Análise do novo ministério, ops, sinistério:
- o mais canalha: Moro
- o mais maluco: o doido do Itamaraty
- o mais pilantra: o Fônyx
- o mais perigoso: o colombiano
- a mais venenosa: a Miss Veneno
- a mais goiaba: tia Damares
- o mais rico: o Guedes, com seu nome de agiota lá da praça Onze
22.12.18
22.11.17
11.3.16
Boa ação do dia: passei de bicicleta por um semáforo onde
camisas-amarelas (todos brancos, comme il faut) convocavam motoristas
para a marcha fascista de domingo com uma faixa "pelo fim da corrupção"
(hahaha) e gritei "fascistaaaa!". Parece que não conhecem a palavra,
pois escapei incólume (essa não entenderiam, mesmo). Em todo caso, era a
esquina de um hospital, pensei, antes de gritar.
21.11.15
19.11.15
31.10.15
30.10.15
23.10.15
16.10.15
10.8.15
O golpe flopou. O jogral nacional transportou o noticiário da java-lato
para o terceiro intervalo. Depois de matérias sobre os perigos do gps e a
briga táxi x uber, além dos problemas das operadoras de celular.
E flopou tanto que a apresentadorinha deu um passo atrás diante do telão para não encobrir com seu cabelão a imagem do Palácio da Alvorada, ao fundo da narração da reportinha. O diretor mandou, pelo ponto eletrônico.
E flopou tanto que a apresentadorinha deu um passo atrás diante do telão para não encobrir com seu cabelão a imagem do Palácio da Alvorada, ao fundo da narração da reportinha. O diretor mandou, pelo ponto eletrônico.
21.5.15
9.3.15
Sarilho - Às 10 horas da noite de hontem, Antonio Avelino de Araujo e
José Teixeira Junior, que têm rixa antiga com Ernesto de tal, passaram
pelo morro do Castello, quando ao chegar em frente a um botequim de
propriedade de Domingos de tal, tiveram um encontro com o referido
Ernesto.
Desse encontro resultou um serio conflicto, onde foram disparados diversos tiros e onde a navalha entrou em exercício, tomando parte saliente os conhecidos desordeiros 'Pernambuco' e 'Gato'.
Comparecendo a policia foram apenas presos Avelino de Araujo e Teixeira Junior, tendo-se os demais evadido.
O delegado abriu inquérito a respeito.
(Correio da Manhã, 15 de setembro de 1901)
Desse encontro resultou um serio conflicto, onde foram disparados diversos tiros e onde a navalha entrou em exercício, tomando parte saliente os conhecidos desordeiros 'Pernambuco' e 'Gato'.
Comparecendo a policia foram apenas presos Avelino de Araujo e Teixeira Junior, tendo-se os demais evadido.
O delegado abriu inquérito a respeito.
(Correio da Manhã, 15 de setembro de 1901)
27.1.15
Proposta de reforma agrária: expropriação de todas as lavouras de soja
do país. Expulsão da monsanto e congêneres, confisco de seus bens.
Assentados e antigos proprietários que topassem seriam divididos em
lotes para replantar espécies típicas do cerrado. Ao mesmo tempo, as
escolas rurais adotariam Corpo de baile como novo livro sagrado da
República - eu, claro, mandando em tudo como ministro da Religião. Quem
não topar será condenado a passar dez anos em Rio Verde sem bicicleta.
25.1.15
Neste
trecho de O triste fim de Policarpo Quaresma, Lima Barreto iguala
Machado de Assis, chegando a levar a partida para a prorrogação:
"Os subúrbios do Rio de Janeiro são a mais curiosa coisa em matéria de edificação da cidade. A topografia do local, caprichosamente montuosa, influiu decerto para tal aspecto, mais influíram, porém, os azares das construções.
Nada mais irregular, mais caprichoso, mais sem plano qualquer, pode ser imaginado. As casas surgiram como se fossem semeadas ao vento e, conforme as casas, as ruas se fizeram. Há algumas delas que começam largas como boulevards e acabam estreitas que nem vielas; dão voltas, circuitos inúteis e parecem fugir ao alinhamento reto com um ódio tenaz e sagrado.
Às vezes se sucedem na mesma direção com uma freqüência irritante, outras se afastam, e deixam de permeio um longo intervalo coeso e fechado de casas. Num trecho, há casas amontoadas umas sobre outras numa angústia de espaço desoladora, logo adiante um vasto campo abre ao nosso olhar uma ampla perspectiva.
