23.5.07

Escroques, trapaças e jornalistas meliantes

Abrigado da chuva invernã num conforto quase sibarítico, posso com velocidade e donaire netear entre diferentes sítios, opiniões e propósitos acerca da Gloriosa Ocupação da Reitoria. Tenho chá, nutella e biscoitos de queijo caipira. Clic-clic:

Leio na imprensa e na blogosfera, nos últimos e agitados dias, entre 15 e 20 artigos que tratam da situação na USP. Constato que a maioria deles conclama à desocupação pacífica, à humana convivência institucional e a diversos outros e veneráveis princípios democráticos. A sinceridade e a pertinência desses textos, é claro, variam muito, e são muita vez questionáveis suas premissas, mas aos signatários geralmente não ocorre requisitar ao bispo, com babas e esgares maus, um bom quinhão de borrachadas militarizadas sobre o lombo do corpo discente que ora ocupa o centro do poder universitário.

Eis, contudo, que se chega ao sítio da April, Inc.. Dele provém a mais constrangedora exceção às predominantes posturas de cabeça-no-lugar e/ou de defesa-da-universidade-pública-e-gratuita, especificamente do blog de um dos sicofantas mais notórios da supradita empresa de papel impresso (ora, aliás, alimentada por mui oportunos capitais afrikaaners): Reinaldo Azevedo.

Nenhuma surpresa. Este compadre espiritual do Diogo Mainardi (perdoado previamente de tudo desde que li sua linda tradução de As Cidades Invisíveis), este paladino da vociferância tucano-lacerdista é figurinha velha, desde a Bravo! (revista bourgeoise que em seus primórdios não empregava o folclórico Olavo de Carvalho como destacava na agenda cultural do mês diversos concertos e exposições em Paris, Nova Iorque e Berlim sem, estranhamente, franquear a seus leitores qualquer cupom de desconto para as necessárias passagens aéreas) um autoproclamado e sempiterno e invencível defensor da Suprema Verdade Fukuyâmica. Reivindicando a posse e a defesa da mesma, nosso herói vem usando em seu blog, à guisa de epígrafe, um trecho de Musil em tradução inepta, e como se não bastasse deu também para vestir um chapéu panamá que lhe empresta fumos de coronelzinho DEMocrata.

Em quase todas as ocasiões em que pontifica sobre o imbroglio em questão, Azevedo assume com garbo a triste função de vivandeiro da invasão policial do campus, invocando a preservação "democrática" do patrimônio público, supostamente depredado e ameaçado pela malta grevista. Conquanto falsa, como alguns observadores independentes já constataram e está documentado, esta é a principal razão objetiva das sempre necessárias borrachadas. No plano dos conteúdos, portanto, nada de muito inédito: "O patrimônio! A propriedade (cada vez menos) do Estado está ameaçada! Sangue! Gás de pimenta! Bombas! etc." (aqui, gargalhadas: como se defender a propriedade do Estado fosse papel cumprível com alguma verossimilhança pelo douto DEMotucano a soldo da April, Inc.; mas adiante.)

Esforçado, Azevedo ainda descobre, certamente lendo Aristóteles e mobilizando suprema agudeza, que o movimento estudantil é político. Pilhados fazendo política, os estudantes merecem porrada justamente por assumirem posição contrária àquela do ora Governador. Assim, além de detonarem esbodegarem aniquilarem o patrimônio da universidade, os estudantes viram também - sempre segundo o cujus - pérfidos meliantes políticos, massa de manobra tosca e remelenta de barbudinhos ultrapassados e vagabundos.

Essa catilinária toda seria bastante cômica se não fosse enfadonha. Pois não é preciso ser poliglota para entender que o discurso de Azevedo, traduzido em calão, matraqueia monotonicamente mais ou menos o seguinte: "A Universidade e seu Patrimônio podem e devem servir à Formação de Quadros técnicos para as bondosas Organizações Filantrópicas - Multinacionais, Bancos, Corretoras - que promovem o Progresso do nosso País, assim como aos Princípios democráticos defendidos com Ardor pelo Governador (via Secretário e Reitora) e às elogiáveis Iniciativas das pequenas Fundações que tão desinteressadamente promovem o Diálogo com a Sociedade; quando paira no Ar, entretanto, a terrível Ameaça de um Punhado grande de Alunos simpáticos às Mentiras do PT, do PSTU, do PC do B, do PCO, da AJR, do MR-8, da AP, da Colina, do Polop e da ALN (horror! horror! horror!), a Polícia deve ser sempre chamada".

Haveria, ainda bem!, segundo o nosso herói, tempo de evitar a violência policial - da qual se infere, a certa altura, que os mais de 300 professores que já nos apóiam publicamente serão cúmplices - isto é, optar pela solução pacífica e ordeira, que consiste em obedecer ao chamado: "Vamos, estudantes, abracem enfim esta Verdade, parem de pensar, parem de se manifestar, estudem, não acreditem nesses barbudinhos, formem-se e venham trabalhar para nós, nunca esquecendo, é claro, de continuar comprando a Veja".

Detesto perder tanto tempo com esse tipo de reacionarismo escroto, ainda mais com um de seus epígonos mais fanfarrões, mas é meu dever moral como uspiano e cidadão dar ao boi o nome que lhe é de direito. Convoco, então, o corinho cívico:

Fascista! Fascista! Fascista!

Quanto à April, Inc., é mesmo lamentável a falta de pontaria dos engenheiros da Linha 4...

Um comentário:

flogisto_calavera disse...

por favor, imprime isso e manda para algum jornal ou alguma revista. para a folha, para o estado, para a caros amigos, para a carta capital, para a própria veja. para todos, melhor ainda. por favor.