26.1.12

O que houve em Rondônia?

 
E a Kátia "Pega no Meu" Abreu quer mais, muito mais.

O que houve em Pinheirinho?

Ficam ali caracterizadas as responsabilidades de quem faltou com seus deveres e recorreu à arbitrariedade
 

A ação realizada pelo governo paulista por intermédio de sua Polícia Militar em Pinheirinho, São José dos Campos, usou o nome técnico de "reintegração de posse". Algum juiz chamaria, com base no direito que aprendeu, de reintegração de posse o que houve em Pinheirinho? Ou haveria como fazê-lo com base nos artigos e princípios reunidos pela Constituição?
Se o nome técnico de reintegração de posse é insuficiente para designar a ação realizada em Pinheirinho, o que houve lá, com a utilização abusiva de um mandado judicial, ato tecnicamente legítimo de um magistrado?
O ataque foi às seis da manhã. Para surpreender, como se deu, os ocupantes da ex-propriedade de Naji Nahas ainda dormindo ou nos seus primeiros afazeres pessoais.
O governo Alckmin e o prefeito de São José dos Campos, ainda que há muito sabedores de que a reclamada reintegração exigiria a instalação das 2.000 famílias desalojadas, não incomodaram nesse sentido o seu humanitarismo de peessedebistas.
Sair para onde? -Eis o impulso da resistência dos mais inconformados ou menos subjugados pelos séculos de história social que lhes cabe representar.
Não posso dizer o que acho que devessem fazer já à primeira brutalidade covarde da polícia. Seja, porém, o que for que tenham feito, o direito de defesa está na Constituição como integrante legítimo da cidadania. E se foi utilizado, duas razões o explicam.
Uma, a ação policial de maneiras e formas não autorizadas pelo mandado de reintegração de posse, por inconciliáveis com os limites legais da ação policial.
Segunda razão, a absoluta inexistência das alternativas de moradia que o governo Alckmin e o prefeito Eduardo Cury tinham a obrigação funcional e legal de entregar aos removidos, para não expulsar, dos seus forjados tetos para o danem-se, crianças, idosos, doentes, as famílias inteiras que viviam em Pinheirinho há oito anos.
Atendidas essas duas condições, só os que perdessem o juízo prefeririam ficar na área ocupada, e alguns até resistirem à saída. Logo, ficam ali caracterizadas as responsabilidades de quem faltou com seus deveres e, por ter faltado, recorreu à arbitrariedade plena: tiros e vítimas de ferimentos, surras com cassetetes e partes de armamentos (mesmo em pessoas de mãos elevadas, indefesas e passivas, como documentado); destruição não só das moradas, mas dos bens -perdão, bem nenhum- das posses mínimas que podem ter as pessoas ainda carentes de invasões para pensar que moram em algum lugar.
O que houve em Pinheirinho, São José dos Campos, SP, não foi reintegração de posse.
Essa expressão do direito não se destina a acobertar nem disfarçar crimes. Entre eles, o de abuso de poder contra governados.
(Janio de Freitas)

22.1.12



De um excelente sítio evangélico.
Outro dia baixei um filme "pornô feminista" de uma famosa e premiada diretora sueca. Na essência, é igualzinho ao tradicional "pornô machista", mas há muito mais blablablá entre uma cena de sexo e outra - e, durante a coisa, se não é entre duas amigas, as mulheres quase sempre ficam por cima. Ademais, no final há uma cena de qualiragem entre baitolas depilados e de brinco - acho que para ressaltar o efeito de desvirilização planejado. Em suma, não vale nem meia bronha.

21.1.12

Lendo em série vários textos do Roberto Schwarz sobre Machado de Assis, entendi porque ele quase não fala de Guimarães Rosa: o materialismo dialético que serve tão bem à "viravolta" de Brás Cubas fica literalmente sem chão ao pé de um buriti fluente em Plotino.

19.1.12

Eu, hein

Esta besta página de bobices corre sério perigo. O google agora pede no login que se forneça um número de telefone celular "por razões de segurança" - de quem, não fica bem claro. Deve ser para rastrear a localização de blogueiros que dão receitas de bombas caseiras e soltar um personal missile na cabeça deles. Dei um número inventado, mas não sei por quanto tempo vão acreditar (e espero que minha vítima aleatória entenda a situação). Assim, se eu subitamente desaparecer é porque fui sequestrado por um comando SEAL e levado para alguma escola de reeducação moral e cívica no Bible Belt.

15.1.12

Eu já sabia

"Li muitos livros de cavalaria quando era menino, e, por volta dos 14 anos, entusiasmei-me com Ber­nardim (Bernardim Ri­beiro), e depois até com Camilo. Ainda continuo a gostar de Ca­milo, mas quem releio permanentemente é Eça de Queiroz (quando tenho uma gripe, faz mesmo parte da convalescença ler Os Maias); este ano já reli quase todo O crime do padre Amaro e parte da Ilustre casa de Ramires. Camilo, leio-o como quem vai visitar o avô; Eça, leio-o como quem vai visitar a amante."