Marcham assim ao acaso as edificações e conseguintemente o arruamento. Há casas de todos os gostos e construídas de todas as formas.
Vai-se por uma rua a ver um correr de chalets, de porta e janela, parede de frontal, humildes e acanhados, de repente se nos depara uma casa burguesa, dessas de compoteiras na cimalha rendilhada, a se erguer sobre um porão alto com mezaninos gradeados. Passada essa surpresa, olha-se acolá e dá-se com uma choupana de pau-a-pique, coberta de zinco ou mesmo palha, em torno da qual formiga uma população; adiante, é uma velha casa de roça, com varanda e colunas de estilo pouco classificável, que parece vexada e querer ocultar-se diante daquela onda de edifícios disparatados e novos.
Não há nos nossos subúrbios coisa alguma que nos lembre os famosos das grandes cidades européias, com as suas vilas de ar repousado e satisfeito, as suas estradas e ruas macadamizadas e cuidadas, nem mesmo se encontram aqueles jardins, cuidadinhos, aparadinhos, penteados, porque os nossos, se os há, são em geral pobres, feios e desleixados.
Os cuidados municipais também são variáveis e caprichosos. Às vezes, nas ruas, há passeios, em certas partes e outras não; algumas vias de comunicação são calçadas e outras da mesma importância estão ainda em estado de natureza. Encontra-se aqui um pontilhão bem cuidado sobre o rio seco e passos além temos que atravessar um ribeirão sobre uma pinguela de trilhos mal juntos.
Há pelas ruas damas elegantes, com sedas e brocados, evitando a custo que a lama ou o pó lhes empanem o brilho do vestido; há operários de tamancos; há peralvilhos à última moda; há mulheres de chita; e assim pela tarde, quando essa gente volta do trabalho ou do passeio, a mescla se faz numa mesma rua, num quarteirão, e quase sempre o mais bem posto não é que entra na melhor casa.
Além disto, os subúrbios têm mais aspectos interessantes, sem falar no namoro epidêmico e no espiritismo endêmico; as casas de cômodos (quem as suporia lá!) constituem um deles bem inédito. Casas que mal dariam para uma pequena família, são divididas, subdivididas, e os minúsculos aposentos assim obtidos, alugados à população miserável da cidade. Aí, nesses caixotins humanos, é que se encontra a fauna menos observada da nossa vida, sobre a qual a miséria paira com um rigor londrino.
Não se podem imaginar profissões mais tristes e mais inopinadas da gente que habita tais caixinhas. Além dos serventes de repartições, contínuos de escritórios, podemos deparar velhas fabricantes de rendas de bilros, compradores de garrafas vazias, castradores de gatos, cães e galos, mandingueiros, catadores de ervas medicinais, enfim, uma variedade de profissões miseráveis que as nossas pequena e grande burguesias não podem adivinhar. Às vezes num cubículo desses se amontoa uma família, e há ocasiões em que os seus chefes vão a pé para a cidade por falta do níquel do trem.
Ricardo Coração dos Outros morava em uma pobre casa de cômodos de um dos subúrbios. Não era das sórdidas, mas era uma casa de cômodos dos subúrbios.
Desde anos que ele a habitava e gostava da casa que ficava trepada sobre uma colina, olhando a janela do seu quarto para uma ampla extensão edificada que ia da Piedade a Todos os Santos. Vistos assim do alto, os subúrbios têm a sua graça. As casas pequeninas, pintadas de azul, de branco, de oca, engastadas nas comas verde-negras das mangueiras, tendo de permeio, aqui e ali, um coqueiro ou uma palmeira, alta e soberba, fazem a vista boa e a falta de percepção do desenho das ruas põe no panorama um sabor de confusão democrática, de solidariedade perfeita entre as gentes que as habitam; e o trem minúsculo, rápido, atravessa tudo aquilo, dobrando à esquerda, inclinando-se para a direita, muito flexível nas suas grandes vértebras de carros, como uma cobra entre pedrouços.
Era daquela janela que Ricardo espraiava as suas alegrias, as suas satisfações, os seus triunfos e também os seus sofrimentos e mágoas.
Ainda agora estava ele lá, debruçado no peitoril, com a mão em concha no queixo, colhendo com a vista uma grande parte daquela bela, grande e original cidade, capital de um grande país, de que ele a modos que era e se sentia ser, a alma, consubstanciando os seus tênues sonhos e desejos em versos discutíveis, mas que a plangência do violão, se não lhes dava sentido, dava um quê de balbucio, de queixume dorido da pátria criança ainda, ainda na sua formação."
