antiPT e antipobre e o que se escrevia contra a
"subversão" e a "corrupção" janguista no vitorioso PiG da época,
lacerdo-udenista e "linha dura" desde
criancinha e firme-forte cinquenta anos depois. Hoje mesmo, li por acaso
as primeiras cinco palavras de um
artigo do mané e PiGsmarschall Pondé, de que no quiero acordarme, que
parece zolamente
acusar as universidades públicas (claro, as dominadas pelo mensalão do
PT; as universidades privadas, em especial a da igreja que emprega o mané, continuam a combater destemidas o comunismo ateu) de propagarem em nosso direito país a malvada (Stálin matou tantos
milhões, Mao mais um montão etc.; nunca citar os zilhões mortos pela
fome e pelas guerras capitalistas) doutrina marxista, citando dois
jovens
conhecidos que até largaram cursos de humanas por não suportar a
doutrinação e o búlim ideológico dos colegas e professores
soviético-castristas. Bem, a única cousa que se pode recomendar aos
assustadiços estudantes democráticos - assim eram chamados e
homenageados os que caçavam supostos comunistas ("totalitários") a
porrete - é que parem de ler Pondé e se concentrem em pesquisar bons
argumentos para debater e bater no marxismo em sala. Mas é inútil: seria
o mesmo que pedir à Marina que renegasse a superstição itaúnica e
aceitasse, enfim, a Suprema Verdade Darwinista. Inútil: a direita
rentista e proprietária jamais perdoará o Homem de Trier por ter
desnudado o rei. A história, assim,
se repete como farsa, mas atenção, as armas brandidas em cena
continuam não sendo
de festim.
4.11.13
22.10.13
Hoje
no meio do mato conversei com dois pássaros desconhecidos - sou
ignorante demais das coisas do cerrado para saber-lhes o nome. Ao longo
de quase dez minutos, imitei com assovios de três notas em sequência
ascendente - cerca de meio semitom cada intervalo - a arenga tristalegre
do primeiro. Bastou para que um número 2 inesperadamente bem-vindo
puxasse conversa comigo e com o pioneiro. Ficamos então papeando mais um
tempo, enquanto eu fotografava o nada, pensava em diversas cousas e
assoviava como quem respira, ora subindo um pouco o diapasão para testar
o efeito, ora ficando em silêncio para provocar os interlocutores. Foi
quando me lembrei do primeiro verso de um poema que escrevi aos 15 anos,
bobinho, assim: "O pio do pássaro irrompe no caos". Logo depois, tive
de correr de um bicho que agitou as folhas do mato qual grande onça ou
cateto, acelerando quando vinha mais perto uma chuva de nuvens repentinas que ameaçava me encharcar e,
talvez, me eletrocutar em pleno êxtase poético.
23.8.13
Do "Dicionário definitivo" (1961), do Millôr:
Chato - Indivíduo que tem mais interesse em nós do que nós temos nele.
Crítico - A solteirona das artes.
Depoimento - Isso que a gente presta, antes, durante ou depois de apanhar pra burro.
Gargalhada - Um sorriso que estourou.
Medo - A coragem com tremedeira.
Meteorologista - Sujeito que hoje diz uma coisa e amanhã diz outra.
Pileque - Ocasião em que sentimos uma bruta solidariedade mas não conseguimos pronunciar a palavra.
Pontual - Alguém que resolveu esperar muito.
Revisor - Sujeito cuja profissão é um erro.
São Jorge - O John Wayne do céu.
Tarado - Um cara normal que foi apanhado no ato.
Vizinho - Sujeito que fica acordado de mau humor imaginando a que horas o diabo desse nosso barulho vai parar.
Chato - Indivíduo que tem mais interesse em nós do que nós temos nele.
Crítico - A solteirona das artes.
Depoimento - Isso que a gente presta, antes, durante ou depois de apanhar pra burro.
Gargalhada - Um sorriso que estourou.
Medo - A coragem com tremedeira.
Meteorologista - Sujeito que hoje diz uma coisa e amanhã diz outra.
Pileque - Ocasião em que sentimos uma bruta solidariedade mas não conseguimos pronunciar a palavra.
Pontual - Alguém que resolveu esperar muito.
Revisor - Sujeito cuja profissão é um erro.
São Jorge - O John Wayne do céu.
Tarado - Um cara normal que foi apanhado no ato.
Vizinho - Sujeito que fica acordado de mau humor imaginando a que horas o diabo desse nosso barulho vai parar.
19.6.13
27.3.13
O Templo. Rua Francisco Otaviano, 33, no Leme.
O prédio - em qual andar e apartamento? Séria falha de caráter, eu não sabê-los - onde todos os livros do Rosa (à exceção de Sagarana) foram escritos e onde o escritor cordisburguense viveu durante mais de quinze anos, até morrer aos 59. A vetusta árvore torta do jardim viu e ouviu tudo...
Alô, alô, Dilma, Marta, Mercadante, Paes e Cabral! Por que não desapropriar o imóvel inteiro, restaurá-lo (retirando essas horrendas grades da frente) e declará-lo sede do novo Instituto Guimarães Rosa, congênere brasuca do Camões português, do Cervantes espanhol, do Goethe tudesco, do chim Confúcio etc.? Ou, mais modestamente e sem delírios messiânicos, um simpático museu de literatura?
Antes que o derrubem para construir algo mais envidraçado e adequado à vizinhança de um Pizza Hut e de um ex-bingo.