JGR em entrevista a Arnaldo Saraiva, 1966

13.1.12

True grit (perdão, mas Bravura indômita soa tolo, conquanto não seja muito distante do sentido original) é o melhor faroeste a que já assisti. É verdade que não sou propriamente um veterano no gênero, mas os irmãos Coen conseguiram fazer um filme ao mesmo tempo sujo, violento, macho, sensível, comovente e sublime: grande.

11.1.12

Comecei a ler O amante de Lady Chatterley e não consegui passar da quinquagésima página: a prosa, o enredo e os personagens me pareceram tão bestas e tão perfeitamente adequados a uma paródia em filme pornô que achei melhor reler Esaú e Jacó. Certos livros só entram para o cânone porque são escritos em inglês.
Enquanto seo Melancolia não vem, descubro que a gravação de Le nozze di Figaro realizada em 1968 por Karl Böhm (com Hermann Prey, Edith Mathis, Gundula Janowitz e grande elenco) é ainda melhor que a de Carlo Maria Giulini (1961), que até agora ocupava meu topo das tops. O time feminino é fenomenal, a orquestra canta junto, transfigurada em instrumento único, e o Figaro de Prey é o mais bem-humorado que já ouvi.

Planeta Melancolia, por que tanto tardas?

"Enquanto o atendimento de saúde do complexo não fica pronto, a prefeitura vai oferecer no local a possibilidade de os dependentes químicos tomarem banho, dirigirem-se ao albergue para alimentação e descanso e, nas palavras da vice-prefeita, 'se distraírem'. 'São várias armas [para tirar os viciados das ruas]. A bola [de futebol] é uma mágica. A bola funciona com quase todos. Temos todos os joguinhos que têm nos bares de São Paulo. Pebolim é muito querido. Tênis de mesa, menos, mas também [é querido]. E temos jogos de tabuleiro', descreve a vice-prefeita."

9.1.12

O que mais me envergonha, revolta, consterna e enoja nem é tanto a truculência racista do pm que agrediu o coitado do menino no dce da usp - algo previsível quando a opus dei está no poder -, mas o uol dar a notícia com um "suposto" na frente de "estudante da usp" quando se vê no vídeo o próprio aluno se identificando, e que no texto está escrito que foram apresentadas duas carteirinhas como prova - como se fosse necessário ser estudante para estar naquele local público, como se fosse necessário ser considerado branco para não ser suspeito de qualquer coisa, para não apanhar e ser xingado. Que país de merda este nosso, que polícia de merda, que imprensa de merda. Planeta Melancolia, venha logo.

8.1.12

Em algumas semanas vão reeditar um capítulo do Verdade tropical numa espécie de livrinho semididático. Porque vou escrever a quarta capa, estou sendo obrigado a ler o caetânico bagulho. Que digo? "Bagulho" é bondade excessiva. É um troço escabrosamente narcisístico, pedante, balofo, pretensioso, abominável, mal escrito - ruim de doer. Não é à toa que o cara está ficando a cara do fhc enquanto envelhece. Para me desintoxicar, ouço "Nega" com Gil e Ben. Na raiz, limpa o corpo humano.

5.1.12

Os preclaros governos paulista e paulistano ora apostam em "dor e sofrimento" para expulsar os craqueiros de seu histórico habitat nos Campos Elíseos. Que vontade de me juntar aos separatistas bandeirantes.

4.1.12


Talvez não seja a melhor versão da Flauta, mas foi a primeira a que assisti em vídeo, gravado em vhs a partir de uma precária transmissão da TVE do Rio em 91 (caramba, há mais de 20 anos?), e que me fez gostar de ópera (de Mozart e Monteverdi, todas as outras são chatas). O certo é que esta Pamina (Edith Mathis) é perfeita, insuperável - e uma das minhas primeiras namoradas.

3.1.12

Hora de voltar

Noite passada sonhei que chegava a São Paulo, pegava um táxi em Congonhas e... não sabia mais meu próprio endereço.

2.1.12

Acabei de ler Deus, um delírio, do Richard Dawkins - que ganhei, vede só, de presente de natal.
Pareceu-me que o livro, conquanto divertido aqui e ali, não passa de uma catilinária meio delirante contra o sobrenatural e a religião. Não que essas cousas sejam respeitáveis - odeio e quase sempre escarneço tudo que se aproxime de padres, templos, êxtases, dogmas e dízimos (embora leia horóscopos para me precaver de las brujas) -, mas o cara claramente despiroca. Afinal, escrever 500 páginas para tentar provar que os deuses não existem não seria respeitá-los em excesso? Tudo bem, é certo que as cousas andam mal no mundo anglo-saxônico - embora britânico, o autor prega mesmo para o público ianque, que nas próximas eleições votará en masse nos crentes entusiastas do extermínio de gays, ateus, bolivarianos e demais endemoniados -, e um pouco de descrença e laicidade seria muito bem-vindo por lá. Mas, a despeito de não manjar nada de biologia evolucionista, achei que os argumentos fornecidos com base em Darwin carecem de fundamentação científica, são simples suposições meio common sense, meio wishful thinking: afirmações sem provas - tal como os dogmas combatidos, e com retórica menos atraente.
Talvez bastasse sair pichando "Cachorros foderam o Papa" por aí.