"Os subúrbios do Rio de Janeiro são a mais curiosa coisa em matéria de edificação da cidade. A topografia do local, caprichosamente montuosa, influiu decerto para tal aspecto, mais influíram, porém, os azares das construções.
Nada mais irregular, mais caprichoso, mais sem plano qualquer, pode ser imaginado. As casas surgiram como se fossem semeadas ao vento e, conforme as casas, as ruas se fizeram. Há algumas delas que começam largas como boulevards e acabam estreitas que nem vielas; dão voltas, circuitos inúteis e parecem fugir ao alinhamento reto com um ódio tenaz e sagrado.
Às vezes se sucedem na mesma direção com uma freqüência irritante, outras se afastam, e deixam de permeio um longo intervalo coeso e fechado de casas. Num trecho, há casas amontoadas umas sobre outras numa angústia de espaço desoladora, logo adiante um vasto campo abre ao nosso olhar uma ampla perspectiva.
Marcham assim ao acaso as edificações e conseguintemente o arruamento. Há casas de todos os gostos e construídas de todas as formas.
Vai-se por uma rua a ver um correr de chalets, de porta e janela, parede de frontal, humildes e acanhados, de repente se nos depara uma casa burguesa, dessas de compoteiras na cimalha rendilhada, a se erguer sobre um porão alto com mezaninos gradeados. Passada essa surpresa, olha-se acolá e dá-se com uma choupana de pau-a-pique, coberta de zinco ou mesmo palha, em torno da qual formiga uma população; adiante, é uma velha casa de roça, com varanda e colunas de estilo pouco classificável, que parece vexada e querer ocultar-se diante daquela onda de edifícios disparatados e novos.
Não há nos nossos subúrbios coisa alguma que nos lembre os famosos das grandes cidades européias, com as suas vilas de ar repousado e satisfeito, as suas estradas e ruas macadamizadas e cuidadas, nem mesmo se encontram aqueles jardins, cuidadinhos, aparadinhos, penteados, porque os nossos, se os há, são em geral pobres, feios e desleixados.
Os cuidados municipais também são variáveis e caprichosos. Às vezes, nas ruas, há passeios, em certas partes e outras não; algumas vias de comunicação são calçadas e outras da mesma importância estão ainda em estado de natureza. Encontra-se aqui um pontilhão bem cuidado sobre o rio seco e passos além temos que atravessar um ribeirão sobre uma pinguela de trilhos mal juntos.
Há pelas ruas damas elegantes, com sedas e brocados, evitando a custo que a lama ou o pó lhes empanem o brilho do vestido; há operários de tamancos; há peralvilhos à última moda; há mulheres de chita; e assim pela tarde, quando essa gente volta do trabalho ou do passeio, a mescla se faz numa mesma rua, num quarteirão, e quase sempre o mais bem posto não é que entra na melhor casa.
Além disto, os subúrbios têm mais aspectos interessantes, sem falar no namoro epidêmico e no espiritismo endêmico; as casas de cômodos (quem as suporia lá!) constituem um deles bem inédito. Casas que mal dariam para uma pequena família, são divididas, subdivididas, e os minúsculos aposentos assim obtidos, alugados à população miserável da cidade. Aí, nesses caixotins humanos, é que se encontra a fauna menos observada da nossa vida, sobre a qual a miséria paira com um rigor londrino.
Não se podem imaginar profissões mais tristes e mais inopinadas da gente que habita tais caixinhas. Além dos serventes de repartições, contínuos de escritórios, podemos deparar velhas fabricantes de rendas de bilros, compradores de garrafas vazias, castradores de gatos, cães e galos, mandingueiros, catadores de ervas medicinais, enfim, uma variedade de profissões miseráveis que as nossas pequena e grande burguesias não podem adivinhar. Às vezes num cubículo desses se amontoa uma família, e há ocasiões em que os seus chefes vão a pé para a cidade por falta do níquel do trem.
Ricardo Coração dos Outros morava em uma pobre casa de cômodos de um dos subúrbios. Não era das sórdidas, mas era uma casa de cômodos dos subúrbios.
