23.5.12

Quando dei à minha tese o subtítulo "atlas fotográfico", somando um aspecto conspícuo do trabalho a outro, ainda não sabia que os temas dos atlas fotográficos mais frequentes nas livrarias, bibliotecas e internetes correspondem exatamente às terceiras metades da Ideia toda: anatomia humana (ou histologia, fisiologia, zoologia, botânica etc.) e astronomia (os planetas e a Via Láctea).

20.5.12

Personal Xiros

Neste maio tive uma experiência aero-marítimo-terrestre equivalente à do comissário de bordo protagonista de "A ilha do meio-dia", conto do bom e velho Julio (Todos os fogos o fogo):

"[...] quando no oval azul da janela entrou o litoral da ilha, a franja dourada da praia, as colinas que subiam em direção ao planalto desolado. Marini sorriu para a passageira, corrigindo a posição defeituosa do copo de cerveja. 'As ilhas gregas', disse. 'Oh, yes, Greece', respondeu a americana com um falso interesse. Um som breve de campainha e o comissário de bordo se ergueu, sem que o sorriso profissional se apagasse de sua boca de lábios finos. [...] A ilha era pequena e solitária, e o Egeu a cercava com um azul intenso que ressaltava a orla de um branco deslumbrante e como que petrificado, que lá embaixo seria espuma rompendo nos recifes e nas enseadas. Marini percebeu que as praias desertas corriam em direção ao norte e ao oeste, o resto eram montanhas que entravam abruptamente no mar. Uma ilha rochosa e deserta, se bem que a mancha cor de chumbo perto da praia do norte pudesse ser uma casa, talvez um grupo de casas primitivas. Começou a abrir a lata de suco e ao erguer-se a ilha desapareceu da janela: sobrou apenas o mar, um verde horizonte interminável."

Minha última viagem ao Tocantins. Já bem perto do aeroporto da chegada, aí pelas 17h, vi pela janela estas duas pequenas enseadas, banhadas de sol na margem esquerda do lago. Há tempos as cobiçava como troféus faltantes em minha carreira de ciclista-fotógrafo contemplativo - talvez sejam as únicas reentrâncias não fluviais daquele litoral interior tão fluvialmente regular. Sabia pelo mapa gúglico que lá haveria boas photo-ops.


Pouco antes das 17h daquele mesmo dia da semana na semana seguinte, e após diversas peripécias no trajeto, logrei alcançar minha personal ilha de Xiros. Surpreso - pois ainda não havia me lembrado de Cortázar -, quando tirava a fotografia abaixo ouvi, e vi,  logo acima de mim, um avião da mesma linha aérea baixando pelo rumo do pouso. Até distingui as janelinhas, bem nítidas.


E me vi me vendo. Disso, felizmente, não restou registro.