5.1.06

A Voz do Demônio, traduzida

Todas as Bíblias e códigos sagrados têm sido as causas dos Erros seguintes.

1. Que o Homem possui dois princípios reais de existência: um Corpo e uma Alma.
2. Que a Energia, chamada Mal, vem unicamente do Corpo, e que a Razão, chamada Bem, vem unicamente da Alma.
3. Que Deus atormentará o Homem pela Eternidade por este seguir suas Energias.

Contudo, as seguintes Objeções são verdadeiras.

1. O Homem não tem Corpo distinto de sua Alma, pois o que se chama Corpo é uma porção da Alma percebida pelos cinco Sentidos, as principais portas de entrada da Alma nesta era.
2. Energia é a única vida e vem do Corpo, e Razão é o limite ou circunferência exterior da Energia.
3. Energia é Eterno Deleite.

Aqueles que reprimem seu desejo o fazem porque este é débil o bastante para que possa ser reprimido; e o repressor ou razão usurpa o lugar do desejo e governa os abúlicos.
Uma vez reprimido, o desejo aos poucos se vai tornando passivo até que seja apenas sombra do desejo.
Esta história está escrita n'O Paraíso Perdido, onde o Governador ou Razão é chamado Messias.
E o Arcanjo primordial ou comandante da hoste celestial é chamado o Demônio ou Satã e seus filhos são o Pecado e a Morte.
Contudo, no Livro de Job o Messias de Milton é chamado Satã.
Pois esta história foi adotada por ambos os partidos.
De fato, pareceu à Razão que o Desejo tinha sido expulso, mas o Demônio dá conta de que o Messias caído construiu um céu a partir do que havia roubado do Abismo.

Isto é mencionado no Evangelho, onde ele suplica ao Pai que lhe envie o consolador ou Desejo a fim de que a Razão possa ter Idéias com que construir. O Jeová da Bíblia não é senão aquele que vive entre as chamas.
Sabe que depois da morte de Cristo, ele se tornou Jeová.
Mas em Milton, o Pai é Destino, o Filho é a Razão dos cinco sentidos, e o Espírito Santo, Nada!
Nota: Milton escreveu sobre Anjos e Deus na prisão e em liberdade sobre Demônios e Inferno porque foi um verdadeiro Poeta e, sem o saber, do partido dos Demônios.

Um comentário:

Anônimo disse...

Quando comparo o que se escrevia na segunda metade do século XIX com a produção escrita de cem anos depois, sinto vontade de chorar. Alguém me dirá que a comparação é pouco ou nada criteriosa; minha aflição, porém, não liga para critérios.