Desde anos que ele a habitava e gostava da casa que ficava trepada sobre uma colina, olhando a janela do seu quarto para uma ampla extensão edificada que ia da Piedade a Todos os Santos. Vistos assim do alto, os subúrbios têm a sua graça. As casas pequeninas, pintadas de azul, de branco, de oca, engastadas nas comas verde-negras das mangueiras, tendo de permeio, aqui e ali, um coqueiro ou uma palmeira, alta e soberba, fazem a vista boa e a falta de percepção do desenho das ruas põe no panorama um sabor de confusão democrática, de solidariedade perfeita entre as gentes que as habitam; e o trem minúsculo, rápido, atravessa tudo aquilo, dobrando à esquerda, inclinando-se para a direita, muito flexível nas suas grandes vértebras de carros, como uma cobra entre pedrouços.
Era daquela janela que Ricardo espraiava as suas alegrias, as suas satisfações, os seus triunfos e também os seus sofrimentos e mágoas.
Ainda agora estava ele lá, debruçado no peitoril, com a mão em concha no queixo, colhendo com a vista uma grande parte daquela bela, grande e original cidade, capital de um grande país, de que ele a modos que era e se sentia ser, a alma, consubstanciando os seus tênues sonhos e desejos em versos discutíveis, mas que a plangência do violão, se não lhes dava sentido, dava um quê de balbucio, de queixume dorido da pátria criança ainda, ainda na sua formação."
29.12.14
Ontem alguém me disse que estou "perdendo tempo" ao fazer
pós-doutorado, oferecendo gentilmente a alternativa de passar num
concurso de fiscal da receita estadual como equivalente de "ganhar
tempo", isto é, dinheiro. Confessei-lhe então (hélas, somente em pensamento) que sempre prefiro ser a ter,
sobretudo se para ter for necessário o estômago de um búfalo.
11.12.14
2.9.14
Já estou conformado com a perspectiva de ser governado pelo Tea Party de soja. Em São Paulo, sobretudo, o Opus Dei e a Assembleia de Deus lideram as pesquisas entre o coxinhismo. Ultraliberalismo (na versão sustentável), Bíblia (na tradução crente) e sustentabilidade (em vulgar: juros não poluem) nos redimirão dos excessos distributivos do comunismo ateu e nos libertarão para sempre da sanha vermelha, revelando novamente a verdade eterna da livre iniciativa de concentrar renda.
15.5.14
Excelente
miniconto policial com fortes (voluntárias?) ressonâncias bandeirianas
no Correio da Manhã de 15 de setembro de 1953, p. 3:
"Valentias" do "João Grande"
Durval Agostinho de Sá, de 24 anos, solteiro, operário, residente na rua São Henrique, n. 267, foi agredido a pau, na tarde de ontem, na feira de Cordovil, por um indivíduo da alcunha de João Grande, com o qual tinha uma rixa antiga. O agredido conseguiu fugir, após sofrer ferimentos superficiais. Encontrara-se, porém, o agressor com o pai da vítima, Antônio Agostinho de Sá, de 87 anos, operário, residente na rua Álvaro Macedo, n. 425, e com o mesmo travou forte discussão, durante a qual João Grande sacou de uma faca, ferindo a sua nova vítima na face esquerda. Em socorro do agredido acorreu o filho Jorge César de Sá, de 28 anos, casado, operário, residente na Parada Angélica, sem número, o qual também recebeu ferimento, a faca, na mão esquerda. Foram socorridos no Hospital Getúlio Vargas, e aí receberam os necessários curativos. O agressor fugiu. A polícia do 21o. Distrito Policial encetou as necessárias diligências.
"Valentias" do "João Grande"
Durval Agostinho de Sá, de 24 anos, solteiro, operário, residente na rua São Henrique, n. 267, foi agredido a pau, na tarde de ontem, na feira de Cordovil, por um indivíduo da alcunha de João Grande, com o qual tinha uma rixa antiga. O agredido conseguiu fugir, após sofrer ferimentos superficiais. Encontrara-se, porém, o agressor com o pai da vítima, Antônio Agostinho de Sá, de 87 anos, operário, residente na rua Álvaro Macedo, n. 425, e com o mesmo travou forte discussão, durante a qual João Grande sacou de uma faca, ferindo a sua nova vítima na face esquerda. Em socorro do agredido acorreu o filho Jorge César de Sá, de 28 anos, casado, operário, residente na Parada Angélica, sem número, o qual também recebeu ferimento, a faca, na mão esquerda. Foram socorridos no Hospital Getúlio Vargas, e aí receberam os necessários curativos. O agressor fugiu. A polícia do 21o. Distrito Policial encetou as necessárias diligências.
20.4.14
19.4.14
"Lembro, enfim, que tempos atrás ele estava em Zurique e que foi apanhado por uma tormenta de neve.
