22.10.13

Hoje no meio do mato conversei com dois pássaros desconhecidos - sou ignorante demais das coisas do cerrado para saber-lhes o nome. Ao longo de quase dez minutos, imitei com assovios de três notas em sequência ascendente - cerca de meio semitom cada intervalo - a arenga tristalegre do primeiro. Bastou para que um número 2 inesperadamente bem-vindo puxasse conversa comigo e com o pioneiro. Ficamos então papeando mais um tempo, enquanto eu fotografava o nada, pensava em diversas cousas e assoviava como quem respira, ora subindo um pouco o diapasão para testar o efeito, ora ficando em silêncio para provocar os interlocutores. Foi quando me lembrei do primeiro verso de um poema que escrevi aos 15 anos, bobinho, assim: "O pio do pássaro irrompe no caos". Logo depois, tive de correr de um bicho que agitou as folhas do mato qual grande onça ou cateto, acelerando quando vinha mais perto uma chuva de nuvens repentinas que ameaçava me encharcar e, talvez, me eletrocutar em pleno êxtase poético.