3.11.07

Capitão Nascimento neles (II)

Por um desses tristes caprichos dos numes, caiu-me nas mãos um recente exemplar de RIP, publicação yuppie em que a April, Inc. mercadeja as seminudezas das periguetes da vez.
Trata-se de mais uma daquelas revistas para mulheres sexual ou profissionalmente frustradas, só que em versão pouca coisa mais macha e paulistana.
Tudo, parece, foi feito para o pessoal da firma se entreter entre uma e outra sessão de homebroking, ou nos intervalos de Lost. O discurso pretende reconstituir uma descontraída conversa de bar na Vila Olímpia. Os textos, por isso, insistem no calão carcamano, reiterando certas gírias do pessoal da periferia mais afeito à hodierna correria. Explorando as afinidades simpáticas entre as duas rafaméias, a publicidade invariavelmente descamba para a incitação aos perfumes importados, óculos escuros idem e bebidas destiladas ibidem.
Quanto às periguetes, são quase todas muito, muito semelhantes àquelas dos comerciais de cerveja nacional (peitos, cabelos, biquinho, etc.), apenas mais bem maquiadas e trajadas com maior, digamos, apuro. Consta inclusive que, num desses reclames chauvinistas, a gostosa mais BOA do mundo, ora reeleita pelo ranking de RIP, preside uma sinagoga de típicos leitores RIP (o sorriso, a gravata finalmente afrouxada), pagodeando decotada a cerveja nacional homônima.
As preferências dos bem-sucedidos leitores RIP são mesmo para lá de corriqueiras. É notável a presença de centenas de starlets do axé, da "música romântica" e do submundo do consumo orwelliano entre as dez mais manteúdas do ranking. Isso provavelmente iguala os instintos dos plebói aos dos ladrões que amiúde lhes arrebatam os preciosos redondos. Algumas páginas a jusante da loira lista, encontra-se até um falso conto erótico em suposta e torpemente feminina primeira pessoa, o manjado caso do estupro gostoso e, portanto, não notificável às autoridades competentes. No post-coitum, a April, Inc. ainda oferece duzentos paus aos limítrofes que perpetrarem conto publicado.
Ao cabo, o editorial de moda exibe figurinos que o leitor médio da revista - a quem conheci ad vomitum durante os anos de tetudas vacas corporativas - só vestiria se ostentando no Hard Rock Cafe de Orlando o galardão de vencedor na vida. Porque os modelitos, sem exceção, são todos "coisadiviado".
E a lembrança repentina de que o muitas vezes pranteado Diego era assinante RIP havia mais de dez anos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Uma pirobagem mesmo!