Para escapar dela, entrou num bar de fim de tarde. E contou para um de seus irmãos: 'Tudo estava em penumbra. Um homem tocava piano para casais de namorados. E entendi que eu queria ter sido aquele homem que tocava sem que ninguém visse o seu rosto. Tocava só para que os namorados se amassem mais.'"
(Eric Nepomuceno sobre García Márquez)
Para escapar dela, entrou num bar de fim de tarde. E contou para um de seus irmãos: 'Tudo estava em penumbra. Um homem tocava piano para casais de namorados. E entendi que eu queria ter sido aquele homem que tocava sem que ninguém visse o seu rosto. Tocava só para que os namorados se amassem mais.'"
(Eric Nepomuceno sobre García Márquez)
25.3.14
O
cara que estava na minha frente na fila para sacar o FGTS na Caixa era a
cara do Bolsonaro. Já no atendimento, na mesa ao lado um casal de
funcionários do Bradesco se rendia ao petralhismo habitacional - e
recebia sinceros parabéns das pessoas que os escorcharão de juros pelos
próximos trinta anos. Enquanto isso, os seguranças cochichavam pelos
fones e davam risadinhas às custas de todos.
1.3.14
Desde 2006 que venho ajuntando mp3 (já vinha antes, mas naquele annus
horribilis aconteceu o Grande Colapso do Meu HD e perdi tudo), e agora
passei de 50 mil músicas na coleção. Não que me orgulhe disso (além de
tudo incorro em pesado crime de direitos autorais), mas fiquei pensando
na trabalheira danada que deu reunir esse montão de música. Porque: 1. É
preciso baixar; 2. É preciso converter o que foi baixado no item 1
(porque só baixo, claro "loseless audio"); 3. É preciso dividir em faixas o convertido no item 2; 4. É preciso adicionar informações de compositor e álbum ao que foi dividido no item 4; e 5. Transferir para o iPod, se é o caso.
Realmente, muitas horas de voo com a belonave pirata nestes últimos oito anos. Mas o lado bom é que tenho música para ouvir sem repetição por mais de 150 dias, sei lá, se for obrigado a me exilar nalgum rincão dominado por facções armadas do funk ou do sertanejo.
Realmente, muitas horas de voo com a belonave pirata nestes últimos oito anos. Mas o lado bom é que tenho música para ouvir sem repetição por mais de 150 dias, sei lá, se for obrigado a me exilar nalgum rincão dominado por facções armadas do funk ou do sertanejo.
4.11.13
Faz
dois meses que leio os jornais de 1964 praticamente todos os dias para
um trabalho de pesquisa, e fico a cada edição mais chocado com a
semelhança entre a
atual retórica antiPT e antipobre e o que se escrevia contra a
"subversão" e a "corrupção" janguista no vitorioso PiG da época,
lacerdo-udenista e "linha dura" desde
criancinha e firme-forte cinquenta anos depois. Hoje mesmo, li por acaso
as primeiras cinco palavras de um
artigo do mané e PiGsmarschall Pondé, de que no quiero acordarme, que
parece zolamente
acusar as universidades públicas (claro, as dominadas pelo mensalão do
PT; as universidades privadas, em especial a da igreja que emprega o mané, continuam a combater destemidas o comunismo ateu) de propagarem em nosso direito país a malvada (Stálin matou tantos
milhões, Mao mais um montão etc.; nunca citar os zilhões mortos pela
fome e pelas guerras capitalistas) doutrina marxista, citando dois
jovens
conhecidos que até largaram cursos de humanas por não suportar a
doutrinação e o búlim ideológico dos colegas e professores
soviético-castristas. Bem, a única cousa que se pode recomendar aos
assustadiços estudantes democráticos - assim eram chamados e
homenageados os que caçavam supostos comunistas ("totalitários") a
porrete - é que parem de ler Pondé e se concentrem em pesquisar bons
argumentos para debater e bater no marxismo em sala. Mas é inútil: seria
o mesmo que pedir à Marina que renegasse a superstição itaúnica e
aceitasse, enfim, a Suprema Verdade Darwinista. Inútil: a direita
rentista e proprietária jamais perdoará o Homem de Trier por ter
desnudado o rei. A história, assim,
se repete como farsa, mas atenção, as armas brandidas em cena
continuam não sendo
de festim.
22.10.13
Hoje
no meio do mato conversei com dois pássaros desconhecidos - sou
ignorante demais das coisas do cerrado para saber-lhes o nome. Ao longo
de quase dez minutos, imitei com assovios de três notas em sequência
ascendente - cerca de meio semitom cada intervalo - a arenga tristalegre
do primeiro. Bastou para que um número 2 inesperadamente bem-vindo
puxasse conversa comigo e com o pioneiro. Ficamos então papeando mais um
tempo, enquanto eu fotografava o nada, pensava em diversas cousas e
assoviava como quem respira, ora subindo um pouco o diapasão para testar
o efeito, ora ficando em silêncio para provocar os interlocutores. Foi
quando me lembrei do primeiro verso de um poema que escrevi aos 15 anos,
bobinho, assim: "O pio do pássaro irrompe no caos". Logo depois, tive
de correr de um bicho que agitou as folhas do mato qual grande onça ou
cateto, acelerando quando vinha mais perto uma chuva de nuvens repentinas que ameaçava me encharcar e,
talvez, me eletrocutar em pleno êxtase poético.
23.8.13
Do "Dicionário definitivo" (1961), do Millôr:
Chato - Indivíduo que tem mais interesse em nós do que nós temos nele.
Crítico - A solteirona das artes.
Depoimento - Isso que a gente presta, antes, durante ou depois de apanhar pra burro.
Gargalhada - Um sorriso que estourou.
Medo - A coragem com tremedeira.
Meteorologista - Sujeito que hoje diz uma coisa e amanhã diz outra.
Pileque - Ocasião em que sentimos uma bruta solidariedade mas não conseguimos pronunciar a palavra.
Pontual - Alguém que resolveu esperar muito.
Revisor - Sujeito cuja profissão é um erro.
São Jorge - O John Wayne do céu.
Tarado - Um cara normal que foi apanhado no ato.
Vizinho - Sujeito que fica acordado de mau humor imaginando a que horas o diabo desse nosso barulho vai parar.
Chato - Indivíduo que tem mais interesse em nós do que nós temos nele.
Crítico - A solteirona das artes.
Depoimento - Isso que a gente presta, antes, durante ou depois de apanhar pra burro.
Gargalhada - Um sorriso que estourou.
Medo - A coragem com tremedeira.
Meteorologista - Sujeito que hoje diz uma coisa e amanhã diz outra.
Pileque - Ocasião em que sentimos uma bruta solidariedade mas não conseguimos pronunciar a palavra.
Pontual - Alguém que resolveu esperar muito.
Revisor - Sujeito cuja profissão é um erro.
São Jorge - O John Wayne do céu.
Tarado - Um cara normal que foi apanhado no ato.
Vizinho - Sujeito que fica acordado de mau humor imaginando a que horas o diabo desse nosso barulho vai parar.
19.6.13
27.3.13
O Templo. Rua Francisco Otaviano, 33, no Leme.
O prédio - em qual andar e apartamento? Séria falha de caráter, eu não sabê-los - onde todos os livros do Rosa (à exceção de Sagarana) foram escritos e onde o escritor cordisburguense viveu durante mais de quinze anos, até morrer aos 59. A vetusta árvore torta do jardim viu e ouviu tudo...
Alô, alô, Dilma, Marta, Mercadante, Paes e Cabral! Por que não desapropriar o imóvel inteiro, restaurá-lo (retirando essas horrendas grades da frente) e declará-lo sede do novo Instituto Guimarães Rosa, congênere brasuca do Camões português, do Cervantes espanhol, do Goethe tudesco, do chim Confúcio etc.? Ou, mais modestamente e sem delírios messiânicos, um simpático museu de literatura?
Antes que o derrubem para construir algo mais envidraçado e adequado à vizinhança de um Pizza Hut e de um ex-bingo.
14.1.13
29.12.12
Pequeno glossário do século XXI
austeridade = pau no pobre
domínio do fato = apodreçam na cadeia, seus malditos petistas!
ensaio sensual = só aparecem, no máximo, os peitos
excesso de veículos = falta de metrô
família = dois ou mais votos
mma = vale-tudo, pra valer
pet = cachorro, gato, papagaio etc., pôrra!
ponto de alagamento = rua cheia de merda
praia imprópria para banho = praia cheia de merda
sustentabilidade = hahahahahaha
domínio do fato = apodreçam na cadeia, seus malditos petistas!
ensaio sensual = só aparecem, no máximo, os peitos
excesso de veículos = falta de metrô
família = dois ou mais votos
mma = vale-tudo, pra valer
pet = cachorro, gato, papagaio etc., pôrra!
ponto de alagamento = rua cheia de merda
praia imprópria para banho = praia cheia de merda
sustentabilidade = hahahahahaha